Entre relíquias e até figurinha de desenho
animado vários objetos estão vindo à tona
no Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, na
antiga casa do historiador
Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte
O
escritor, pesquisador, historiador, etnógrafo, professor, jornalista e advogado
Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), que não gostava de ser chamado de
folclorista apesar de ser referência na área, tinha mania de guardar tudo que
lhe interessava. Seu espólio ainda não foi totalmente revelado, e a cada novo
‘mergulho’ no universo cascudiano surgem pérolas dignas de compor uma exposição
de alcance internacional tamanha a diversidade de assuntos que o maior dos
intelectuais do Rio Grande do Norte dominava. Livros antigos, relíquias
históricas e curiosidades que atestam o alcance de suas amizades.
Entre
as raridades que estão sendo descobertas, destaque para um missal romano
escrito em latim que pertenceu ao Padre Cícero (a relíquia contém anotações do
próprio datada de 1908), presente de aniversário oferecido pelo Padre Chacon a
Cascudo em 1968; um livro impresso em páginas de cetim, numerado e
personalizado, com ilustrações feitas à mão, editado no Rio de Janeiro em 1944
pela Confraria Bibliófila Brasileira Cattleya Alba; o relógio de ouro de
algibeira que Cascudo usava.
Também
constam fotos da viagem que Cascudo fez à África em 1963; a curiosa Carteira do
Bom Marido (em branco); negativos de vidro com imagens antigas da Ribeira e
microfilmagem de ilustrações que Frans Post fez no século 17 no período da
dominação holandesa (1630-45); documentos pessoais como uma identidade ainda
dos tempos de solteiro e boletins escolares; recortes de jornais de todo o
mundo falando sobre suas pesquisas; e caricaturas que recebia de presente de
chargistas de todo o país.
“Cascudo
guardava tudo, desde envelopes com selos de várias partes do mundo até um
pedaço de embalagem daqueles produtos de beleza da Elke Maravilha. Também
encontramos a miniatura de uma camisa do Botafogo do Rio de Janeiro alusiva ao
bicampeonato do clube e muitos caderninhos com anotações”, disse o restaurador
Woldney Ribeiro, que trabalha na organização do acervo há cinco anos, desde a
abertura, em janeiro de 2010, do memorial e museu Ludovicus – Instituto Câmara
Cascudo, criado pela família como forma de preservar a memória do potiguar
ilustre. “Outro dia encontrei uma figurinha da Pantera Cor de Rosa, acredito
que ele era fã da personagem”, arrisca Ribeiro.
“Não
desprezamos nada, tudo tem seu lugar”, adiantou Daliana Cascudo, neta do
historiador e diretora responsável pelo Instituto, que é aberto à visitação
pública (de terça a sábado) e funciona na casa que pertenceu à família de sua
mulher Dahlia, onde o historiador morou com ela e os filhos, ali na subida da
Ribeira para a Cidade Alta. Segundo Daliana, a proposta é digitalizar tudo e
disponibilizar para consulta de maneira informatizada em terminais instalados
na própria sede do Instituto.
“As
peças mais valiosas ficam guardadas em outro lugar por questão de segurança,
caso do relógio de ouro que tem uma foto da minha avó (Dona Dahlia) colada por
dentro do vidro para vovô lembrar dela todas as horas do dia”, frisou Daliana.
“Com a digitalização, todos poderão ter acesso a esse material”.
Daliana
e o restaurador receberam a reportagem do VIVER em uma tarde movimentada: o
professor Humberto Hermenegildo (da UFRN), estudioso da obra de Cascudo, e o
pesquisador e jornalista Sandro Fortunato também visitavam o Instituto e
ficaram surpresos com a quantidade de material inédito ali reunido. “Dá para
desdobrar esse acervo em várias exposições temáticas”, sugeriu Hermenegildo.
Cartas
A
digitalização dessa parte do acervo deixado por Câmara Cascudo, que também
inclui livros, obras de arte e cartas, é a segunda etapa de um trabalho que
começou em 2010 quando o Ludovicus foi inaugurado. “É tanta informação, tanta
curiosidade, que bebemos da história sem querer”, anima-se o restaurador
Woldney Ribeiro.
A
primeira etapa consistiu na identificação, catalogação e digitalização das
quase trinta mil cartas que Cascudo trocou ao longo da vida com personalidades
do quilate de Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Assis Chateaubriand, Getúlio
Vargas, Juscelino Kubitschek, entre outras figuras do Brasil e exterior. Como
Cascudo colecionava e arquivava de acordo com critérios pessoais, muita coisa
está misturada e não será nenhuma surpresa se a cada investida no acervo surjam
novidades.
“Quando
começamos a mexer nas cartas encontramos muitas fotos, recortes jornais, entre
outros documentos”, lembrou Daliana. “O que eu pude separar ia organizando, mas
agora chegamos à parte mais trabalhosa desse material; tem bastante coisa
misturada ainda como cartazes e folhetos, souvenires, medalhas”, acrescentou
Ribeiro. Vale lembrar que as cartas estão disponíveis para consulta em
terminais instalados no próprio Instituto. “Por questões de direitos autorais
não podemos disponibilizar essa pesquisa na internet (cascudo.org.br), Cascudo
recebeu as cartas mas o autor é outra pessoa”, avisou Ribeiro.
O Ludovicus – Instituto
Câmara Cascudo
funciona no número 377 da Av. Câmara Cascudo (antiga Av. Junqueira Ayres), de
terça à sábado, das 9h às 17h. Informações: 3222-3293. Entrada: R$ 3,00 e R$
1,50 (meia entrada).
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