Por: Yuno Silva
“Estamos a
pouco menos de um mês do Flipipa, mas está tudo organizado. O momento é de
retomada”, garantiu Candinha Bezerra, co-produtora do Festival Literário da
Pipa, durante lançamento da versão 2014 do evento – uma das parceiras do
projeto. “Estávamos desestimulados por falta de recursos, tanto é que ano
passado não aconteceu”, emendou Dácio Galvão, curador do Festival, que este ano
chega a sua 5ª edição com uma grade enxuta e não menos consistente que as
anteriores. Marcado para agosto, o Flipipa recebe dia 7 o músico e escritor
Jorge Mautner e o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik. Os biógrafos Mário
Magalhães e Rodrigo Lacerda marcam presença na sexta dia 8, enquanto Ariano
Suassuna e José Carlos Capinan encerram a programação dia 9.
A formação
de uma terceira mesa ainda está nos planos para fechar o último dia (sábado,
9), com nome indicado pela afiliada local da TV Globo: o mais cotado por
enquanto é o ator Marcos Palmeira, protagonista do filme “O Homem que desafiou
o Diabo”, adaptação para as telas do livro “As pelejas de Ojuara”, de Nei
Leandro de Castro, mas a participação do artista depende de brechas na agenda
de gravações da nova novela das 23h “O Rebu”. As atrizes Maitê Proença, autora
de meia dúzia de livros, e Fernanda Torres, que acaba de debutar na literatura
com o elogiado romance “Fim” também serão sondadas.
Sobre a não
escalação, até o momento, de representantes das letras potiguares, Dácio Galvão
é enfático: “Estamos em sintonia com a tentativa de transgredir esse conceito
reducionista de local, nacional e internacional. As obras e ideias dessas
pessoas (que estão na programação) são planetárias, e estão inseridas em polos
internacionais de discussão”. Para Dácio, muitos festivais literários surgiram
e se consolidaram no Brasil na última década, “e o Flipipa está em sintonia com
esse movimento”. Em 2014, o Festival trabalha um recorte a partir dos anos 1960
“de olho na contemporaneidade”.
Galvão
destaca que a ausência de mesas de autores do RN na programação não deve ser
tratada “de maneira simplista” pela imprensa e/ou pelo público, e que as
atividades propostas pelo Sesc-RN e Sesi-RN podem contemplar o conteúdo local.
“As coisas precisaram ser articuladas muito rápido, e tivemos que fazer
escolhas”, justifica. Ele acredita que o conteúdo proposto para este ano
dialoga tanto com edições anteriores do Flipipa quanto com outros projetos
espalhados pelo país. “Vejo a escolha das atrações dentro de um contexto
maior”.
Dácio ainda
ressalta a busca do Flipipa pelo equilíbrio entre o conteúdo que forma e o que
gera interesse do público; trocando em miúdos, o objetivo é equacionar de forma
positiva a relação custo-benefício. “Temos que oferecer retorno aos parceiros
que investem no projeto, e uma das formas é apostar em uma programação que
chame atenção das pessoas”, avalia o curador.
Biografia enquanto
literatura
A presença
dos biógrafos Mário Magalhães e Rodrigo Lacerda abre espaço para um enfoque
mais literário de obras biográficas. Rodrigo irá apresentar o livro “República
das Abelhas”, onde descreve o percurso familiar de três gerações de políticos:
do abolicionista Sebastião Lacerda; dos filhos Maurício, Fernando e Paulo; e do
neto, Carlos Lacerda (avô do autor). Já Mário Magalhães revela detalhes da vida
do político, poeta e guerrilheiro Carlos Marighella (1911-69), que teve uma
vida tão frenética quanto surpreendente. Magalhães investiga as muitas facetas
do biografado e apresenta, em ritmo de thriller, uma narrativa repleta de
revelações e reconstitui com realismo passagens pela prisão, resistência à
tortura, operações de espionagem na Guerra Fria e assaltos da guerrilha a
bancos, carros-fortes e trem-pagador.
No terceiro
dia da programação o compositor Capinan fala sobre poesia e, acompanhado pelo
violonista baiano Gereba Barreto, promove recital que relembra os tempos da
Tropicália. “Para Ariano sugerimos abordar a relação do romance na literatura
nordestina. Não será uma aula espetáculo, mas ele sempre dá show”, adiantou
Dácio Galvão.
Um dos temas
da mesa protagonizada por Jorge Mautner será seu romance autobiográfico,
lançado em 2006, “O Filho do Holocausto”, que resultou no filme homônimo
dirigido por Heitor D’Alincourt e Pedro Bial. Enquanto José Miguel Wisnik traça
um panorama da poesia de Paulo Leminski e faz uma síntese entre a
coloquialidade e o rigor da construção formal, herdada da estética concretista.
Parte da programação ainda será definida, como os mediadores das mesas que
acompanham os debates.
O Flipipa
mantém o acesso gratuito a todas as atividades, e promove atividades que
envolvem estudantes dos ensinos médio e fundamental da região de Pipa e Tibau
do Sul. O festival é uma realização do Projeto Nação Potiguar e Fundação Hélio
Galvão. Conta com patrocínio da Ecocil e tem como parceiros os sistemas
Fecomércio/Sesc e Fiern/Sesi, e rede Intertv Cabugi, o Sebrae-RN, mais apoio
cultural da Associação de Hoteis e Pousadas da Pipa, Hotel Ponta do Madeiro,
Vitaminas FDC, Tribuna do Norte, Cooperativa Cultural Universitária e Mariz
Comunicação.
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