quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CANTORIAS DE VIOLA


ORIGEM DA CANTORIA, CANTADOR E DA VIOLA

A nossa poesia popular floresceu em Provença, sul da Franca, no Século XI, através dos trovadores Regréis e Jograis. Na Espanha a poesia floresceu através dos palacianos. Foi em Homero, maior dos rapsodos, cantando as façanhas de Ulisses diante de Circe e do gigante Polifemo, que Virgílio encontrou a fonte inspiradora para a realização de sua obra monumental.

Eram os trovadores da Provença, que levaram a alegria aos senhores feudais, enclausurados nos seus castelos de guerra. Enfim, foi Dom Diniz, maior monarca da Dinastia de Borgonha, que se proclamou discípulo dos provinciais, em suas cantigas de amigo e de amor. Todavia, ninguém melhor do que o poeta Antônio Ferreira, de Portugal, falou de sua grandeza, quando disse: Regeu, edificou, lavrou, venceu, honrou as musas, poetou e leu".

A fusão da poesia local portuguesa com a poesia dos Trovadores Jograis de Provença fez surgir novas formas poéticas de linguagem de seus famosos poetas: João Soares de Paiva, Paio Soares de Traveiros e outros. "Mas, coube ao Brasil o privilégio do aparecimento do legitimo cantador de Viola, com Gregório de Matos Guerra, que deixava a Universidade de Coimbra fazendo verso de protesto a direção daquele estabelecimento de ensino. Nascido na Bahia, no Sec. XVII e o primeiro doutor brasileiro. Seguido pelo Padre Domingos caldas Barbosa, que, também, improvisava ao som da viola".

A poesia, atravessando a fase colonial, veio alcançar seu apogeu na pequena Paraíba de Augusto dos Anjos e de José Américo, pois quiseram as divindades do Olimpo que, naquele torrão, bendito pelas sacrossantas musas do longínquo Parnaso, nasceram os maiores cantadores que tem notícia na história do folclore nacional.

"No Nordeste, os jesuítas catequizavam por meio da poesia por ficar mais fácil de conservar a mensagem na memória, seguindo assim o estilo da Grécia Antiga".

Ninguém melhor do que o cantador pode sentir a variedade de quadros de que o cotidiano nos apresenta. Traz dos sertões para as cidades o retrato da natureza, na sua expressão criadora, bem como o do rigor que castiga dentro de suas leis imutáveis.

No entender de alguns estudiosos (intelectuais) o cantador tem uma imagem completamente distorcida da sua formação verdadeira. Isto porque já foi registrada a presença de cantadores caracterizados de vaqueiros, por incumbência de pessoas que fazem folclore com pouca profundidade no assunto. Então havemos de concluir que o cantador, o legítimo repentista, e o mais feliz dos imortais, porque seu mundo não é o da maldade, não é do egoísmo, e, sim, o doce paraíso das imaginações criadoras. Citaremos a sábia e patriótica expressão de Antônio Girão Barroso, conhecido escritor cearense: "Ai do país que abandona as raízes da cultura".

A cantoria de versos improvisados ao som da viola é uma arte que floresceu no meio rural do Nordeste, especialmente no sertão, e que só aos poucos vem conquistando público das grandes cidades. A razão principal desse fato e possivelmente, o número crescente de pessoas que se deslocam do interior para as metrópoles em busca de melhores condições de vida, e levando consigo hábitos culturais profundamente enraizados.

"No começo deste século, a figura tradicional do cantador era a do indivíduo de inteligência aguda, escassas condições financeiras, muitas vezes analfabetos ou pouco letrados, cantando de feira em feira seus versos geniais que garantiam a própria subsistência".

Embora o tema - nomes e datas fundamentais em torno dos poetas populares no Nordeste - já tenha sido rastreado por numerosos autores, vamos resumir o que Atila de Almeida condensou, a propósito, em recente ensaio intitulado "Réquiem para a Literatura Popular em verso, também dita de cordel", in "Correio das Artes", João Pessoa, 01.08.1982.

"1830 é considerado, historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Em torno dessa data nasceram Urgulino do Sabugi - o primeiro cantador que se conhece - seu irmão Nicandro, ambos filhos de Agostinho da Costa, o Pai da Poesia Popular".

Nascidos na Serra do Teixeira (PB), entre l840 e 1850, foram seus contemporâneos os poetas Germano da Lagoa, Romano da mãe D'Agua e Silvino Pirauá. E já contemporâneos destes, Manoel Caetano e Manoel Cabeleira. São os mais antigos cantadores conhecidos, todos chegando à década que se iniciou em 1890. A década que começou em 1860 viu nascerem grandes nomes, como João Benedito, José Duda e Leandro Gomes de Barros. Mais adiante, na década que se iniciou em 1880, nasceram Firmino Teixeira do Amaral, João Martins de Ataíde, Francisco das Chagas Batista e Antônio Batista Guedes.

