ORIGEM DA
CANTORIA, CANTADOR E DA VIOLA
A nossa
poesia popular floresceu em Provença, sul da Franca, no Século XI, através dos
trovadores Regréis e Jograis. Na Espanha a poesia floresceu através dos
palacianos. Foi em Homero, maior dos rapsodos, cantando as façanhas de Ulisses
diante de Circe e do gigante Polifemo, que Virgílio encontrou a fonte
inspiradora para a realização de sua obra monumental.
Eram os
trovadores da Provença, que levaram a alegria aos senhores feudais,
enclausurados nos seus castelos de guerra. Enfim, foi Dom Diniz, maior monarca
da Dinastia de Borgonha, que se proclamou discípulo dos provinciais, em suas
cantigas de amigo e de amor. Todavia, ninguém melhor do que o poeta Antônio
Ferreira, de Portugal, falou de sua grandeza, quando disse: Regeu, edificou,
lavrou, venceu, honrou as musas, poetou e leu".
A fusão da
poesia local portuguesa com a poesia dos Trovadores Jograis de Provença fez
surgir novas formas poéticas de linguagem de seus famosos poetas: João Soares
de Paiva, Paio Soares de Traveiros e outros. "Mas, coube ao Brasil o
privilégio do aparecimento do legitimo cantador de Viola, com Gregório de Matos
Guerra, que deixava a Universidade de Coimbra fazendo verso de protesto a
direção daquele estabelecimento de ensino. Nascido na Bahia, no Sec. XVII e o
primeiro doutor brasileiro. Seguido pelo Padre Domingos caldas Barbosa, que,
também, improvisava ao som da viola".
A poesia,
atravessando a fase colonial, veio alcançar seu apogeu na pequena Paraíba de
Augusto dos Anjos e de José Américo, pois quiseram as divindades do Olimpo que,
naquele torrão, bendito pelas sacrossantas musas do longínquo Parnaso, nasceram
os maiores cantadores que tem notícia na história do folclore nacional.
"No
Nordeste, os jesuítas catequizavam por meio da poesia por ficar mais fácil de
conservar a mensagem na memória, seguindo assim o estilo da Grécia
Antiga".
Ninguém
melhor do que o cantador pode sentir a variedade de quadros de que o cotidiano
nos apresenta. Traz dos sertões para as cidades o retrato da natureza, na sua
expressão criadora, bem como o do rigor que castiga dentro de suas leis
imutáveis.
No entender
de alguns estudiosos (intelectuais) o cantador tem uma imagem completamente
distorcida da sua formação verdadeira. Isto porque já foi registrada a presença
de cantadores caracterizados de vaqueiros, por incumbência de pessoas que fazem
folclore com pouca profundidade no assunto. Então havemos de concluir que o
cantador, o legítimo repentista, e o mais feliz dos imortais, porque seu mundo
não é o da maldade, não é do egoísmo, e, sim, o doce paraíso das imaginações
criadoras. Citaremos a sábia e patriótica expressão de Antônio Girão Barroso,
conhecido escritor cearense: "Ai do país que abandona as raízes da
cultura".
A cantoria
de versos improvisados ao som da viola é uma arte que floresceu no meio rural
do Nordeste, especialmente no sertão, e que só aos poucos vem conquistando
público das grandes cidades. A razão principal desse fato e possivelmente, o
número crescente de pessoas que se deslocam do interior para as metrópoles em
busca de melhores condições de vida, e levando consigo hábitos culturais
profundamente enraizados.
"No
começo deste século, a figura tradicional do cantador era a do indivíduo de
inteligência aguda, escassas condições financeiras, muitas vezes analfabetos ou
pouco letrados, cantando de feira em feira seus versos geniais que garantiam a
própria subsistência".
Embora o
tema - nomes e datas fundamentais em torno dos poetas populares no Nordeste -
já tenha sido rastreado por numerosos autores, vamos resumir o que Atila de
Almeida condensou, a propósito, em recente ensaio intitulado "Réquiem para
a Literatura Popular em verso, também dita de cordel", in "Correio
das Artes", João Pessoa, 01.08.1982.
