Por Reinaldo Azevedo
Escrevi ontem um texto sobre a reunião que Luiz Inácio Apedeuta da Silva manteve com José Dirceu e Rui Falcão na segunda para tratar da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Apontei a imoralidade intrínseca daquele encontro no ano em que — espera-se, não é, ministro Ricardo Lewandowski? — o caso do mensalão vai ser julgado. Conta-se com um mínimo de compostura de um ex-presidente da República.
É claro que pode conversar com o seu colega de partido. Discutir, no entanto, eleições com alguém acusado de ser chefe de quadrilha e que teve o mandato cassado por corrupção vai muito além das longas franjas éticas da política brasileira. É falta de vergonha na cara mesmo. Mas, como se escreveu aqui, ser petista é jamais ter de pedir perdão… Pois é! Ocorre que a informação de que dispunha ali não estava completa, não! A coisa é bem pior!
Na Folha desta quarta, Catia Seabra informa que o “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) vai ser uma das pessoas encarregadas de montar a equipe de campanha de Haddad. Ora, onde quer que o Zé esteja — e isso não deixa de ser um elogio, né? —, ele nunca é “um dos”; ele sempre é “o”!!! Assim, tem-se que Haddad, que já é uma invenção eleitoral de Lula, será agora também um comandado de Dirceu. A sua equipe de campanha obedecerá as ordens do Zé e certamente se pautará pelas balizas éticas desse grande patriota e desse exemplo de ilibada reputação política. Uma coisa é certa: Haddad contará com o apoio entusiasmado daquela turma que digere bobó de camarão com caipirinha.
No momento em que o país é sacudido pela Operação Monte Carlo, que destruiu uma das figuras mais reluzentes do Senado — por conta de escolhas que ele fez, é bom que se destaque! — e que ameaça arrastar outros tantos (ver posts abaixo), também do PT, a principal personagem daquele que é ainda o pai de todos os escândalos assume o papel de protagonista na disputa pelo comando da principal cidade do país. Ora, deem uma boa razão para que Delúbio Soares não seja convidado para ser o caixa de campanha.
Se o chefe pode assumir tal papel de destaque, por que não o subordinado? A dupla já é colega de colunismo político. O tesoureiro da campanha de Lula de 2002 foi reintegrado ao partido e recuperou seu antigo prestígio da sigla. Se os petistas já decretaram a inocência de Dirceu, não têm por que não fazer o mesmo com Delúbio. É isto: em nome da justiça e da isonomia, vamos dar início a uma campanha: “Delúbio para caixa de campanha de Haddad”. Se o mensalão levou Dirceu a criar aquela frase de ecos hamletianos — “Estou cada vez mais convencido da minha inocência” —, a Delúbio a gente deve o eufemismo de inflexão burocratizante para a pilantragem do caixa dois: “recursos não-contabilizados”.
A certeza da impunidade é de tal sorte; é tão ousada a aposta na memória curta do eleitorado, que o Zé é alçado ao posto de homem mais importante da campanha de Haddad, mesmo com o currículo que exibe — melhor ainda: POR CAUSA DO CURRÍCULO QUE EXIBE. Se fosse dado ao PT escolher entre a vitória em São Paulo e, sei lá, em 200 outros municípios, incluindo muitas capitais, a legenda não hesitaria um segundo: quer a maior cidade do país porque isso é considerado um passo importante para acabar com o PSDB. Os petistas consideram uma pena que não possam lograr esse intento usando a Polícia Federal — se é que vocês me entendem.
O Zé na área também é a certeza de que vem truculência por aí. O PSDB pode ir se preparando. Não será um jogo de salão. O mensalão, como sabem, foi a escolha de um método. E o homem que comandou aquele bordel político, segundo a Procuradoria Geral da República, foi Dirceu. Ele não mudou. A história demonstra que o tempo tem ressaltado e extremado os aspectos viciosos de sua ação — na hipótese, sou generoso, de que possa haver os virtuosos — um que seja…
Três semanas de noticiário bastaram para tirar Demóstenes do DEM e para liquidar com sua reputação política. Passados sete anos do mensalão, o Zé continua tão poderoso quanto antes e certamente muito mais rico, dado o dinheiro que ganhou como “consultor de empresas privadas”… Como ele mesmo disse numa entrevista ao repórter Fernando Mello, na revista Playboy, um telefonema seu para o Palácio do Planalto, ”é um telefonema…”
Eis aí! Haddad é um títere criado por Lula e agora manipulado por Dirceu.
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