quarta-feira, 16 de julho de 2014

FLIPIPA RETORNA MAIS ENXUTA E CONSISTENTE


Por: Yuno Silva

“Estamos a pouco menos de um mês do Flipipa, mas está tudo organizado. O momento é de retomada”, garantiu Candinha Bezerra, co-produtora do Festival Literário da Pipa, durante lançamento da versão 2014 do evento – uma das parceiras do projeto. “Estávamos desestimulados por falta de recursos, tanto é que ano passado não aconteceu”, emendou Dácio Galvão, curador do Festival, que este ano chega a sua 5ª edição com uma grade enxuta e não menos consistente que as anteriores. Marcado para agosto, o Flipipa recebe dia 7 o músico e escritor Jorge Mautner e o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik. Os biógrafos Mário Magalhães e Rodrigo Lacerda marcam presença na sexta dia 8, enquanto Ariano Suassuna e José Carlos Capinan encerram a programação dia 9.

A formação de uma terceira mesa ainda está nos planos para fechar o último dia (sábado, 9), com nome indicado pela afiliada local da TV Globo: o mais cotado por enquanto é o ator Marcos Palmeira, protagonista do filme “O Homem que desafiou o Diabo”, adaptação para as telas do livro “As pelejas de Ojuara”, de Nei Leandro de Castro, mas a participação do artista depende de brechas na agenda de gravações da nova novela das 23h “O Rebu”. As atrizes Maitê Proença, autora de meia dúzia de livros, e Fernanda Torres, que acaba de debutar na literatura com o elogiado romance “Fim” também serão sondadas.

Sobre a não escalação, até o momento, de representantes das letras potiguares, Dácio Galvão é enfático: “Estamos em sintonia com a tentativa de transgredir esse conceito reducionista de local, nacional e internacional. As obras e ideias dessas pessoas (que estão na programação) são planetárias, e estão inseridas em polos internacionais de discussão”. Para Dácio, muitos festivais literários surgiram e se consolidaram no Brasil na última década, “e o Flipipa está em sintonia com esse movimento”. Em 2014, o Festival trabalha um recorte a partir dos anos 1960 “de olho na contemporaneidade”.   

Galvão destaca que a ausência de mesas de autores do RN na programação não deve ser tratada “de maneira simplista” pela imprensa e/ou pelo público, e que as atividades propostas pelo Sesc-RN e Sesi-RN podem contemplar o conteúdo local. “As coisas precisaram ser articuladas muito rápido, e tivemos que fazer escolhas”, justifica. Ele acredita que o conteúdo proposto para este ano dialoga tanto com edições anteriores do Flipipa quanto com outros projetos espalhados pelo país. “Vejo a escolha das atrações dentro de um contexto maior”.

Dácio ainda ressalta a busca do Flipipa pelo equilíbrio entre o conteúdo que forma e o que gera interesse do público; trocando em miúdos, o objetivo é equacionar de forma positiva a relação custo-benefício. “Temos que oferecer retorno aos parceiros que investem no projeto, e uma das formas é apostar em uma programação que chame atenção das pessoas”, avalia o curador.

Biografia enquanto literatura
A presença dos biógrafos Mário Magalhães e Rodrigo Lacerda abre espaço para um enfoque mais literário de obras biográficas. Rodrigo irá apresentar o livro “República das Abelhas”, onde descreve o percurso familiar de três gerações de políticos: do abolicionista Sebastião Lacerda; dos filhos Maurício, Fernando e Paulo; e do neto, Carlos Lacerda (avô do autor). Já Mário Magalhães revela detalhes da vida do político, poeta e guerrilheiro Carlos Marighella (1911-69), que teve uma vida tão frenética quanto surpreendente. Magalhães investiga as muitas facetas do biografado e apresenta, em ritmo de thriller, uma narrativa repleta de revelações e reconstitui com realismo passagens pela prisão, resistência à tortura, operações de espionagem na Guerra Fria e assaltos da guerrilha a bancos, carros-fortes e trem-pagador.

No terceiro dia da programação o compositor Capinan fala sobre poesia e, acompanhado pelo violonista baiano Gereba Barreto, promove recital que relembra os tempos da Tropicália. “Para Ariano sugerimos abordar a relação do romance na literatura nordestina. Não será uma aula espetáculo, mas ele sempre dá show”, adiantou Dácio Galvão.


Um dos temas da mesa protagonizada por Jorge Mautner será seu romance autobiográfico, lançado em 2006, “O Filho do Holocausto”, que resultou no filme homônimo dirigido por Heitor D’Alincourt e Pedro Bial. Enquanto José Miguel Wisnik traça um panorama da poesia de Paulo Leminski e faz uma síntese entre a coloquialidade e o rigor da construção formal, herdada da estética concretista. Parte da programação ainda será definida, como os mediadores das mesas que acompanham os debates.

O Flipipa mantém o acesso gratuito a todas as atividades, e promove atividades que envolvem estudantes dos ensinos médio e fundamental da região de Pipa e Tibau do Sul. O festival é uma realização do Projeto Nação Potiguar e Fundação Hélio Galvão. Conta com patrocínio da Ecocil e tem como parceiros os sistemas Fecomércio/Sesc e Fiern/Sesi, e rede Intertv Cabugi, o Sebrae-RN, mais apoio cultural da Associação de Hoteis e Pousadas da Pipa, Hotel Ponta do Madeiro, Vitaminas FDC, Tribuna do Norte, Cooperativa Cultural Universitária e Mariz Comunicação.


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