terça-feira, 7 de maio de 2013

51 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE GUAMARÉ


GUAMARÉ



Como o tempo corre depressa
Na correnteza do Rio Aratuá
Levando embora minha meninice
Fazendo-me hoje recordar
Das minhas alegres travessuras
Com Polyanna-Menina a brincar

Tempo feliz que passou
O que eu vivi em Guamaré
Eu e o finado Botinho
Que era o meu primo de fé
Éramos companheiros de aventuras
Para nós não existia marcha ré

Tia Luiza Barbosa era tão boa
Tia Baíca, mãe de Luiz
Homem de coração bom
Mas de cabelos no nariz
Nem mesmo em sua Guamaré
Conseguiu ele ser feliz

Tia Ana Bahia e Tia Antonia de Abílio
Finado Jairo, Zé Bolinha e Lampião
Saudades eu tenho das peladas
Que com eles só terminavam em confusão
Saudades de Mazinho de Iva
Que é um grande amigão

Mário de Lucila e Nêgo Gerson
Os nossos mergulhos no Minhoto
Erivan de Rosemiro, Naldinho, Tontom e Ronaldo
Eta sujeitinho mega-escroto
Biratan e Barrão são bons sujeitos
Mas a bebida os coloca nos esgotos

Em Guamaré fui tão feliz
Ao lado de minha mãe, João e Severino Calixto
Foi lá que dei vazão aos meus sentimentos
E ao tempo e a idade eu resisto
E é por amor a velha Ilha dos Gatos
Que hoje eu sei que existo

Vivi muito tempo no Bar do Careca
Participei de muitas confusões
Bastinho e minha irmã Maria
Acolheram-me com seus corações
E no bar eu era um leão-de-chácara
Expulsando do forró os valentões

Foi na seresta no Bar de Dedé de Célia
Bem em frente à prefeitura
Na noite de 04 de agosto de 89
Que nasceu em uma noite escura
O amor entre eu e Leda
Que conheci como uma doce criatura

Guamaré das minhas alegrias
Guamaré das minhas felicidades
Guamaré das minhas fantasias
Guamaré das belas tardes
Guamaré cidade que eu amo,
para mim a mais bela das cidades.

Autor: Gonzaga Filho

MIRAGEM



 Na hora do ângelus.
O sol esconde-se no horizonte.
Maré de vazante.

Sento-me na areia da praia salpicada por conchas de búzios, fico a observar o Rio Aratuá seguindo lentamente com sua majestosa correnteza, entre o cais e o mangue.

Rio bonito. Rio Aratuá indo em busca do grande encontro com as belas ondas do mar, não sem antes beijar as areias da Praia do Presídio estendida ao seu lado, demonstrando toda a sua beleza e sensualidade.

Ao longe ouço a Ave Maria de Gounod. Sons melodiosos que vem de algum rádio, de alguém que acredita nos seres celestiais. Escurece e o céu é ornado pelo dourado das estrelas, o som das marolas batendo nos costados das canoas e dos barcos de pesca que estão ancorados no rio. Torna-se um cenário melancólico, é como se Manet tivesse pego os seus pincéis e tivesse pintado tão belo quadro.

De repente transporto-me a um passado não um tanto remoto; época em que meus avós e meus tios desfrutavam da vida de uma Guamaré, pacata vila de pescadores. Época em que o progresso não tinha interferido na vida dos nativos. Todos se conheciam e participavam das festas e folguedos existentes na cidade e organizados pelos próprios moradores.

É como se eu estivesse vendo Guamaré ainda virgem, intocada, sem o cais de pedra da Petrobrás e que tinha a beleza natural dos manguezais preservada, rios sem poluição, as belas dunas da Penha onde íamos pegar água de beber em suas cacimbas de águas cristalinas.

Ao invés de lanchas e rebocadores barulhentos, lançando fuligem e fumaça de óleo diesel no céu de minha cidade; tínhamos os botes da aguada, os botes de pescaria carregados de Voadores e Dourados, singrando silenciosamente o rio até o atracadouro em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Ah! Guamaré, quantas mudanças.

Perdeu o charme e o romantismo de cidade pequena, com o bate papo na calçada do mercado e deu lugar a uma mistura de sotaques de diversas regiões do Brasil e até mesmo de outros países. Ninguém se cumprimenta mais, os costumes e as tradições do seu povo feliz e hospitaleiro estão se perdendo no tempo e dando lugar a novos costumes e novos conceitos de vida trazidos pelos “forasteiros” que invadem a cidade em busca de uma melhor condição de vida.