"1830 é
considerado, historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina.
Em torno dessa data nasceram Urgulino do Sabugi - o primeiro cantador que se
conhece - seu irmão Nicandro, ambos filhos de Agostinho da Costa, o Pai da
Poesia Popular".
Nascidos na
Serra do Teixeira (PB), entre l840 e 1850, foram seus contemporâneos os poetas
Germano da Lagoa, Romano da mãe D'Agua e Silvino Pirauá. E já contemporâneos
destes, Manoel Caetano e Manoel Cabeleira. São os mais antigos cantadores
conhecidos, todos chegando à década que se iniciou em 1890. A década que
começou em 1860 viu nascerem grandes nomes, como João Benedito, José Duda e
Leandro Gomes de Barros. Mais adiante, na década que se iniciou em 1880,
nasceram Firmino Teixeira do Amaral, João Martins de Ataíde, Francisco das
Chagas Batista e Antônio Batista Guedes.
Diferente do
que acontecia em qualquer parte do Brasil, sabe-se que no Nordeste, o cantador
independia de acompanhamento. No fim de cada pé, terminando-se cada linha do
verso, dava um arpejo na viola ou rebeca. Entre um verso (estrofe) e o
seguinte, entoado pelo antagonista executava-se algum trecho musical, alguns
compassos.
"Os
velhos cantadores do Sertão Nordestino do Brasil só tocavam as violas ou soavam
os pandeiros nos intervalos dos cantos. Desafio simultaneamente acompanhado da
viola é posterior a 1920”.
“Nossos repentistas,
cantadores e poetas populares, foram, no entanto, até cerca de 1920 ou de 1930,
uma expressão de intelectuais dos sítios, das fazendas, das vizinhanças, do
mundo em que vivera. Os desafios dos violeiros são tão velhos quanto o
mundo".
A viola,
como as demais criações do homem, tem sua presença marcante desde sua criação,
até os dias atuais. A viola é um instrumento de caráter onomatopaico, embora
haja quem lhe atribua origem germânica. É a designação genérica de uma família
de instrumentos de corda, tocados com arco de crina, produzindo som mais
melancólico, menos claro e de timbre nasal.
O primeiro
instrumento do cantador sertanejo parece ter sido a viola, menor que o violão
(guitarra espanhola), do qual não há notícia, entre nós, antes do Sec. XVIII. A
viola de pinho, viola de arame, com 5 ou 6 cordas duplas, é citada entre outros
aqui, pelo Padre Fernão Cardim. Antigamente, depois de cada vitória o cantador
amarrava uma fita colorida em suas cravelhas.
Entre os
poetas populares, ainda preserva-se algumas superstições quanto ao uso da
viola. Diz-se que esse instrumento sofre a influência da lua. Na lua nova e na
força da lua não se guarda viola afinada, porque ela pode ficar corcunda,
entortar e rebentar as cordas. Madeira para viola deve ser cortada nos meses
que não tem "r": maio, junho, julho e agosto, e na minguante, para
nunca apanhar caruncho.
Há um certo
consenso entre os cantadores, que o repentista que se preza não carrega viola
debaixo do braço, e sim, na mão, segurando-a pelo braço. A viola é uma mulher e
quem sai com ela na rua, a leva de braço dado. A axila é lugar de escorar a
muleta e não a viola, que carregada debaixo do braço fica reumática, não afina
mais, fica mancando das cordas.
A viola foi
difundida na Europa no Sec. XIV. Ela surgiu depois da rebeca medieval e antes
da atual família de violinos. É possível que tenha sido o primeiro instrumento
de cordas que o Brasil conheceu, importado de Portugal. Os jesuítas a
empregavam nos seus trabalhos de catequese junto com o pandeiro, tamborim e a
flauta de madeira.
Lendo a
antologia de nossos poetas populares, constatamos que somente três cantadores,
não se apropriavam do recurso da viola: Inácio da Catingueira ( Manoel Luis de
Abreu), negro, ex-escravo; e Fabião das Queimadas ( Fabião Hermenegildo
Ferreira da Rocha), norte-rio-grandense, que cantaram no século passado,
utilizando um pandeiro e Cego Aderaldo (Aderaldo Ferreira de Araujo), que
cantava acompanhado ao som de sua rabeca.
A cantoria
quase sempre dura duas horas, às vezes até noites inteiras. Geralmente, o
desafio se desenrola num tremendo duelo, numa verdadeira briga poética, cuja
arma o verso rápido, gracioso e pitoresco, cheio de vivacidade e vigor. Os
cantadores do Ceará e dos Estados Nordestinos, diferem muito dos cantadores de
outras regiões do país, pelas modalidades que adotam e pela melodia que
acompanham os seus repentes, ao calor das pelejas.
"Nas
festas populares, nos festejos folclóricos é indispensável à presença desses
trovadores, um dos pontos altos do folclore cearense".
CONCEITO DE CANTADOR - VISÃO DOS
MESTRES
Silvio
Romero foi o nosso primeiro homem de letras a se interessar pelos motivos
populares, inserindo em livros e lendas, as superstições, os cantos e contos
populares no Brasil. Segundo ele, o cantador é homem de poucas letras, rústico,
sem conhecimento de gramática ou quase sempre analfabeto; e o cantador
violeiro, intérprete fiel, dos costumes, das histórias e do heroísmo de seu
povo, esse audaz e intrépido povo nordestino.
Na visão de
Luís Câmara Cascudo, que dedicou a maior parte de sua vida ao folclore, assim
define cantador: - "Representantes legítimos de todos os bardos
menestréis".
Gustavo
Barroso, falando sobre a poesia popular, afirma “a poesia é sempre obra de
indivíduos cultos ou semicultos, que desce ao povo, se batiza nas águas
lustrais de seu oralismo e se espalha pelo mundo como um pólen
fecundante".
Manoel
Bandeira, nome respeitabilíssimo de nossas letras, confessa-se humilde, diante
do cantador, conforme registro que fez em seu livro estrela da Tarde: “... que
poeta é quem inventa em boa improvisação, como faz Dimas Batista e Otacílio,
seu irmão, como faz qualquer violeiro, bom cantador do sertão".
Guilherme
Neto conceitua os cantadores, ou violeiros repentistas, são cantores populares,
os geniais poetas e versejadores do sertão. Andam sempre em duplas, com a viola
dentro de um saco, muitas vezes a pé, ruminando o debate, preparando perguntas,
arrumando as ideias, dando asas a imaginação.
"cantador
ou simplesmente repentista - poeta popular da região nordestina, que ao som da
viola, duplado, decantam seus versos, encantando os rincões brasileiros".
Na concepção
de Leonardo Mota (Dr. Leota), anos a fio empreendeu várias excursões pelo
"interland cearense ", vendo de perto, anotando e escrevendo as mais
belas sugestivas páginas do folclore brasileiro, como sendo a figura do
cantador violeiro, o representante legítimo do povo nordestino - são os poetas
populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios e alheios;
mormente os que não desdenham ou temem o "desafio", peleja
intelectual em que, perante o auditório, ordinariamente numeroso, são postos em
evidência os dotes de improvisação de dois ou mais vates matutos.
Segundo Luis
Wílson, o cantador é como o rapsodo canta acima do tom em que o instrumento é
afinado e abusa dos agudos. É uma voz hirta, dura, sem sensibilidade, sem
floreios, sem doçura. Canta quase gritando, as veias entumecidas pelo esforço,
a face congesta, os olhos fixos para não perder o compasso, não musical, que
para eles é quase sem valor, mas a cadência, o ritmo, que é tudo.
No
entendimento de Pedro Ribeiro, no livro intitulado: "Nos Caminhos do
Repente", de sua autoria, equivale dizer cantador ou violeiro, para
definir como sendo o representante máximo do repente. Com invulgar poder
criativo, os menestréis do passado ampliaram consideravelmente o acervo do
repente com a criação de novos estilos.