Diferente do que acontecia em qualquer parte do Brasil, sabe-se que no Nordeste, o cantador independia de acompanhamento. No fim de cada pé, terminando-se cada linha do verso, dava um arpejo na viola ou rebeca. Entre um verso (estrofe) e o seguinte, entoado pelo antagonista executava-se algum trecho musical, alguns compassos.

"Os velhos cantadores do Sertão Nordestino do Brasil só tocavam as violas ou soavam os pandeiros nos intervalos dos cantos. Desafio simultaneamente acompanhado da viola é posterior a 1920”.

“Nossos repentistas, cantadores e poetas populares, foram, no entanto, até cerca de 1920 ou de 1930, uma expressão de intelectuais dos sítios, das fazendas, das vizinhanças, do mundo em que vivera. Os desafios dos violeiros são tão velhos quanto o mundo".

A viola, como as demais criações do homem, tem sua presença marcante desde sua criação, até os dias atuais. A viola é um instrumento de caráter onomatopaico, embora haja quem lhe atribua origem germânica. É a designação genérica de uma família de instrumentos de corda, tocados com arco de crina, produzindo som mais melancólico, menos claro e de timbre nasal.

O primeiro instrumento do cantador sertanejo parece ter sido a viola, menor que o violão (guitarra espanhola), do qual não há notícia, entre nós, antes do Sec. XVIII. A viola de pinho, viola de arame, com 5 ou 6 cordas duplas, é citada entre outros aqui, pelo Padre Fernão Cardim. Antigamente, depois de cada vitória o cantador amarrava uma fita colorida em suas cravelhas.

Entre os poetas populares, ainda preserva-se algumas superstições quanto ao uso da viola. Diz-se que esse instrumento sofre a influência da lua. Na lua nova e na força da lua não se guarda viola afinada, porque ela pode ficar corcunda, entortar e rebentar as cordas. Madeira para viola deve ser cortada nos meses que não tem "r": maio, junho, julho e agosto, e na minguante, para nunca apanhar caruncho.

Há um certo consenso entre os cantadores, que o repentista que se preza não carrega viola debaixo do braço, e sim, na mão, segurando-a pelo braço. A viola é uma mulher e quem sai com ela na rua, a leva de braço dado. A axila é lugar de escorar a muleta e não a viola, que carregada debaixo do braço fica reumática, não afina mais, fica mancando das cordas.

A viola foi difundida na Europa no Sec. XIV. Ela surgiu depois da rebeca medieval e antes da atual família de violinos. É possível que tenha sido o primeiro instrumento de cordas que o Brasil conheceu, importado de Portugal. Os jesuítas a empregavam nos seus trabalhos de catequese junto com o pandeiro, tamborim e a flauta de madeira.

Lendo a antologia de nossos poetas populares, constatamos que somente três cantadores, não se apropriavam do recurso da viola: Inácio da Catingueira ( Manoel Luis de Abreu), negro, ex-escravo; e Fabião das Queimadas ( Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha), norte-rio-grandense, que cantaram no século passado, utilizando um pandeiro e Cego Aderaldo (Aderaldo Ferreira de Araujo), que cantava acompanhado ao som de sua rabeca.

A cantoria quase sempre dura duas horas, às vezes até noites inteiras. Geralmente, o desafio se desenrola num tremendo duelo, numa verdadeira briga poética, cuja arma o verso rápido, gracioso e pitoresco, cheio de vivacidade e vigor. Os cantadores do Ceará e dos Estados Nordestinos, diferem muito dos cantadores de outras regiões do país, pelas modalidades que adotam e pela melodia que acompanham os seus repentes, ao calor das pelejas.

"Nas festas populares, nos festejos folclóricos é indispensável à presença desses trovadores, um dos pontos altos do folclore cearense".

CONCEITO DE CANTADOR - VISÃO DOS MESTRES

Silvio Romero foi o nosso primeiro homem de letras a se interessar pelos motivos populares, inserindo em livros e lendas, as superstições, os cantos e contos populares no Brasil. Segundo ele, o cantador é homem de poucas letras, rústico, sem conhecimento de gramática ou quase sempre analfabeto; e o cantador violeiro, intérprete fiel, dos costumes, das histórias e do heroísmo de seu povo, esse audaz e intrépido povo nordestino.

