quarta-feira, 10 de setembro de 2014

APÓS DENÚNCIAS DE RACISMO, FALABELLA REBATE POLÊMICA: “QUE CARETICE É ESSA?”

Falabella posa com as protagonistas de ‘Sexo e As Negas’.
Foto: Divulgação

A ouvidoria da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial já recebeu três denúncias de racismo por conta da minissérie “Sexo e As Negas”, de Miguel Falabella, transmitida pela Rede Globo. Nos últimos dias, diversas organizações do movimento negro e de mulheres iniciaram, na internet, uma campanha de boicote ao programa, que seria uma adaptação brasileira do seriado americano “Sex and the City”.

Nesta terça-feira (9), Miguel usou o Facebook para rebater as críticas. “Estou nessa profissão há muitos anos. Não consigo confessar quantos. Tenho feito grandes amigos, tenho construído laços de afeto e respeito e costumo estabelecer, com aqueles que trabalham comigo, laços de amor. Portanto, dói-me ver a luta de meus colegas negros na nossa profissão. As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa”, disse.

“Que caretice é essa?”

O autor mostrou indignação com as denúncias. “Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os baianos arrastam a língua e dizem ‘meu nego’, os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é por que elas são de comunidade? Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa, do negro de p** grande, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata deixaram crescer entre nós. Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos são graves de qualquer maneira. Como é que se tem a pachorra de falar de preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso sobre algo que sequer viram? ‘Sexo e as Negas’ não tem nada de preconceito. Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência, como autor”, justificou.

Miguel ainda aproveitou para relembrar sua origem humilde. “Não sou Ipanemense (nascido no bairro de Ipanema, zona sul do Rio). Sou suburbano, cresci com a malandragem nos ouvidos. Portanto, as minhas personagens são camareiras, cozinheiras, indicadoras de mesas, operárias. E desde quando isso diminui alguém? São negras, são pobres, mas cheias de fantasia e de amor. São lúdicas! E sobrevivem graças ao humor. Seres humanos. Reais. Com direito a uma vida digna e muito… Mas muito sexo! Vai dizer agora que eu sou racista? Ah! Nega…Dá um tempo… Dito isso, faço como Truman Capote: never complain e never explain! (Nunca reclame e nunca explique)”, concluiu.

(***) FONTE: IG


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