domingo, 13 de maio de 2012

ESTOU SÓ



Estou todo encolhido como dentro de uma bexiga, cheia de água.
Estou só! Não sinto outro ser ao meu lado.
Sentindo-me só, fico ansioso; quero sair, libertar-me daquela prisão.
Na ansiedade, movimento-me.
Ali! Deu algum resultado aquele meu movimento, pois ouço vozes, e estão dizendo:
- Mexeu? Sinta! Coloque sua mão aqui, está sentindo?
- Não! Não estou sentindo.

Estou só! Vocês não estão vendo?
Tirem-me daqui, estou só!

Novamente as vozes:

- Mexeu outra vez! Acho que ele está doidinho pra sair - e tem razão - tá chegando a hora!

Estou só! Mas muitas vezes tenho ouvido vozes dizendo:

- Pai, permita que ele esteja bem: perfeito, saudável.
Ah! Deus permita essas bênçãos, e eu Te agradecerei e O louvarei para sempre.

Continuo só! Preciso sair pra conhecer de quem são aquelas vozes bonitas, e que eu gosto, e que me alegram e me confortam nesta solidão.
E também quero saber quem é e como é esse Deus - de quem tanto ouço falar.
E, assim, pensando, remexo-me dentro da bolha com mais insistência, com mais violência.
Xiii! O líquido como água está saindo! Está esvaziando minha bolha!
E agora?
Ouço a voz bonita dizer:

- Chegou a hora, a bolsa furou! Corra... Vá buscar a parteira!
Ele vem vindo, vem chegando. Corra...

Ainda estou só!
Porém sinto que algo está acontecendo lá do outro lado da minha solidão - e é algo bom! Porque estou sentindo arrepios esquisitos, gostosos.
Ouço muitas vozes dizendo, muitas coisas que não entendia.
Somente uma eu conseguia entender, dizendo em alto tom:

- Força... Mulher! Força...! Ele vem chegando, coragem!
Força, vamos!

De repente, sinto forte claridade, algo está segurando meus pés e alguma coisa bate em minha bundinha! Ardeu...
E eu comecei a falar, ou era chorar?
Não sei, ainda não sabia onde estava e se estava só!
Um ruído de coisa líquida como na bexiga onde eu só estava, comecei a ouvir e sentir meu corpinho envolver com uma voz dizer:

- É um meninão! E é bonito... Gordinho... Forte e saudável... Uma beleza!

Ouço muitas vozes bem próximas. Será que continuo só?
Ou será que finalmente não estou só!

Em seguida, sinto um calorzinho gostoso.
Estou sendo segurado e acariciado maciamente por alguém, e esse alguém eu conheço.
E quando fala comigo eu reconheço aquela linda voz - a que mais eu ouvia quando só estava!
E eu abro meus olhos - e a primeira coisa que vejo neste mundo era: um bonito rosto de mulher sorridente, radiante - com dois lindos olhos a me fitar.

E, então, carinhosamente ela faz chegar a meus lábios o bico de um de seus seios, e começa a me alimentar, para que eu me fortalecesse, crescesse e conhecesse outros sentimentos, além daquele primeiro.

Estou só? Não! Não estou mais só.
Estou com a minha mãe.



Autor: Ismael Saes de Oliveira
Enviado por: Boanerges Saes de Oliveira
Fonte: site Encanto e Poesia

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