quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O PASTORIL

PASTORIL TAMANCO DE PAU

O Pastoril é um auto que tem origem na Lapinha, com raízes dos dramas litúrgicos representados inicialmente nas Igrejas Portuguesas e de características puramente religiosas; é um bailado que integra o ciclo das festas natalinas do Nordeste, teve início na Idade Média e era clássico em Portugal onde recebia a denominação de Auto do Presépio. Tinha, contudo, um sentido apologético, de ensino e defesa da verdade religiosa e da encarnação da divindade.

Segundo os estudos de Mário de Andrade, celebrar Noites de Festa (refere-se aqui as festividades do Natal) é um verdadeiro tempo de "brinquedos" das danças dramáticas iniciada com a representação do Pastoril da Noite de Festa do Natal e terminada com a celebração dos Caboclinhos no Carnaval.

Historicamente as representações natalícias do Pastoril e seus dramas chegaram ao Brasil pelas mãos dos jesuítas e registros apontam que no Século XVI lá na Província de Pernambuco como local que primeiro apresentou essa manifestação com as dramatizações natalinas, depois apareceram no Século XIX registros de Bailes Pastoris na Bahia e no restante do nordeste brasileiro.

Outra observação feita por Mário de Andrade é que os Pastoris nunca tiveram uma evolução nacional, permaneceram nas suas terras de origem: o nordeste brasileiro. Para ele "se o presépio é usança nacional, o Pastoril não se estendeu para o centro-sul do País" (pag.350, Danças Dramáticas do Brasil).

No Brasil, o auto mantém a tradição portuguesa e permanece se apresentando apenas nas igrejas para anunciar a chegada do menino Jesus. Continua fazendo parte dos festejos de Reis que retrata as andanças dos Três Reis Magos do Oriente na entrega dos presentes ao menino Jesus que tem inicio no dia 24 de dezembro e se estende até o dia de 06 de janeiro.

A teatralidade é a grande característica do Pastoril religioso, porém são os elementos sociais profanos que vão pouco a pouco tomando importância desmesurada, que destrói a finalidade religiosa primitiva do teatro e que nos faz rir. Na realidade é por sua beleza que cai nas graças populares, sai dos pátios das igrejas e ao fazer rir, cai na profanidade e ganha característica próprias brasileiras.

Enquanto na Lapinha é composta por meninas moças com vestes comportadas e uma única presença masculina que é a do pastor, o Pastoril vem com um figurino mais ousado, com saias acima do joelho e um palhaço que faz gestos maliciosos com sua macaxeira (bengala), canta e faz loas (poesias comum aos autos brasileiros) com segundas intenções.

Estudiosos do pastoril apontam o final do século XIX como à passagem do Pastoril religioso para o Pastoril profano, momento em que os antigos presépios, lapinhas e pastoris sagrados tiveram que conviver com esse bailado profano.

Entretanto, o surgimento dessa característica mais popular não implicou a eliminação dos autos natalinos, sendo estes encontrados ainda em sua forma sagrada em alguns estados brasileiros da região nordeste ou brincados somente durante o ciclo natalino.

O bailado em sua forma religiosa ou profana apresenta dois cordões de pastoras que se vestem de azul e encarnado (vermelho) e entre os dois cordões está a Diana que é a mediadora das rivalidades existentes nos cordões de pastoras. As cores, segundo Mário de Andrade representam a luta entre cristãos e mouros, e ainda, a Virgem Maria e Nosso Senhor.

Segundo relatos das mestras de Pastoril de Caraúbas em Maxaranguape/RN, o palhaço entrava em cena depois da quarta musica e com a chegada dele, a brincadeira ganha à irreverência do humor malicioso do Véio (nome do palhaço).

Nas décadas passadas, o Pastoril de Contradanças era motivo de disputas: os rapazes escolhiam seus cordões e competiam financiando suas pastoras preferidas para dançarem para seu agrado. Nessas disputas alguns homens gastavam o dinheiro da feira e os mais ricos até seus bens mais valiosos, essas competições algumas vezes acabavam em brigas e até em morte. Devido às muitas confusões hoje não se faz mais o Pastoril de Contradanças.

Os Pastoris junto com os Bois de Reis são considerados os mais populares espetáculos no nordeste brasileiro. No Rio Grande do Norte durante muitas décadas junto aos grupos de Bois de Reis foram as principais atrações das festas.


Em alguns municípios do Rio Grande do Norte, os Pastoris estão ativos sejam em suas representações de cunho religioso ou profano. Podemos encontrar essa brincadeira nos municípios de Natal (Praia de Ponta Negra e Bairro do Bom Pastor), São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Maxaranguape, Pedro Velho, Nísia Floresta, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e em Parnamirim (Praia de Pirangi), entre outros, alternando-se em fases de apogeu e de declínio.

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