Na visão de
Orlando Tejo, no livro: "Zé Limeira, poeta do absurdo", sintetiza o
que vem a ser cantador: Os cantadores constituem imensa legião de homens que
amam, sonham, sofrem e brincam de viver no mundo, pescando estrelas, caçando
ilusões, plantando tardes, colhendo auroras, levando a sua imagem sutil e profunda,
tímida e vigorosa ao povo ávido de poesia que os ouve embevecido.
Inúmeras são
as conceituações desses rapsodos da poesia nordestina, se levarmos em
consideração a expressão literal da palavra e a função desses mensageiros do
improviso e da felicidade.
A pesquisa
não se deteve muito a outras concepções de pesquisadores de cultura popular,
por considerar que o assunto será bastante enfatizado nas páginas seguintes da
monografia, procurando mostrar a importância do poeta-repentista do nordeste
brasileiro.
ESTILOS DE CANTORIAS
A região
nordestina assinalada pelo estigma da seca, marcada no quadro dantesco do
sertão adusto, com suas árvores atrofiadas e nuas, é a terra onde nascido e
vivido, sofrendo e cantando, os maiores valores da poesia popular, expoentes da
inteligência inculta, mestres consumados nos repentes, insuperáveis nos
improvisos.
Diversos são
os gêneros da poesia popular do nordeste brasileiro. Além de vários gêneros
poéticos adotados pelo violeiro sertanejo, cantando só, ou alinhando em dupla
para o desafio.
Estas não se
acorrentaram a regras imutáveis, inexpressivamente sem vibração. Ao contrário,
quase todas as formas vêm evoluindo, adquirindo plasticidade, tomando feição
renovadora, apurando o estilo, progredindo. Essas matizes, muitas vezes
revelando um colorido cintilante, ostentando o poder imaginativo,
comparativamente aos arranjos musicais celebrizando compositores, atestam o
processo evolutivo, reformista, na arte de cantador nordestino, no decurso do
século vigente.
A cada estilo
de cantoria, para tornar mais fácil ao leitor entender a sua conceituação,
exemplificamos com glosas e repentes de vates nordestinos, decantados na Região
Jaguaribana.
Entre as
criações dos poetas clássicos, que vieram a ser usadas pelos nossos repentistas,
estão as modalidades a seguir especificadas:
SEXTILHAS - Talvez, por ser mais fácil,
seja o gênero mais preferido pelos nossos cantadores, principalmente no início
das apresentações. Seu criador foi Silvino Pirauá Lima. A sextilha é uma estrofe
com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos de
sete silabas, nomes que tem a mesma significação.
SETE LINHAS OU SETE PÉS - No inicio do século atual, o
cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação a
sextilha, criando o estilo de sete versos, também chamado de sete pés, rimando
os versos pares até o quarto, como na sextilha; o quinto rima com o sexto, e o
sétimo com o segundo e o quarto.
MOURÃO - Muito interessante é o Mourão,
gênero que se canta em dialogo. Sua forma originaria, de seis versos, foi
substituída pela de cinco, ainda no século passado. O Mourão, na sua essência,
conceitua-se como o desafio natural. Gênero poético dos mais difíceis nunca
desdenhados pelos nossos repentistas ajustasse-lhe melhor a denominação de
trocadilho, porque, em dialogo, os articulistas se revezam nos versos e nas
estrofes. Exemplificamos aqui, apenas uma de suas variantes, no caso, "o
mourão voltado".
DÉCIMA - Embora de origem clássica, é a
decima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da poesia popular,
principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores
fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estância a
receber a denominação de glosa.
GALOPE A BEIRA MAR - Gênero muito apreciado pelos
apologistas da poesia popular, juntamente com o martelo, recebeu a denominação
de décima de versos* compridos. O galope e assim chamado em virtude de ser
empregado mais em temas praieiros. Foi criado pelo repentista cearense "Zé
Pretinho", natural da cidade de Morada Nova.
