sábado, 15 de janeiro de 2011

AS TEMPESTADES TAMBÉM TRAZEM DEMAGOGIA E DESCASO COM A VIDA



Os casos se sucedem, ano a ano, nas mesmas regiões, e, infelizmente, em trágicas proporções. Estamos falando das enchentes que voltam a castigar as regiões Sul e Sudeste do Brasil e milhares de brasileiros. Pior, voltam a tirar centenas de vidas. Assim como são chocantes as imagens e os relatos que vemos no noticiário, são enfadonhas as discussões sobre de quem é a responsabilidade nesse tipo de situação.

E aí surgem eles... Os políticos. Quer dizer, não surgem assim, de maneira tão voluntária. No caso dos detentores de mandato nas localidades atingidas, eles são, muito antes, impelidos a aparecer e pressionados com justa razão a tomar providências. Diante do caráter absolutamente dramático da situação, algumas dessas medidas até são tomadas em caráter emergencial. Porém, e não raro, é só se dissiparem e as nuvens levam junto a consciência sobre a necessidade de dotar nossas cidades de estrutura capaz de suportar as fortes cheias.

Assim, de tragédia em tragédia, nossos dirigentes vão empurrando a questão com a barriga. Até que venha a próxima enxurrada e literalmente jogue tudo por água abaixo. Não sem trazer a reboque as mesmas cenas vividas, transmitidas e assistidas em casos anteriores.

Não precisamos nem ir muito longe para ilustrar como é grande a distância entre as promessas feitas no calor do momento e a realidade com pouco (ou nenhum) resultado prático. Ainda que não na magnitude do quadro atual do Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte e uma parte significativa dos potiguares sofreram bastante com as cheias no início de 2008. Os prejuízos, na época, foram estimados em R$ 98 milhões.

Solícito à primeira hora, o governo federal prometeu liberar esses recursos para o Estado. Tudo da "forma mais rápida possível". Até onde se sabe, não chegou a 10% o volume de dinheiro efetivamente repassado pela União para recuperar os danos provocados pelas chuvas no Rio Grande do Norte.

A pequena fração liberada para o Estado caiu na conta da burocracia - necessária, diziam com certa razão os técnicos federais, para evitar o "mau uso" do dinheiro público. O fato é que muito pouco do prometido chegou para beneficiar os potiguares prejudicados.

Por outro lado, o Congresso Nacional abriga vários projetos que, uma vez aprovados e implantados, minimizariam os efeitos mais danosos das enchentes e muito mais relevantes, poupariam muitas vidas. Ocorre que esses projetos estão parados pela total falta de interesse dos nossos parlamentares em votá-los. Muito diferente do projeto que deu aos nobres congressistas um aumento salarial de 62% - votado em cerca de 20 minutos.

Estes são apenas alguns exemplos de que nossa classe política pode ajudar mais, muito mais, do vem fazendo. Poderiam começar isso falando menos e explorando menos ainda os dramas humanos, e trabalhando de fato para evitá-los ou, pelo menos, para reduzir seus impactos. Há muito passou da hora de nossos políticos, independentemente de cor partidária, pararem de conversa fiada e arregaçarem as mangas. Ou terem a dignidade de assumir as conseqüências muitas vezes irrecuperáveis geradas pela sua omissão.

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