Não que a imprensa seja tão volúvel assim, mas a verdade é que, ontem, o Nem suplantou o Lupi. Nos blogs, nas telinhas, nos microfones e nos jornais, o noticiário sobre a prisão do chefe do tráfico na favela da Rocinha deixou para trás as especulações sobre a exoneração do ministro do Trabalho, ajudadas pelo seu humilhante mea culpa com relação a declarações da véspera. Ganhou uma sobrevida, sabe-se lá se de dias ou semanas, em especial porque o Nem algemado presta-se mais a imagens e fotografias, sem falar na rocambolesca história de sua prisão.
Ficamos sabendo, também, que o tráfico de drogas comandado na maior favela carioca movimenta 100 milhões de reais ao ano, em torno de 150 toneladas de cocaína, maconha e similares, coisa que nos leva à tentação de inverter a equação do crime. A causa são as drogas e os traficantes, o efeito serão os pobrezinhos consumidores, ou será o contrário?
Existiriam os traficantes caso inexistissem os consumidores? Não será a multidão de viciados a causa principal da existência do tráfico e de bandidos como o Nem? Porque posto fora de combate, mesmo podendo continuar controlando a deletéria atividade atrás das grades, como o Fernandinho Beira-Mar, o máximo que pode acontecer é a troca do Nem pelo Bem, o Cem, o Fem e muitos outros.
Ainda esta semana o Senado aprovou projeto considerando crime dirigir embriagado, mesmo sem ter provocado qualquer acidente. O diabo é que não constitui crime o cidadão ser flagrado fumando maconha ou cheirando cocaína, se estiver na posse de quantidade apenas suficiente para o seu uso. Não caracterizado como traficante, mas só usuário, ficará à margem das penas da lei.
Com isso, nivela-se todos os drogados como vítimas, doentes a merecer tratamento e compreensão por parte da sociedade. Sabemos não ser bem assim, em especial por conta das classes que formam a maioria do contingente dos usuários, os bem aquinhoados pela fortuna. São eles que mais contribuem para a movimentação dos cem milhões da Rocinha. Primeiro porque não moram lá, mas em volta, no asfalto, à beira-mar, até em residências de luxo. Depois, porque recebem a droga por portador, até pelo correio, sem correr o menor tipo de risco.
Estão felizes, sejam os filhinhos, sejam os próprios papais. Enquanto não se atacar as causas, permanecerão os efeitos, mesmo mudando de nome, ou ainda que assassinados por comparsas ou pela polícia, numa ciranda de alta rotatividade. Sobre os consumidores deveria ser estendido o braço pesado da lei, não parecendo tão difícil assim identificá-los. Numa palavra: sem eles não haverá traficantes… Sem receptadores, não existe ladrão!!
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