Sucesso, mesmo, obtiveram as marchas contra a corrupção, realizadas ontem em 28 cidades do país. Em algumas, mais, em outras, menos, a população compareceu para protestar diante das lambanças praticadas à sombra dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Propostas concretas foram apresentadas, como o fim do voto secreto no Congresso, a manutenção das prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e a aplicação da lei ficha-limpa em todas as eleições, a partir do próximo ano. Para não falar na necessidade de só cidadãos de reconhecida probidade e capacidade serem nomeados para ministérios e empresas públicas.
Vai tomando corpo o que nasceu apenas como grito de indignação e revolta da sociedade civil diante dos descalabros do mundo oficial. Algo como aconteceu na campanha das “diretas já”, em 1984. Mesmo com o Congresso rejeitando naquele ano a emenda Dante de Oliveira, o caudal não foi contido e até hoje votamos para presidente da República. Mesmo que demore, parece óbvio estarem sendo obstruídos os desvios e desvãos do mau uso da coisa pública.
Importa que não pare nas estruturas oficiais essa manifestação ampla. Porque, no reverso da medalha, a corrupção é geral e irrestrita no arcabouço privado. Para que existam corruptos tornam-se necessários corruptores. Por que não atingi-los numa segunda etapa desse movimento nacional?
Que país é esse? – indaga a multidão, na Praça dos Três Poderes.
Em Brasília, a II Marcha Contra a Corrupção foi novamente um sucesso e conseguiu reunir o público esperado pelos organizadores. A estimativa da Polícia Militar é que 20 mil pessoas participaram do evento, que terminou perto das 13h. A caminhada começou por volta das 11h, na praça entre o Museu da República e a Biblioteca Nacional, com cerca de 4 mil pessoas. Mas o pessoal foi chegando
A concentração para o início da passeata foi feita ao som de músicas como “Que país é esse?”, da banda Legião Urbana, e de Chico Buarque. Entre as palavras proferidas pelos organizadores, convocações para que os participantes se sentissem os “novos caras pintadas”, que marcaram a década de 1990 pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor.
O ex-governador mineiro Francelino Pereira, sem saber, foi o grande homenageado. Foi ele quem fez a célebre pergunta – “Que país é esse? –, depois imortalizada por Renato Russo, líder da banda brasiliense Legião Urbana. Pelo visto, esta patética indagação de Francelino vai permanecer atual no Brasil para sempre, ou “per secula seculorum”, como diziam os romanos.
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