Quem mora em
Currais Novos, um dos maiores municípios da região Seridó potiguar, compreende
a necessidade de racionar água, mas
reclama quando o esquema do rodízio falha. As bombas podem quebrar ou outros
imprevistos acontecerem, fazendo a espera pelo reabastecimento ainda mais
longa. No bairro José Bezerra, que fica na parte mais alta da cidade, os
moradores dizem que não têm água nas torneiras há duas semanas.
Enquanto
aguardam, há gente que toma banho em bacias para não desperdiçar nada. Outros
deixam as torneiras permanentemente abertas para aproveitar qualquer gota que
escorra pelo encanamento.
A falta de chuvas
e o baixo nível de água no açude que abastece a cidade levaram a Companhia de
Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) a adotar um sistema de rodízio
semanal para que o fornecimento não seja suspenso por completo. Quem hoje
recebe água pelas torneiras, só vai vê-la novamente daqui a sete dias. O
município tem 44 mil pessoas.
O açude de
Currais Novos, o Dourado, que fica a 170 quilômetros de Natal. A capacidade de
armazenamento é de até 10,3 milhões de metros cúbicos de água, mas de acordo
com a medição mais recente, feita no último dia 21 pelo Departamento Nacional
de Obras Contras as Secas (Dnocs), há apenas 0,29% de água no local - já dentro
do chamado volume morto. A Caern acredita que o Dourado deve secar por completo
em menos de uma semana.
Mesmo assim,
ainda é possível encontrar pescadores que insistem em tirar do reservatório o
sustento de casa. Lado a lado com urubus, Francisco de Assis pesca enquanto
ainda dá. “E eu vou fazer o quê? Ainda tem peixe aqui. São pequenos e poucos,
mas é o que tem para comer. Quando o açude secar e os peixes morrerem, eu vejo
outra coisa para fazer”, afirma.
Para quem
não recebe água encanada, a água consumida e usada para os afazeres domésticos
vem das cisternas. Para encher os reservatórios só existem duas maneiras. “Sem
chuva não temos como juntar água pelas calhas. Então a gente espera pelos
carros-pipa ou compra”, conta a agricultora Maria das Graças, de 61 anos. Ela
mora no Povoado Cruz, na zona rural de Currais Novos. “Todos os meses o
carro-pipa vem encher a cisterna, mas não tem dia certo. Como não tenho
dinheiro, todo dia venho aqui no ginásio para pegar água."
A prefeitura
improvisou um chafariz público para fornecer água à comunidade. Assim como
Maria das Graças, crianças e jovens também usam o chafariz. “A gente pega para
vender. Nem todo mundo vem aqui. Então a gente pega, enche os galões e vende
cada um a R$ 0,50, diz Marcelo, de 16 anos. Ao lado dos irmãos, ele carrega o
carrinho umas três ou quatro vezes por dia. “O dinheiro é para minha mãe
comprar comida para gente."
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