TOADA ALAGOANA - é um gênero pouco usado, porém
muito bonito, em virtude das rimas encadeadas de forma agradável a toada.
REMO DA CANOA - Estilo originário das
emboladas de coco, recentemente adaptado para as cantorias de viola, uma
inovação do poeta repentista Ivanildo Vilanova. Sua toada melodiosa é muito
bonita e suave, sendo bastante apreciada pelos apologistas da poesia popular.
BRASIL CABOCLO - Considerado um dos estilos
mais preferidos pelo repentista nordestino. Consiste em uma estrofe de dez
versos de sete sílabas, semelhante ao estilo da décima, isto é, seguindo o
mesmo sistema das estrofes de dez linhas.
MARTELO AGALOPADO - O martelo atual, criação do
genial violeiro paraibano Pirauá Lima, e uma estrofe de dez versos, em
decassílabos, obedecendo a mesma ordem de rima dos versos da decima. Todavia,
sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os cantadores se
martelarem durante suas pugnas. Sua significação esta ligada ao nome do
diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do Sec. XVII, que
foi professor de Literatura da Universidade de Bolonha, portanto, o criador do
primeiro estilo.
O BOI DA CAJARANA - A transformação de mote em
estilo da cantoria tem sido a principal criação da Literatura de Cordel Oral,
nas últimas décadas do século XX. De autoria de Ivanildo Vilanova e Adauto
Ferreira, originou-se do mote: "Eu quero o boi amarrado/No pé da cajarana.
A consagração do estilo foi muito rápida, mesmo com a quebra da métrica no
segundo verso do mote.
O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS - Derivado da décima, O Que é
Que Me Falta Fazer Mais, é um mote decassílabo, que transformou em gênero pela
extraordinária aceitação popular. Rico em conhecimentos e doce em musicalidade
tende a permanecer por muito tempo, na primeira linha da preferência dos
amantes da cantoria.
GEMEDEIRA - Pela própria denominação do
gênero, vemos que serve para temas gracejantes. É a gemedeira um estilo de
poesia, caracterizado pela interposição de verso de quatro, ou, raramente duas
silabas, entre a quinta e a sexta linha das sextilhas, formado pelas
interjeições: “ai e ui! ou ai! hum! Esse estilo, geralmente é cantado de forma
jocosa e humorística.
QUADRÕES - ao longo do tempo, o quadrão
tem sido o gênero a receber o maior numero de alterações, não só na sua forma
interna, mas, também, na estrutura das estrofes, em geral.
REBATIDO - É originário da oitava com
versos septissílabos. Os versos dois e quatro terminam, obrigatoriamente com
"ido", para rimar com estribilho "No oitavão rebatido", na
última linha da estância.
DEZ PÉS DE QUEIXO CAÍDO - este gênero, ainda em voga,
esta incluído na décima, apresentado, no final de cada estrofe, este
estribilho: " Nos dez de queixo caído".
ROJÃO PERNAMBUCANO - Diz-se de uma estância de dez
versos heptassílabos nos dois últimos versos, repetidos pelos cantadores. Esse
gênero foi gravado pelos cantadores Ivanildo Vilanova e Severino Feitosa.
ROJÃO QUENTE - É mais uma das recentes
criações originárias do mote, que vem, ultimamente, oferecendo novos estilos ao
já expressivo acervo do repente. Coqueiro da Baia/quero ver meu bem agora/quer
ir mais eu vamos/quer ir mais eu vambora. A obrigatoriedade de metrificação é
apenas para a sextilha, que utiliza versos setissílabos, com a mesma métrica e
acentuação. Estilo bastante utilizado para encerrar as cantorias.