Guamaré, o eldorado petrolífero.
Guamaré, antiga ilha dos gatos.
Guamaré que já se chamou Aguamaré, mas que apesar de tantas mudanças, eu continuo te amando, pelas belezas dos teus rios e manguezais e pela forma simples dos teus filhos conciliarem toda essa transformação tão abrupta.

De repente, um idiota estaciona em frente ao Bar do Cobal, abre a mala do carro e coloca um CD de axé-music aumentando o volume ao máximo, me tirando dos meus devaneios e, a minha Guamaré tão querida que eu gostaria  que ainda existisse, sumiu, desapareceu como miragem, trazendo-me a realidade.

Levanto-me e caminho em direção ao calçadão. Caminho cabisbaixo sobre a negra serpente asfáltica em que se transformaram as ruas de Guamaré.

Autor: Gonzaga Filho

MEMÓRIAS ESQUECIDAS



Foram esquecidas
As coisas que marcaram
Um passado recente.
Quem recorda da Elsa,
Uma barcaça que colocou
As primeiras pedras da construção
Do cais da Petrobrás?

Alguém lembra que o prefeito da época
Era ninguém menos que Moisés?
Quem se recorda do sabor das águas
Das cacimbas da Penha?
Alguém ainda lembra como se usava o galão
Para botar água de ganho?

Alguém lembra onde eram os campos
De futebol e onde batíamos pelada?
E do Barraco de Lampião alguém recorda?
Pessoas como “Bajara”, “Botinho”, Jairo, Daniel,
“Kia Bordo”, Sebastião Carpinteiro,” Bodete”,
“Pau Veio”, “Pau de Sombra”, alguém sabe quem
Foram essas pessoas que já partiram?

E as epopéias do “Galo”, tem alguém que saiba
Ao menos uma história sobre ele?
E da “máquina de jogar futebol”, o Grêmio,
Sob a batuta do “maestro Chico Longo”,
Alguém ainda sabe a escalação?
Tempo bom aquele em que fazíamos tela
De corvos para a pesca da lagosta.
Botávamos os cavaletes debaixo dos coqueiros
De nossa Tia Ana Bahia.

Eu me recordo de todas as memórias esquecidas
Lembro até das furadas dos carrapichos
Cabeça-de-Boi ou Tabaco-de-Ovelha,
Que eram tão comuns em nossa cidade.
Onde estão as Rosas-Cera que soltavam
Suas sedas ao sabor do vento?

Eu me recordo dos conselhos de Tia Baíca,
Tia Luiza Barbosa, Tia Antonia de Abílio.
Tempo bom era quando pisávamos em areia
E não nessa crosta asfáltica quente e negra,
Que um crime chamado “progresso”
Trouxe até nós, reles mortais.

Estou falando do doce passado de Guamaré

Autor: Gonzaga Filho

MENINOS DA MIASSABA



 Olho pela minha janela
Os meninos da Miassaba a brincar
Oh, como são tagarelas
No seu futebol a jogar
É chute na bola e na canela
É gol na dor a gritar

Rio Miassaba está enchendo
Meninos se põem a nadar
Na correnteza vão descendo
Não param de falar
A tarde vai escurecendo
Saem da água em busca do jantar

Rua Rio Miassaba é felicidade
Vivem os meninos a sorrir
Não sabem o que é falsidade
Não sabem o que está por vir
Eles curtem a bela idade
Como só as crianças sabem curtir

Hoje são apenas crianças
Vivendo sem nenhuma preocupação
Tem no amanhã a esperança
De ter uma boa formação
Mas somente no estudo se alcança
Felicidade e uma boa profissão

Meninos aproveitem a vida
Essa transgressora passageira
Não se preocupem com a lida
Ou com uma vida financeira
Não deixem a felicidade perdida
Vivam de uma forma aventureira

Autor: Gonzaga Filho

DO PORTÃO DO MEU QUINTAL



O rio corre mansamente em busca do mar
O sol já se prepara para dormir
É hora de a lua despertar
Para com seu lindo brilho surgir
E com sua beleza encantar
Fazendo a fria tristeza sumir

Vejo a sombra escura do manguezal
Com suas aves a se agasalhar
Um burburinho infernal
E o meu peito a cantar
Exultando essa beleza fenomenal
Que somente Deus foi capaz de criar

O Rio Miassaba vai secando
Com suas águas prateadas
As tainhas vão saltitando
Sobre as canoas fundeadas
Ondas vão se formando
Sobre as croas cobreadas

Passa um filme em minha mente
Vejo a minha infância vivida
Banhando-me nessa água corrente
Não tinha ainda a alma ferida
Vivia a vida freneticamente
Sem preocupar-me com a vida

Do portão do meu quintal
Eu vejo a beleza que partiu
E uma lágrima com gosto de sal
No meu triste rosto surgiu
Voltei à vida real
A minha felicidade sumiu

