sábado, 14 de janeiro de 2012

A EPIDEMIA DOS DERIVADOS DA COCA



Artigo de Paulo Tarcisio Neto
                 
                Se expande como uma verdadeira epidemia o uso de drogas derivadas da folha da coca – a cocaína, o crack e mais recentemente o óxi. Basicamente, o que diferencia as 3 drogas é seu grau de “pureza” quanto aos produtos alucinógenos; o que as iguala é seu devastador efeito sobre o organismo e uma dependência física, química e psíquica só a muito custo superada.
                Se um jovem soubesse o tamanho do trabalho e sofrimento que terá para se livrar de uma dessas drogas, não ousaria, sequer, aproximar-se a primeira vez. Trata-se de uma escravidão. Mil vezes a escravidão sofrida (em tempos passados, claro) pelos negros, que tinham seus grilhões saltando aos olhos e ressaltando sua condição; o pior escravo é aquele que, ainda por cima, acredita ser livre, aquele que tem seus grilhões firmemente arraigados nos terrenos da psique e acredita piamente – ou então se esforça muito para acreditar – que é a droga que o liberta.
                Há quem afirme que uma medida que iria “amenizar” a situação seria a legalização. Confesso que não sei. Tampouco sei aonde caminha um Estado que dá ao seu cidadão o direito a escravizar-se. Como chamar a isso de Liberdade? A regra básica, pois, é não usar. Não prove. Você pode estar num grupo que, por alguma razão, consegue resistir ao vício – é verdade, ele existe – mas também pode fazer parte daqueles que nunca mais sairão. É uma Roleta Russa Química.
                A droga remodela todo o cérebro. O prazer em consumi-la é tão grande que nada mais satisfará ao indivíduo como aquilo. Depois que os neurônios já foram “impregnados”, procurar culpados ou julgar o caráter do usuário já não adiantam. Mais vale uma boa ajuda de uma equipe multidisciplinar de médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, disponíveis gratuitamente nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPES), por exemplo. A família deve estar ao lado não como Juíza, mas sim como Justa: uma mão que acaricia quando tem que acariciar, mas que deve ser firme e forte quando o tiver de ser.
Agregado a isso, sem dúvida, é necessário que se tenha um sentido de vida. Compreender que o ser humano está para além dos seus desejos que palpitam e que há algo, sim, para além de nós mesmos, E desde esse mistério último redescobrir-se, remodelar-se, num novo começo. É possível; muito difícil, mas realmente possível.  
P.S.: Texto escrito a pedidos de um leitor. Aceito sugestões. Abraços.
Paulo Tarcísio Neto
Medicina UFRN

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