Parentes,
amigos, escritores e admiradores de João Ubaldo Ribeiro passaram durante toda a
tarde de hoje (18) pelo velório do romancista, no Salão dos Poetas Românticos
da Academia Brasileira de Letras (ABL), para prestar suas últimas homenagens ao
escritor, que morreu hoje, no Rio de Janeiro. O corpo do acadêmico será
enterrado amanhã (19), às 10h, no Mausoléu dos Imortais da academia, no
Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul da capital fluminense.
Antes, às 8h15, uma cerimônia religiosa será realizada na ABL em homenagem a
João Ubaldo.
Secretária
do acadêmico há mais de dez anos, Valéria dos Santos contou ter conversado
durante toda a tarde de ontem (17) com Ubaldo e disse que ele aparentava estar
bem. “Um pouco antes das 3h ele se sentiu mal, avisou à esposa, mas
infelizmente não deu tempo de fazer muita coisa. Em maio, ele chegou a ser
internado por conta de problemas respiratórios e o médico recomendou que ele
parasse de fumar. De lá para cá, ele vinha diminuindo bem a quantidade de
cigarro. A morte dele foi uma surpresa”, disse.
O escritor
baiano Antônio Torres, ocupante da Cadeira 23 da ABL, que já foi de Machado de
Assis, lembrou da voz marcante de João Ubaldo e da maneira carinhosa como ele
tratava os amigos. “Foi uma surpresa, fiquei chocado. Trocávamos e-mails de vez
em quando, e ele parecia estar bem. Vou lembrar dele como uma pessoa
espirituosa, falante, de uma voz potente. Ele com certeza vai deixar um legado
imenso. A obra dele traz para a nossa literatura o que há de melhor no texto
contemporâneo”, disse.
Pessoas
próximas ao escritor contaram que há um ano e meio ele estava trabalhando em um
novo livro, que contaria histórias da vida boêmia carioca, na perspectiva de um
personagem baiano. Um dos quatro filhos do escritor, Bento Ribeiro, disse que
na última conversa com o pai sobre o assunto, João Ubaldo revelou que estava na
metade da história.
“Ele sempre
queria produzir coisas, se orgulhava da cultura brasileira, da nossa história,
e é isso que vai ficar para todos. Estava no meio de um livro mas só comentou
comigo que estava escrevendo sobre as histórias de bar, mas encaixando a Bahia
através do narrador”, contou o filho, lamentando a morte repentina do pai.
“Além do que todo mundo já falou nas muitas homenagens, ele era meu pai. Foi
muito inesperado e triste. A última lembrança que tenho dele é uma conversa em
que ele disse como ele queria ir à Alemanha visitar meu filho de 5 meses. Ele
foi um paizão”, disse.
Muitos
amigos lembraram de discussões sobre futebol com o escritor, que era apaixonado
pelo esporte. Um deles foi o ex-presidente da ABL, Marcos Vilaça, que chegou a
cobrir uma Copa do Mundo com João Ubaldo. “Eu, particularmente, desfrutava
muito das conversas com ele sobre futebol”, disse Vilaça, que também recordou a
importância de grandes romances escritos por Ubaldo. “Sargento Getúlio e Viva o
Povo Brasileiro são grandes obras. Um episódio curioso foi a censura do livro A
Casa dos Budas Ditosos em Portugal. Por conta disso, passaram a vendê-lo nos
supermercados e saiu como água”, lembrou.
Ganhador, em
2008, do Prêmio Camões, um dos mais importantes para autores da língua portuguesa,
João Ubaldo também foi homenageado no carnaval carioca pela Escola de Samba
Império da Tijuca, que, em 1987, teve como enredo um dos seus livros mais
famosos, Viva o Povo Brasileiro. Para o amigo e escritor Zuenir Ventura, João
Ubaldo Ribeiro, que ingressou no jornalismo em 1957 como repórter do Jornal da
Bahia, conseguiu ser brilhante tanto como jornalista quanto como romancista.
“Ele foi o
maior exemplo de que dá para conciliar as duas vertentes. O maior legado como
romancista é a originalidade. Ele foi grande amigo do também baiano Jorge
Amado, no entanto não teve influência, sua obra foi diferente, porém tão
importante quanto. Como colunista, o que marcou foi a independência do olhar.
Ele tinha uma liberdade de expressão e uma independência incrível. João era
singular”, lembrou.
O governador
da Bahia, Jaques Wagner, também esteve no velório e destacou a contribuição de
Ubaldo, conterrâneo nascido em Itaparica, em 1941, para a literatura
brasileira. “Perdemos um baiano ilustre, de uma marca muito forte na literatura
e no jornalismo. Ele era apaixonado por Itaparica e vai deixar um legado
importantes para nós, baianos, que já temos Jorge Amado. Ele sempre carregou a
baianidade”, declarou.
Por meio de
nota, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, manifestou pesar
pela morte do romancista, afirmando que sempre teve “imenso orgulho de ser seu
compatriota”. “Baiano, que escolheu nosso Rio pra viver, e brasileiro como
ninguém. Uma falta muito grande”.
O prefeito
Eduardo Paes também lamentou a morte de João Ubaldo Ribeiro, que chamou de
“carioca de coração”, já que adotou o Leblon, na zona sul da cidade, para
viver. “João Ubaldo deixará saudade. É uma perda para a literatura brasileira",
afirmou.
João Ubaldo
Ribeiro morreu na madrugada desta sexta-feira (18), por conta de uma embolia
pulmonar. O escritor e jornalista ocupava a Cadeira 34 da Academia Brasileira
de Letras, que antes foi ocupada pelo jornalista Carlos Castello Branco. O
velório será reaberto amanhã para o público às 8h. João Ubaldo deixou a esposa,
Berenice Ribeiro, e quatro filhos.
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