TIPOS
DE CANTORIA
Não há na
Literatura Popular Nordestina, uma divisão clássica da cantoria de viola,
propriamente dita, dentro do seu aspecto conceitual. Consultando diversos
autores do gênero, concluímos que nas cantorias de Literatura Oral do Nordeste,
encontramos dois tipos de poesias; um tradicional que está sempre na memória
dos cantadores, e que serve justamente para encher o tempo, denominada de
"Obra Feita"; outro, é o improvisado, é o repente, o verso do
momento, dito face um fato momentâneo, ou a propósito de uma pessoa presente.
Este último é o autêntico improviso, muito comum, sobretudo no desafio.
Conversando
com poetas-repentistas e apologistas da poesia matuta, foi possível
identificarmos os tipos de cantorias mais utilizados da atualidade, sem
prejuízo do conceito retro citado. Essas conceituações podem ser modificadas, é
lógico, com um estudo mais acurado sobre o assunto. A divisão abaixo, a nosso
modo, parece ser a que mais retrata a realidade presente, sem, contudo, perder
a essência da poesia decantada e improvisada ao som da viola.
Ouvindo
atentamente as pessoas consultadas, constatamos que a cantoria pode ser
classificada em seis variantes a seguir:
I) Pé de
Parede; II) Dos Compadres; III) Especial; IV) Ocasional; V) Convencional; e VI)
De Feira.
Para melhor
entendimento do leitor, procuramos definir cada uma das modalidades, consoante
declarações dos entrevistados, objetivando dar uma noção geral das variedades
de cantorias no Nordeste Brasileiro.
1) Cantoria "Pé de Parede - Essa
modalidade frequentemente utilizada, após o término dos festivais de violeiros.
Os poetas-repentistas são solicitados para fazerem suas apresentações para um
pequeno número de apologistas admiradores da poesia matuta. Geralmente,
apresenta-se duas ou mais duplas, com a utilização da famosa bandeja. É chamada
Pé de Parede, pois, os cantadores ficam encostados em uma parede, sentados em
duas cadeiras, sem recurso de som ou palco de cantoria.
2) Cantoria dos Compadres - É a forma que
está mais sendo utilizada atualmente. O cantador aproveitando o espaço
radiofônico de seu programa, para marcar cantoria com compadre, amigo e/ou
parente próximo, de livre e espontânea vontade, sem o prévio entendimento com o
dono da festa. Essa foi a única maneira que o repentista encontrou para
realizar as suas cantorias.
3) Cantoria Especial - Como o próprio nome
diz, ela é realizada em circunstâncias especiais. É muito comum esse tipo de
cantoria em festas de casamento, batizado, bodas de ouro, aniversário, etc. O
promovente contrata os poetas-repentistas por um preço justo e convida amigos e
parentes das localidades próximas a se fazerem presentes a festa.
4) Cantoria Ocasional - É pouco usual nos
dias atuais, todavia, ainda é praticada em algumas regiões do país. É aquela em
que o cantador viajando; chegando a um determinado lugar, pede autorização ao
dono da casa para realizar uma cantoria. Este, aceitando o pedido,
responsabiliza-se por convidar amigos e vizinhos da localidade, para assistirem
a peleja.
5) Cantoria Convencional - É a chamada
famosa cantoria tradicional. Com o advento da televisão, do rádio, do cinema,
etc., se não houver um incentivo por parte dos órgãos competentes, tende a
desaparecer com o passar dos tempos. Consiste na porfia em que o promovente
convida os poetas-repentistas para decantarem em sua residência, por uma
quantia pré-estabelecida entre as partes, para uma platéia de apologistas
presentes ao embate poético. Essa gradativamente está sendo substituída pela
cantoria dos compadres.
6) Cantoria de Feira - É aquela em que seu
desenlace se dá em feiras livres ou em botecos e bares adjacentes. Muito embora
seja bastante utilizada por alguns violeiros, no entanto, não é apreciada pela
maioria dos menestréis da viola. Essa forma de cantoria é muito criticada pelos
cantadores profissionais, pois, consideram um desagravo a profissão de
cantador, haja vista, que a noção que se tem é que essas pessoas cantam seus
versos por uma quantia ínfima de dinheiro, prejudicando os grandes talentos da
poesia popular.
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