Na visão de Luís Câmara Cascudo, que dedicou a maior parte de sua vida ao folclore, assim define cantador: - "Representantes legítimos de todos os bardos menestréis".

Gustavo Barroso, falando sobre a poesia popular, afirma “a poesia é sempre obra de indivíduos cultos ou semicultos, que desce ao povo, se batiza nas águas lustrais de seu oralismo e se espalha pelo mundo como um pólen fecundante".

Manoel Bandeira, nome respeitabilíssimo de nossas letras, confessa-se humilde, diante do cantador, conforme registro que fez em seu livro estrela da Tarde: “... que poeta é quem inventa em boa improvisação, como faz Dimas Batista e Otacílio, seu irmão, como faz qualquer violeiro, bom cantador do sertão".

Guilherme Neto conceitua os cantadores, ou violeiros repentistas, são cantores populares, os geniais poetas e versejadores do sertão. Andam sempre em duplas, com a viola dentro de um saco, muitas vezes a pé, ruminando o debate, preparando perguntas, arrumando as ideias, dando asas a imaginação.

"cantador ou simplesmente repentista - poeta popular da região nordestina, que ao som da viola, duplado, decantam seus versos, encantando os rincões brasileiros".

Na concepção de Leonardo Mota (Dr. Leota), anos a fio empreendeu várias excursões pelo "interland cearense ", vendo de perto, anotando e escrevendo as mais belas sugestivas páginas do folclore brasileiro, como sendo a figura do cantador violeiro, o representante legítimo do povo nordestino - são os poetas populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios e alheios; mormente os que não desdenham ou temem o "desafio", peleja intelectual em que, perante o auditório, ordinariamente numeroso, são postos em evidência os dotes de improvisação de dois ou mais vates matutos.

Segundo Luis Wílson, o cantador é como o rapsodo canta acima do tom em que o instrumento é afinado e abusa dos agudos. É uma voz hirta, dura, sem sensibilidade, sem floreios, sem doçura. Canta quase gritando, as veias entumecidas pelo esforço, a face congesta, os olhos fixos para não perder o compasso, não musical, que para eles é quase sem valor, mas a cadência, o ritmo, que é tudo.

No entendimento de Pedro Ribeiro, no livro intitulado: "Nos Caminhos do Repente", de sua autoria, equivale dizer cantador ou violeiro, para definir como sendo o representante máximo do repente. Com invulgar poder criativo, os menestréis do passado ampliaram consideravelmente o acervo do repente com a criação de novos estilos.

Na visão de Orlando Tejo, no livro: "Zé Limeira, poeta do absurdo", sintetiza o que vem a ser cantador: Os cantadores constituem imensa legião de homens que amam, sonham, sofrem e brincam de viver no mundo, pescando estrelas, caçando ilusões, plantando tardes, colhendo auroras, levando a sua imagem sutil e profunda, tímida e vigorosa ao povo ávido de poesia que os ouve embevecido.

Inúmeras são as conceituações desses rapsodos da poesia nordestina, se levarmos em consideração a expressão literal da palavra e a função desses mensageiros do improviso e da felicidade.

A pesquisa não se deteve muito a outras concepções de pesquisadores de cultura popular, por considerar que o assunto será bastante enfatizado nas páginas seguintes da monografia, procurando mostrar a importância do poeta-repentista do nordeste brasileiro.

ESTILOS DE CANTORIAS

A região nordestina assinalada pelo estigma da seca, marcada no quadro dantesco do sertão adusto, com suas árvores atrofiadas e nuas, é a terra onde nascido e vivido, sofrendo e cantando, os maiores valores da poesia popular, expoentes da inteligência inculta, mestres consumados nos repentes, insuperáveis nos improvisos.

Diversos são os gêneros da poesia popular do nordeste brasileiro. Além de vários gêneros poéticos adotados pelo violeiro sertanejo, cantando só, ou alinhando em dupla para o desafio.

Estas não se acorrentaram a regras imutáveis, inexpressivamente sem vibração. Ao contrário, quase todas as formas vêm evoluindo, adquirindo plasticidade, tomando feição renovadora, apurando o estilo, progredindo. Essas matizes, muitas vezes revelando um colorido cintilante, ostentando o poder imaginativo, comparativamente aos arranjos musicais celebrizando compositores, atestam o processo evolutivo, reformista, na arte de cantador nordestino, no decurso do século vigente.

A cada estilo de cantoria, para tornar mais fácil ao leitor entender a sua conceituação, exemplificamos com glosas e repentes de vates nordestinos, decantados na Região Jaguaribana.

