"ABRAÇO DE MARÉ"
Victor Ciríaco e Hélio Ronyvon dividem roteiro
do documentário
"Abraço de Maré" revela a história
de um casal que mora
em ilha no Rio Potengi, Natal/RN
Fotografia: Alex Régis
O AMOR NA MARÉ
Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE
Ao cruzar a
ponte de Igapó, já do lado da zona Norte, repare na solitária casinha de taipa
que ocupa quase a totalidade de uma pequena ilha cercada pelo mangue do
Potengi. O lugar é humilde, seu cotidiano obedece o movimento das marés, e quem
vê de longe nem imagina que ali há uma história de amor pronta para ser
contada. A paisagem bucólica, o famoso pôr do Sol e a relação estreita com o
rio servem como fonte de energia para Biluca e Ilton seguirem vivendo sem
lamentos; também são a moldura enxergada pelo jovem diretor Victor Ciriaco no
documentário “Abraço de Maré”
Apesar do
cenário, pobreza é última coisa que passa pela cabeça de quem assiste o
curta-metragem em preto e branco – o foco está no amor que paira sobre aquele
pequeno naco de terra onde o casal e seus três filhos compartilham há doze
anos. Ilton é pedreiro e pescador, e quando não está empregado, recorre ao rio
para garantir o sustento da família.
Melhor filme
do Goiamum Audiovisual, a produção ganhou vida alimentada pela curiosidade que
o estudante universitário de 19 anos nutria pela paisagem diária avistada da
janela do ônibus. “Passo por ali todos os dias e aquela casa sempre foi motivo
de muitas perguntas: quem são e como vivem aquelas pessoas? Até que decidi ir
lá conhecer de perto”, disse Victor ao VIVER. Diretor estreante, aluno do curso
de Rádio e TV da UFRN, ele participava de uma oficina de formação audiovisual
com o cineasta paraibano André da Costa Pinto, e aquele contexto poderia servir
como base para se construir o argumento de um documentário.
Dito e
feito! Ele passou a frequentar o lugar, participou do cotidiano, e começou a
levar outros integrantes da equipe até sentir confiança para ligar a câmera –
as filmagens foram realizadas em apenas quatro dias, mas o resultado coroa uma
relação que durou cerca de três meses, de maio a agosto.
O primeiro
indício de que aquela história havia sido bem contada veio no início de
novembro, com o prêmio de Melhor Filme, Roteiro e Direção na Mostra Primeiros
Passos do festival nacional Curta Taquary, em Taquritinga (PE). Esse resultado
reflete outro mérito da “Abraço de Maré”, que passa longe do perfil
‘reportagem’ visto em muitos documentários.
Questionado
sobre a opção visual de adotar o preto e branco como linguagem narrativa, Victor
informa que foi uma decisão tomada na hora de editar o material. “A montadora
Pipa Dantas que sugeriu o preto e branco. Acredito que esse recurso disfarçou a
humildade do lugar, das pessoas, e concentrou foco na história”, acredita o
diretor.
Para Helio
Ronyvon, 22, diretor executivo do curta, “com o preto e branco víamos menos os
detalhes da pobreza e mais a essência das palavras deles. As cores poderiam
desviar a atenção”, garante. O produtor lembra que conseguiu viabilizar o filme
através de pequenos apoios: “Pedimos de R$ 50 a R$ 100 aos comerciantes da zona
Norte, e quem não podia ajudar com dinheiro ajudou com serviço: em um salão de
beleza conseguimos quatro cortes de cabelo e rifamos, um sex shop nos deu um
kit e vendemos...”, contou.
Além de
Victor, Pipa e Helio, a ficha técnica também inclui Beatriz Tanabe (direção de
produção), Luara Schamó (direção de fotografia), Bárbara Neves (som direto),
Ixion Fonteneles (produção), Pedras Leão (trilha sonora) e Eduardo Schamó
(arte) – todos são estudantes de Rádio e TV na UFRN. O roteiro é assinado por
Victor, Luara e Helio.
O próximo
passo da equipe é utilizar o crédito ganho no Goiamum Audiovisual, o Prêmio
Mangue Filmes, para gravar uma ficção. “Como teremos estrutura e suporte, vamos
utilizar esse prêmio para fazer uma ficção, bem mais dispendioso de rodar um documentário. Temos duas ideias em
discussão no momento”, adiantou Ciriaco.
Em tempo: Ibama e Idema sabem da
existência da casinha de taipa, e já avisaram que a família não pode fazer nenhuma
benfeitoria no local que recebe o “abraço de maré”.
...fonte...
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