O
poeta não é um «pequeno deus». Não, não é um «pequeno deus». Não está marcado
por um destino cabalístico superior ao de quem exerce outros misteres e
ofícios. Exprimi amiúde que o melhor poeta é o homem que nos entrega o pão de
cada dia: o padeiro mais próximo, que não se julga deus. Cumpre a sua majestosa
e humilde tarefa de amassar, levar ao forno, dourar e entregar o pão de cada
dia, com uma obrigação comunitária. E se o poeta chega a atingir essa simples
consciência, a simples consciência também se pode converter em parte de uma artesania
colossal, de uma construção simples ou complicada, que é a construção da
sociedade, a transformação das condições que rodeiam o homem, a entrega da
mercadoria: pão, verdade, vinho, sonhos.
Se
o poeta se incorpora nessa nunca consumida luta para cada um confiar nas mãos
dos outros a sua ração de compromisso, a sua dedicação e a sua ternura pelo
trabalho comum de cada dia e de todos os homens, participa no suor, no pão, no
vinho, no sonho de toda a humanidade. Só por esse caminho inalienável de sermos
homens comuns conseguiremos restituir à poesia o vasto espaço que lhe vão
abrindo em cada época, que lhe vamos abrindo em cada época nós próprios.
PABLO
NERUDA
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