Quem mora no
coração da caatinga, região do sertão central do Rio Grande do Norte, sabe das
dificuldades para superar a falta de água e, as consequências, de vários meses
de estiagem. As dificuldades, porém, não foram motivos para ceifar a
sensibilidade e o talento de um artesão de Angicos. José Marcos Rodrigues, 32,
há dois anos sobrevive da confecção de peças em madeira.
A inspiração
para as peças confeccionadas pelo artesão vem da própria região. São animais,
objetos e pessoas esculpidas diretamente na madeira, a umburana, encontrada na
mata local. Marcos garante que só utiliza madeira morta, ou seja, troncos
catados no meio do mato. “Ainda criança
comecei a fazer alguns animais para brincar. Assim, fui tomando gosto”, afirma.
Autodidata, José Marcos diz que, antes de recorrer a Ineagro, um projeto de
incubadora da Universidade Federal Rural do Semi-árido, no campus de Anigos,
para viabilizar a venda de suas peças, não havia feito nenhum curso e só
freqüentou a escola até o sexto ano.
O artesão
também não utiliza ferramentas adequadas. A maioria é improvisada por ele
mesmo. O trabalho é feito na sala ou na frente da casa de taipa, construída com
barro e pau-a-pique, e chão batido, no bairro Alto da Alegria, em Angicos. A
falta de estrutura não foi empecilho para o artista buscar a Ineagro Cabugi –
Incubadora Tecnológica e Multissetorial do Sertão do Cabugi, da Ufersa, para
aprimorar o seu ofício.
Há doze
meses, o artesão é um dos sete incubados da Ineagro Cabugi, onde busca aprimorar
a técnica e divulgar a arte. “É um projeto interessante que tem dado apoio para
melhorar o meu trabalho”, considerou. Depois de incubado, Marcos já participou
de seis cursos promovidos pelo Sebrae, tendo participado também de feiras e
exposições como a Ficro e a Feira da Indústria.
As peças que
retratam pessoas começaram ser feitas a partir de sugestão da Incubadora sendo
a primeira o busto do pedagogo Paulo Freire, peça que já integra o acervo do
Memorial Paulo Freire, em construção no campus da Ufersa Angicos. “A proposta
da Ineagro Cabugi é oferecer a técnica para a profissionalização,
consequentemente, a comercialização”, frisa o gerente da Incubadora, André
Luiz. A ideia é trabalhar com
personalidades, incluindo, os jogadores de futebol. As peças são produzidas a
partir de fotografias.
José Marcos
confessa que não tinha a pretensão de ter o artesanato como atividade
profissional, mas a falta de emprego na região o levou a vender as peças.
“Ainda é muito desvalorizado”, avalia. Uma escultura, por exemplo, custa,
dependendo do tamanho, entre R$ 30,00 a R$ 80,00. As peças com maior saída são
as que retratam a fauna da região. No
último mês de janeiro foram comercializadas 25 esculturas.
(**) Ctrl C + Ctrl V do Blog Águas de Maré.
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