O Papa
Francisco publicou hoje a exortação apostólica, ‘Evangelii Gaudium’ (a alegria
do Evangelho), primeiro documento do gênero escrito por si na totalidade, em
que apresenta o projeto de uma “nova etapa de evangelização”, nos próximos
anos.
“Espero que
todas as comunidades se esforcem por implementar os meios necessários para
avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar
as coisas como estão”, escreve, no documento divulgado pela Santa Sé.
O texto
retoma as principais preocupações manifestadas pelo Papa desde o início do seu
pontificado, após suceder a Bento XVI em março deste ano, e fala numa Igreja
“em saída” e atenta às “periferias”, bem como a “novos âmbitos socioculturais”.
A exortação
apostólica refere-se a uma “conversão do papado” e questiona uma “centralização
excessiva” que complica a vida da Igreja e a sua dinâmica missionária.
O texto
desenvolve o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje, recolhendo o
contributo dos trabalhos do Sínodo que se realizou no Vaticano de 7 a 28 de
outubro de 2012 com o tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé’.
Ao contrário
do que é habitual, a exortação não se assume como ‘pós-sinodal’ por ultrapassar
o âmbito específico tratado na última reunião de bispos católicos.
Francisco
usa um “neologismo” para afirmar que os católicos “primeireiam, tomam a
iniciativa”, num "estado permanente de missão" para enfrentar os
riscos da “tristeza individualista" no mundo de hoje.
Essa missão,
acrescenta, origina "novas formas", "métodos criativos",
uma "reforma das estruturas" e uma Igreja com “portas abertas”.
"A
evangelização também implica um caminho de diálogo", que abre a Igreja à
colaboração com todas as realidades políticas, sociais, religiosas e culturais.
O Papa
repete o desejo de “uma Igreja pobre”, "ferida e suja” após sair à rua,
porque “uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta
sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores”.
“Não quero
uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de
obsessões e procedimentos”, adverte.
Francisco
deixa várias indicações para o interior das comunidades católicas, alertando
para um "pessimismo estéril" e para os que ficam “inflexivelmente
fiéis a um certo estilo católico próprio do passado".
A exortação
sublinha a necessidade de fazer crescer a responsabilidade dos leigos, mantidos
"à margem nas decisões" por um "excessivo clericalismo",
bem como a de “ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva”.
O Papa
denuncia o atual sistema econômico, preso a um "mercado divinizado",
e lamenta os "ataques à liberdade religiosa", em particular os casos
de perseguição aos cristãos.
Francisco
deixa claro que a Igreja não vai mudar a sua posição na defesa da vida e pede
ajuda para as vítimas de tráfico e de novas formas de escravidão.
O texto
percorre 288 pontos, divididos em cinco capítulos, e conclui-se com uma oração
a Maria, ‘Mãe da Evangelização’.
“O entusiasmo na evangelização funda-se nesta
convicção: temos à disposição um tesouro de vida e de amor que não pode
enganar, a mensagem que não pode manipular nem desiludir”, escreve o Papa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário