Falabella
posa com as protagonistas de ‘Sexo e As Negas’.
Foto:
Divulgação
A ouvidoria
da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial já recebeu três
denúncias de racismo por conta da minissérie “Sexo e As Negas”, de Miguel
Falabella, transmitida pela Rede Globo. Nos últimos dias, diversas organizações
do movimento negro e de mulheres iniciaram, na internet, uma campanha de
boicote ao programa, que seria uma adaptação brasileira do seriado americano
“Sex and the City”.
Nesta
terça-feira (9), Miguel usou o Facebook para rebater as críticas. “Estou nessa
profissão há muitos anos. Não consigo confessar quantos. Tenho feito grandes
amigos, tenho construído laços de afeto e respeito e costumo estabelecer, com
aqueles que trabalham comigo, laços de amor. Portanto, dói-me ver a luta de
meus colegas negros na nossa profissão. As oportunidades são reduzidas, não
trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que
aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um
programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar
e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia
e nem achei que iriam aceitar o programa”, disse.
“Que caretice é essa?”
O autor mostrou
indignação com as denúncias. “Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as
negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os baianos
arrastam a língua e dizem ‘meu nego’, os cariocas arrastam a língua e devoram
os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as
negras não? Que caretice é essa? O problema é por que elas são de comunidade?
Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que
bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre
guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os
mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa,
do negro de p** grande, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata
deixaram crescer entre nós. Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa,
como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro
mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não
sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos
são graves de qualquer maneira. Como é que se tem a pachorra de falar de
preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso
sobre algo que sequer viram? ‘Sexo e as Negas’ não tem nada de preconceito.
Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas
podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência,
como autor”, justificou.
Miguel ainda
aproveitou para relembrar sua origem humilde. “Não sou Ipanemense (nascido no
bairro de Ipanema, zona sul do Rio). Sou suburbano, cresci com a malandragem
nos ouvidos. Portanto, as minhas personagens são camareiras, cozinheiras,
indicadoras de mesas, operárias. E desde quando isso diminui alguém? São
negras, são pobres, mas cheias de fantasia e de amor. São lúdicas! E sobrevivem
graças ao humor. Seres humanos. Reais. Com direito a uma vida digna e muito…
Mas muito sexo! Vai dizer agora que eu sou racista? Ah! Nega…Dá um tempo… Dito
isso, faço como Truman Capote: never complain e never explain! (Nunca reclame e
nunca explique)”, concluiu.
(***) FONTE: IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário