A
história de Valdetário Carneiro chega às livrarias do Estado
O assaltante
que irrompeu o sertão nordestino, desafiando a polícia e espalhando o medo por
todo o RN completa 10 anos de sua morte na terça-feira (10). A história deste
homem, Valdetário Carneiro, ganha as livrarias do estado na mesma data. A obra,
“Valdetário Carneiro: A essência da bala” é de autoria dos jornalistas Paulo
Nascimento e Rafael Barbosa, publicada pela Editora Tribo.
A ideia de
falar sobre a vida de um dos mais temidos criminosos que já protagonizaram a
crônica policial do Rio Grande do Norte surgiu na universidade. Os autores
ainda cursavam Jornalismo na UFRN quando se interessaram pelo tema. O projeto,
a princípio, contaria os pormenores das brigas entre famílias que assombraram o
Oeste potiguar. O nome dos Carneiro
sempre surgia nos entreveros.
As pesquisas
começaram e os repórteres perceberam que o personagem de Valdetário Carneiro se
destacava no enredo. Entre entrevistas e viagens a Caraúbas, terra natal do
protagonista, a proposta acabou se tornando o trabalho de conclusão de curso
dos dois. E agora virou livro. “Nós ampliamos o material da monografia para
transformá-la em livro-reportagem”, explica Paulo Nascimento.
Os
jornalistas entrevistaram mais de 20 pessoas durante o processo de apuração das
informações para a composição do material literário. “Isso entre as que se
identificaram e as que preferiram se manter ocultas como condição para darem as
declarações”, observa Rafael Barbosa. Esta foi a maior dificuldade da dupla no
percurso da produção da biografia.
A figura de
Valdetário ainda causa receio em boa parte das pessoas que conviveram de
maneira próxima a ele. Portanto, obter determinadas informações a respeito do
assaltante é difícil. “Mesmo as pessoas que falaram evitaram alguns assuntos”,
conta Paulo Nascimento.
Os feitos
criminosos espetaculosos deram a Valdetário Carneiro o estigma de mito.
Enquanto estava vivo, se ouviam histórias do bando comandado por ele em todo o
Nordeste. “Valdetário foi vestido de uma personalidade de onipresença. Por
exemplo, enquanto ele assaltava um banco no interior do Piauí, alguém dizia que
o viu em Olho D’água dos Borges, no Alto Oeste do RN”, esclarece Barbosa.
“Não queria ser o que fizeram de
mim”
Para os
autores, uma das maiores surpresas que o processo de apuração do livro trouxe
foi à maneira pela qual Valdetário assumiu a vida de crime. Uma injustiça teria
transformado o pacato mecânico em um criminoso perseguido pelas polícias de
vários estados do Nordeste. Valdetário foi preso injustamente e cumpriu quase
cinco anos de reclusão. “Há controvérsias acerca de sua culpa neste primeiro
delito. Mas ele foi inocentado este ano pela Justiça”, lembrou Rafael Barbosa.
Essa fase da
vida do protagonista é abordada pelos autores no segundo capítulo, intitulado
“Eu não queria ser o que fizeram de mim”. A frase foi dita por Valdetário em
uma das entrevistas às rádios difusoras do interior.
Casa
onde Valdetário Carneiro foi morto, há dez anos,
nunca
mais foi ocupada
A fama de
Valdetário ia além dos crimes que ele cometia. Apesar dos assaltos e homicídios
comandados por ele, havia também quem o tivesse como herói. “Por escolher como
alvo os bancos e defender os pequenos produtores sertanejos, ganhou o apreço de
muita gente”, adiantou Paulo Nascimento.
É por conta
dessa empatia que a morte do assaltante comoveu a milhares de pessoas. Uma
multidão em Caraúbas acompanhou o seu velório. Ao mesmo tempo, era uma
preocupação a menos para os órgãos de Segurança Pública do Estado.
A forma como
ele foi morto também se deu em um episódio com distintas versões. No dia 10 de
dezembro de 2003, com a casa cercada por policiais, Valdetário foi atingido por
disparos de arma de fogo, que o levaram à morte. “Cada uma das testemunhas
narra de forma diferente os fatos. Mas isso nós só contamos no livro”, brinca
Rafael Barbosa.
A saga Benevides Carneiro já foi
tema de livro
O primeiro
livro que abordou as disputas envolvendo a família Carneiro foi escrito por
José Viana Ramalho, “Dudé”. “A Saga Benevides Carneiro” conta de forma
cronológica o surgimento do clã no Rio Grande do Norte e a história dos
familiares mais conhecidos.
O
envolvimento em crimes por parte de alguns membros da família também é
abordado. Valdetário é citado na obra, mas de forma breve, bem como seus
parentes. A Saga Benevides Carneiro é uma espécie de árvore genealógica em
forma de livro, que entrelaça seus personagens.
Dudé Viana é
membro da família, e traz um olhar de quem viveu as histórias de perto.
Conhecidos por assaltos e crimes atrozes, os Carneiro são desmistificados no
livro do primo Dudé, que buscou contrapor a fama sanguinolenta da família com
os casos de parentes bem sucedidos e que vivem longe da vida criminosa.
Uma tribo de jovens escritores
Surgida da
vontade de tirar as ideias do papel, a Editora Tribo é um coletivo de
escritores, jornalistas e artistas que desenvolve projetos e publicações em
sistema colaborativo.
Rafael
Barbosa, Themis Lima e Paulo Nascimento
A parceria
entre Tribo e os repórteres que contaram a história de Valdetário nasceu ainda
na universidade, como a ideia de fazer o livro. “Decidimos que publicaríamos
nossos trabalhos de conclusão de curso, que não os deixaríamos morrer nas
gavetas”, conta Themis Lima, fundadora do selo.
Quanto aos
autores, Paulo Nascimento é o mais jovem da dupla. Com apenas 22 anos, levou os
últimos três no ofício do jornalismo. Já passou pelos jornais Diário de Natal,
Tribuna do Norte e, mais atualmente, Novo Jornal.
Rafael Barbosa
é um jovem repórter de 23 anos. Trabalhou no jornal Tribuna do Norte, no Diário
de Natal e no portal de notícias G1.
SERVIÇO
Lançamento
do livro “Valdetário Carneiro: A essência da bala”
Data: 10 de
dezembro (terça-feira)
Horário: 18h
Local: Pinacoteca do Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário