sábado, 8 de outubro de 2011

Energia limpa e fundamentos sujos



Dos manguezais da praia de Diogo Lopes em Macau, maternidade do Atlântico, berçário de peixes e crustáceos, onde os peixinhos dão as primeiras nadadas, me contacta o amigo Luiz Itá, que desde menino luta para que os dragões da maldade não conspurquem aquele pedaço do paraíso. Vejam bem,  Itá não é contra o progresso: que venha o progresso, diz ele, mas não para expulsar pescadores, prostituir a juventude e destruir os nativos como sói acontecer em nossa querida América, fruto da ganância dos homens que querem lucro, cada vez mais lucro sem se importarem em destruir plantas e animais.
Desta vez ele está lá às voltas com os pirulitões de ventoinhas. É uma energia limpa, dizem todos. É, mas e daí. Eles vão lá, botam as torres, comem o vento que transformam em energia elétrica, dão meia dúzia de empregos, se muito e vão embora. Para os nativos fica a nova paisagem, agora repleta de pirulitões.  Mais nada. Vejam bem: mais nada, nem essa energia produzida lá poderão usá-la.

A região faz parte da Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, criada pela Lei 8.349 de 17/7/2003, que estabeleceu vários objetivos, dentre eles, criar condições para a melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades autossustentáveis; compatibilizar as atividades econômicas instaladas na Reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais e disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da área. O Plano de Manejo da Reserva que deveria ter sido criado desde 2008, poderia evitar os conflitos que a população padece.

Mas, neste caso específico que denuncia o meu amigo Luiz Itá, o problema é maior. Trata-se de ocupação de área na reserva de propriedade da União pelo Parque Eólico Miassaba II. A obra foi embargada pela Secretaria do Patrimônio da União.
Luiz Itá é membro do Conselho Gestor da Reserva e foi impedido de se aproximar das obras por um funcionário da empresa. Aí ele pergunta como é que ele nascido e criado na região com 48 anos de idade não pode agora caminhar pela sua comunidade que é uma reserva de desenvolvimento sustentável voltada para a população tradicional? E como serão tratados seus companheiros pescadores que precisam circular por ali com o seus petrechos e pescados?

(Matéria Extraída do Baú de Macau: http://www.obaudemacau.com/?p=7656

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