Entre as criações dos poetas clássicos, que vieram a ser usadas pelos nossos repentistas, estão as modalidades a seguir especificadas:

SEXTILHAS - Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero mais preferido pelos nossos cantadores, principalmente no início das apresentações. Seu criador foi Silvino Pirauá Lima. A sextilha é uma estrofe com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos de sete silabas, nomes que tem a mesma significação.

SETE LINHAS OU SETE PÉS - No inicio do século atual, o cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação a sextilha, criando o estilo de sete versos, também chamado de sete pés, rimando os versos pares até o quarto, como na sextilha; o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto.

MOURÃO - Muito interessante é o Mourão, gênero que se canta em dialogo. Sua forma originaria, de seis versos, foi substituída pela de cinco, ainda no século passado. O Mourão, na sua essência, conceitua-se como o desafio natural. Gênero poético dos mais difíceis nunca desdenhados pelos nossos repentistas ajustasse-lhe melhor a denominação de trocadilho, porque, em dialogo, os articulistas se revezam nos versos e nas estrofes. Exemplificamos aqui, apenas uma de suas variantes, no caso, "o mourão voltado".
DÉCIMA - Embora de origem clássica, é a decima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da poesia popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estância a receber a denominação de glosa.

GALOPE A BEIRA MAR - Gênero muito apreciado pelos apologistas da poesia popular, juntamente com o martelo, recebeu a denominação de décima de versos* compridos. O galope e assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros. Foi criado pelo repentista cearense "Zé Pretinho", natural da cidade de Morada Nova.

TOADA ALAGOANA - é um gênero pouco usado, porém muito bonito, em virtude das rimas encadeadas de forma agradável a toada.

REMO DA CANOA - Estilo originário das emboladas de coco, recentemente adaptado para as cantorias de viola, uma inovação do poeta repentista Ivanildo Vilanova. Sua toada melodiosa é muito bonita e suave, sendo bastante apreciada pelos apologistas da poesia popular.

BRASIL CABOCLO - Considerado um dos estilos mais preferidos pelo repentista nordestino. Consiste em uma estrofe de dez versos de sete sílabas, semelhante ao estilo da décima, isto é, seguindo o mesmo sistema das estrofes de dez linhas.

MARTELO AGALOPADO - O martelo atual, criação do genial violeiro paraibano Pirauá Lima, e uma estrofe de dez versos, em decassílabos, obedecendo a mesma ordem de rima dos versos da decima. Todavia, sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os cantadores se martelarem durante suas pugnas. Sua significação esta ligada ao nome do diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do Sec. XVII, que foi professor de Literatura da Universidade de Bolonha, portanto, o criador do primeiro estilo.

O BOI DA CAJARANA - A transformação de mote em estilo da cantoria tem sido a principal criação da Literatura de Cordel Oral, nas últimas décadas do século XX. De autoria de Ivanildo Vilanova e Adauto Ferreira, originou-se do mote: "Eu quero o boi amarrado/No pé da cajarana. A consagração do estilo foi muito rápida, mesmo com a quebra da métrica no segundo verso do mote.

O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS - Derivado da décima, O Que é Que Me Falta Fazer Mais, é um mote decassílabo, que transformou em gênero pela extraordinária aceitação popular. Rico em conhecimentos e doce em musicalidade tende a permanecer por muito tempo, na primeira linha da preferência dos amantes da cantoria.

GEMEDEIRA - Pela própria denominação do gênero, vemos que serve para temas gracejantes. É a gemedeira um estilo de poesia, caracterizado pela interposição de verso de quatro, ou, raramente duas silabas, entre a quinta e a sexta linha das sextilhas, formado pelas interjeições: “ai e ui! ou ai! hum! Esse estilo, geralmente é cantado de forma jocosa e humorística.

QUADRÕES - ao longo do tempo, o quadrão tem sido o gênero a receber o maior numero de alterações, não só na sua forma interna, mas, também, na estrutura das estrofes, em geral.

REBATIDO - É originário da oitava com versos septissílabos. Os versos dois e quatro terminam, obrigatoriamente com "ido", para rimar com estribilho "No oitavão rebatido", na última linha da estância.

DEZ PÉS DE QUEIXO CAÍDO - este gênero, ainda em voga, esta incluído na décima, apresentado, no final de cada estrofe, este estribilho: " Nos dez de queixo caído".

ROJÃO PERNAMBUCANO - Diz-se de uma estância de dez versos heptassílabos nos dois últimos versos, repetidos pelos cantadores. Esse gênero foi gravado pelos cantadores Ivanildo Vilanova e Severino Feitosa.