Autor: Gonzaga Filho

SAUDADES DE SALINA



Meu Deus, o tempo passou e eu não vi
O tempo se foi e não esqueci
De como feliz eu era
E hoje é apenas uma triste quimera
Lembranças de tudo que vivi

Saudades de Salina da Cruz
Onde me sentia vivo, onde eu tinha luz
Hoje a tristeza impera
É triste essa minha espera
Pois somente dependo de Jesus

Em Salina eu tinha vida
Era uma alma querida
Feliz em minha labuta
Travando comigo mesmo uma luta
Vencendo os obstáculos de forma destemida

Oh, Minh’ alma ferida
De saudade tão sofrida
Vive triste amargurada
De sofrer vive cansada
Nesta existência combalida

Como fazer para voltar a viver
Voltar a sorrir e na vida sentir prazer
Se a minha alegria foi embora
E em outro peito ela mora
Penso que o bom da vida é morrer

Aqui eu passo a tristeza escrever
Somente em Deus me restando crer
Que preencha de amor o meu coração
Salvando-me da triste solidão
E minha vida de alegria preencher

Autor: Gonzaga Filho

BRISA DO ARATUÁ



O Aratuá corria mansamente
A brisa do rio soprava
E ela brincava docemente
Enquanto o vento
Os seus cabelos acariciava

A lua brilhava
A lua chamava
E ela inocentemente
Na areia brincava

Ah! Guamaré...
Destino ou carma
Menina Carla
Firme em sua fé

Carla menina, moça
Carla moça, mulher
Carla tem fé e força
Pois é parte de Guamaré

A lua chamava
Enquanto o Aratuá corria
A lua brilhava
Enquanto a menina Carla sorria

Tudo era brincadeira
Numa vida sem enfado
Hoje a vida é real e verdadeira
Sente saudades do passado

Oh! Menina Carla...
Bela como uma fada
O seu coração não cala
Pois por Guamaré é amada

Autor: Gonzaga Filho

ÁGUA-MARÉ



Guamaré cidade dos ventos
que faz mover grandes
moinhos modernos.

De coqueirais ao sol
e dos teus belos rios
Aratuá, Miassaba e Camurupim
Por onde Navegam pescadores,
Turistas e gente de paz.

Guamaré da carcinicultura,
Da pesca, do petróleo
E do Polo industrial.

Minha bela cidade!
Cidade de gente tranquila
E protegida por duas Santas,
Nossa Senhora da Conceição
E Nossa senhora dos Navegantes.

 És linda, minha Guamaré!
Com o teu Porto de riquezas,
A tua bela praia do Minhoto,
A tua ilha paradisíaca do Presídio
E a tua Salina da Cruz.

És emancipada e livre.
És tãoquerida entre todas,
És a Guamaré hospitaleira
E rica por natureza.

Autor: Alfredo Neves

BRANCAS PIRÂMIDES



Contemplei as pirâmides do Egito
Com a Esfinge de Gisé sufocando o grito
Mas as mais belas pirâmides que eu vi
São as brancas da terra em que eu nasci

Guamaré tem sua riqueza
A alvura das salinas é uma beleza
Terra rica de um povo pobre
Mas de honestidade um sentimento nobre

Eram brancas feitas de sal
Postadas na entrada de Macau
Fonte de renda para o salineiro
Macau já foi terra do dinheiro

Na região dos lagos no Rio
As pirâmides estão em Cabo Frio
Terra do meu infinito devaneio
Eu a conheci em um veraneio

Como é lindo meu Brasil
De monumentais belezas mil
País com imensa dimensão
Mas que cabe dentro do coração

Autor: Gonzaga Filho 

EU VOLTEI



Eu voltei.
Retornei a terra das minhas raízes,
Ao berço dos meus avós.

Eu voltei para Guamaré
A procura da minha infância perdida
No cais de madeira que já não existe,
Nos ranchinhos de palhas
Pobres moradas de pescadores.
Já não existe mais
As brincadeiras de criança,
Bandeirinha, caboré, tica-cola,
Os cavaletes de tela e o jogo de bola.

Onde estão os coqueiros de Tia Ana,
Os meus sonhos de amor com Pollyana.
Não existe mais as festas tradicionais
As serestas, cantigas de violas.
O tempo passou
E tudo acabou,
Nada resta nesta terra.
Nem mesmo os ranchos de pescaria
Para salgar dourado e voador
Sobreviveram ao progresso
Esse grande destruidor.

Mas eu voltei
E da minha mente
E do meu coração
Jamais serão destruídas
Minhas doces recordações.

Autor: Gonzaga Filho