“Desde o
início do contato com o Ocidente, os ciganos foram causa de conflitos,
provocadores de desordem e subversivos ao sistema. E sofreram todo tipo de
perseguições religiosa, cultural, política e racial”, diz Aluízio Azevedo,
mestre em história cigana pela Universidade Federal de Mato Grosso e ele mesmo
um cigano calon.
É difícil
saber o que veio primeiro: hábitos pouco ortodoxos ou o preconceito em relação
a uma cultura tão diferente. Os ciganos tinham a pele escura, muitos filhos,
uma língua indecifrável e origem desconhecida. Talvez a falta de oportunidades
de emprego tenha sido a causa do seu destino artístico.
Eram
enxotados e então se mudavam, levando novidades dos lugares de onde vinham.
Assim, surgiu a fama de mágicos, feiticeiros. Se todos acreditavam nisso, por
que não aproveitar para fazer dinheiro? E, então, as mulheres passaram a ler as
mãos, a prever o futuro. Negociar objetos era outra forma de sobrevivência: os
ciganos tinham acesso a mercadorias “exóticas” e podiam levar sua tralha para
onde quer que fossem.
Os bandos
que chegavam ao continente europeu eram liderados por falsos condes, duques ou
outros títulos de nobreza. Observando os peregrinos europeus, que entravam e
saíam facilmente das cidades, copiaram a ideia de salvo-conduto – uma espécie
de pai do passaporte. Os ciganos inventavam que seus documentos haviam sido
expedidos por Sigismundo, rei da Hungria. Justificavam a vida nômade dizendo
que bispos os haviam condenado a peregrinar durante 7 anos como penitência pelo
abandono da fé cristã. Alguns dos salvos-condutos permitiam até que furtassem
quem não lhes desse esmolas. Uma tática para aumentar a chance de ser aceitos
nas comunidades, fazer negócios e exibir seus dons artísticos. Até que a farsa
acabava e eles pulavam novamente para outra cidade".
Por: Luciano Marsiglia
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