ROJÃO QUENTE - É mais uma das recentes criações originárias do mote, que vem, ultimamente, oferecendo novos estilos ao já expressivo acervo do repente. Coqueiro da Baia/quero ver meu bem agora/quer ir mais eu vamos/quer ir mais eu vambora. A obrigatoriedade de metrificação é apenas para a sextilha, que utiliza versos setissílabos, com a mesma métrica e acentuação. Estilo bastante utilizado para encerrar as cantorias.

TIPOS DE CANTORIA

Não há na Literatura Popular Nordestina, uma divisão clássica da cantoria de viola, propriamente dita, dentro do seu aspecto conceitual. Consultando diversos autores do gênero, concluímos que nas cantorias de Literatura Oral do Nordeste, encontramos dois tipos de poesias; um tradicional que está sempre na memória dos cantadores, e que serve justamente para encher o tempo, denominada de "Obra Feita"; outro, é o improvisado, é o repente, o verso do momento, dito face um fato momentâneo, ou a propósito de uma pessoa presente. Este último é o autêntico improviso, muito comum, sobretudo no desafio.

Conversando com poetas-repentistas e apologistas da poesia matuta, foi possível identificarmos os tipos de cantorias mais utilizados da atualidade, sem prejuízo do conceito retro citado. Essas conceituações podem ser modificadas, é lógico, com um estudo mais acurado sobre o assunto. A divisão abaixo, a nosso modo, parece ser a que mais retrata a realidade presente, sem, contudo, perder a essência da poesia decantada e improvisada ao som da viola.

Ouvindo atentamente as pessoas consultadas, constatamos que a cantoria pode ser classificada em seis variantes a seguir:
I) Pé de Parede; II) Dos Compadres; III) Especial; IV) Ocasional; V) Convencional; e VI) De Feira.

Para melhor entendimento do leitor, procuramos definir cada uma das modalidades, consoante declarações dos entrevistados, objetivando dar uma noção geral das variedades de cantorias no Nordeste Brasileiro.

1) Cantoria "Pé de Parede - Essa modalidade frequentemente utilizada, após o término dos festivais de violeiros. Os poetas-repentistas são solicitados para fazerem suas apresentações para um pequeno número de apologistas admiradores da poesia matuta. Geralmente, apresenta-se duas ou mais duplas, com a utilização da famosa bandeja. É chamada Pé de Parede, pois, os cantadores ficam encostados em uma parede, sentados em duas cadeiras, sem recurso de som ou palco de cantoria.

2) Cantoria dos Compadres - É a forma que está mais sendo utilizada atualmente. O cantador aproveitando o espaço radiofônico de seu programa, para marcar cantoria com compadre, amigo e/ou parente próximo, de livre e espontânea vontade, sem o prévio entendimento com o dono da festa. Essa foi a única maneira que o repentista encontrou para realizar as suas cantorias.

3) Cantoria Especial - Como o próprio nome diz, ela é realizada em circunstâncias especiais. É muito comum esse tipo de cantoria em festas de casamento, batizado, bodas de ouro, aniversário, etc. O promovente contrata os poetas-repentistas por um preço justo e convida amigos e parentes das localidades próximas a se fazerem presentes a festa.

4) Cantoria Ocasional - É pouco usual nos dias atuais, todavia, ainda é praticada em algumas regiões do país. É aquela em que o cantador viajando; chegando a um determinado lugar, pede autorização ao dono da casa para realizar uma cantoria. Este, aceitando o pedido, responsabiliza-se por convidar amigos e vizinhos da localidade, para assistirem a peleja.

5) Cantoria Convencional - É a chamada famosa cantoria tradicional. Com o advento da televisão, do rádio, do cinema, etc., se não houver um incentivo por parte dos órgãos competentes, tende a desaparecer com o passar dos tempos. Consiste na porfia em que o promovente convida os poetas-repentistas para decantarem em sua residência, por uma quantia pré-estabelecida entre as partes, para uma platéia de apologistas presentes ao embate poético. Essa gradativamente está sendo substituída pela cantoria dos compadres.


6) Cantoria de Feira - É aquela em que seu desenlace se dá em feiras livres ou em botecos e bares adjacentes. Muito embora seja bastante utilizada por alguns violeiros, no entanto, não é apreciada pela maioria dos menestréis da viola. Essa forma de cantoria é muito criticada pelos cantadores profissionais, pois, consideram um desagravo a profissão de cantador, haja vista, que a noção que se tem é que essas pessoas cantam seus versos por uma quantia ínfima de dinheiro, prejudicando os grandes talentos da poesia popular.

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