Contra o
pessimismo dos empresários da imprensa e de boa parte dos jornalistas, Bruno
Torturra, do Mídia Ninja, Fred Melo Paiva, do programa O Infiltrado e Leandro
Sarmatz, escritor e também jornalista, afirmaram na mesa “Laertevisão – o novo
jornalismo”, da Balada Literária, acreditar que o jornalismo sobreviverá à
crise por meio da radicalização de suas próprias características. “Quando se
fala em jornalismo acho que só existe um, não ‘o pós’ ou ‘o pré’. O que está
sendo posto em cheque é o modelo de negócios – o que convida à reflexão e que
(propõe que se) aprofunde os temas do nosso tempo. O bom jornalismo é ‘pré’,
‘pós’ e ‘neo’. Ao passo que, embora ainda não tenha uma solução formal e
econômica (para o jornalismo atual), esse é um momento de adolescência (do
jornalismo): a voz está meio desafinada, os instintos estão meio desordenados”,
analisou Sarmatz.
“Sempre tive
interesse na junção entre ficção e a não ficção”, comentou Paiva ao explicar
sua decisão de trocar, no início da carreira o trabalho na revista Veja pela
Trip e sua atuação posterior no caderno Aliás, de O Estado de S. Paulo. Para
ele, o programa O Infiltrado é uma consequência daquelas experiências: “O
programa tem uma estrutura dramatúrgica clara. No princípio do programa, por
exemplo, eu anuncio que vou conhecer os evangélicos para tentar abrir uma
igreja porque isso vai me gerar conflitos. Como eu vou abrir uma igreja se eu
sou ateu? Isso vai gerar conflitos até um ápice e, no caso, eu desisto porque
não consigo ter fé”, exemplificou.
Já Torturra
contou à plateia que conheceu o movimento Fora do Eixo em 2011 após cobrir a
marcha pela legalização da maconha em São Paulo. Na ocasião, segundo Torturra,
os manifestantes sofreram uma forte repressão policial e a cobertura da mídia
foi feita à distância, sem a presença de outros jornalistas acompanhando o
evento, com notícias onde havia apenas a versão da polícia dos fatos. Essa
observação fez com que ele se questionasse sobre a necessidade de uma cobertura
imediata e que se comunicasse diretamente com o público. Logo, ele se aproximou
dos militantes do Fora do Eixo e na próxima manifestação, uma semana depois,
ele fez a primeira transmissão em streaming com seis horas de duração. “Noventa
mil pessoas haviam visto, foi só pela viralização, foi só pelo Twitter, que as
pessoas ficaram sabendo. No dia seguinte percebemos que tínhamos uma bomba na
mão, tínhamos um canal de tv de graça”, analisou.
Dois anos
depois houve o estouro nas manifestações em junho deste ano, porém, enquanto a
grande imprensa identificava um possível novo jornalismo, o público fez uma
outra leitura: “As pessoas entenderam que aquilo era muito mais uma estética do
que um veículo: daí centenas de pessoas começaram a fazer suas páginas no
Facebook como ‘Mídia Ninja Santos’, ‘Mídia Ninja Londres’, etc. Houve a ‘Mídia
Negra’, um dos nossos ‘rivais’. Eu estava cobrindo a chegada do papa em
Copacabana e vi um cara falando com um celular, quando fui perguntar quem ele
era, ele se disse que era do ‘black ninja’. Isso mudou com a entrevista no Roda
Viva, quando a gente deu uma cara para o movimento”. Com cerca de 100
repórteres ativos e 220 mil potenciais “mídias ninjas” (o número de pessoas que
curtem a fanpage do Mídia Ninja no Facebook), Torturra afirma ter se
surpreendido com as consequências que o movimento gerou no auge das
manifestações de junho. “Não foi pensado a perda de controle porque a gente
nunca quis ter um chefe, um editor… Mas junho foi junho, não tinha como poder
controlar nada: o MPL (Movimento Passe Livre) perdeu o controle, a Dilma perdeu
o controle”, concluiu.
Torturra
respondeu a uma pergunta da audiência sobre o fato de a academia e a mídia
tradicional acusarem o Mídia Ninja de não preservar a objetividade jornalística
e produzir conteúdo sem aprofundamento: “O jornalismo aprofundado é uma coisa
que pouco jornalista está fazendo hoje. Não estou falando que o jornalismo
tenha que ser imediatista, mas que ele pode ser. Eu não faço questão de ser
jornalista, faço questão de participar dessa discussão que deixa muito jornalista
muito enciumado: acabou a primazia do veículo como última instância que poderia
pautar a realidade”.
Paiva
acrescentou: “Acho que esse lance de ficar definindo o que é jornalismo uma
loucura. Se eu definir o Infiltrado como jornalismo ele fica de fora da lei que
haja 30% de programação nacional na tv paga, então tivemos que defini-lo como
entretenimento. E não importa: ele é uma boa contação de história baseado em
não ficção. Acho engraçado falar em aprofundamento, onde tem isso hoje? Talvez
na Piauí. E quando caiu o muro de Berlim? Foi imediato e aquilo era jornalismo.
Eu fui para a Trip porque era interessante e acho que é isso que o jornalismo
deve mirar: ver histórias interessantes e passa-las para frente, como as
pessoas vão chamar isso não importa muito”.
Fonte:
Ig
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