Por: Aura Mazda
Após 32
horas à deriva em alto-mar, seis
tripulantes de uma embarcação pernambucana de modelo Nativo trimarã 33
(com três cascos) chegaram em uma lancha da Marinha do Brasil à Capitania dos
Portos de Natal no início da noite de ontem (29). Os náufragos foram resgatados a 50
quilômetros do litoral do RN (28 milhas náuticas da costa potiguar) com vida
por um navio cargueiro de bandeira liberiana de tripulação russa às 10h desta
segunda-feira. Em terra, os sobreviventes relataram que a esperança de vencer
os momentos difíceis foi o sentimento que prevaleceu durantes as horas que
estiveram no mar.
Os
tripulantes participavam da 26ª Edição
da Regata Recife/Fernando, que saiu de Pernambuco às 14h de sábado (27) em
direção ao arquipélago de Fernando de
Noronha (PE), quando o trimarã quebrou no meio da travessia, às 23h do sábado.
Eles relataram que dois barcos de pesca e dois navios passaram pelo local, mas
não pararam.
Os irmãos
Jorge e Roberto Neves, 59 e 66 anos, são os proprietários da embarcação que quebrou e estavam no
momento do acidente. Essa seria a 10ª regata que os irmãos, naturais de
Pernambuco, concluiriam. Jorge, um dos capitães do navio, explicou que uma das
causas para o acidente pode ter sido o rompimento da viga de ligação, além da
alta velocidade a que eles estavam velejando. “Nós queríamos chegar pela manhã
em Fernando de Noronha, com a velocidade que nós íamos, a gente estava em 2º ou
3º lugar”, explicou.
O navio de
bandeira liberiana, que saiu do Rio de Janeiro em direção a Nassau, nas Bahamas
os resgatou. “Os russos foram extremamente gentis e prestativos, nos deram
roupa, comida, sapatos. Além de parar a
rota deles para nos deixar o mais próximo possível da costa de Natal”, afirmou
Jorge Neves.
Segundo
Álvaro da Fonte, 53 anos, o bote-salva vidas subiu par a a superfície do mar
por volta das 3h do domingo (28), mas o único elemento que restava no bote era
água. Álvaro explicou que 100ml de água potável foi o que cada um bebeu durante
o domingo. “Foi inacreditável. O nosso
plano era nadar e tentar puxar o bote somente pela manhã”, disse.
Álvaro da
Fonte relatou que a ajuda mútua e o conhecimento marítimo foram fundamentais
para a sobrevivência da tripulação. “Além de muita sorte”. Ele ia assumir o
comando do leme quando ouviu um estrondo forte.
O
sobrevivente ainda disse que o barco começou capotar quando houve o barulho e
no fim ficou completamente emborcado.
“Do momento do barulho até o barco ficar
emborcado durou pouco. Foi muito difícil sair da embarcação, parte de
nós ficou em cima da proa, os outros ficaram no
mar”, disse.
Um dos
tripulantes, Marcos Vitorazzo, 58 anos,
é vistoriador naval em Ilhabela (SP) e contou que os amigos se conheceram por
meio dos irmãos Neves. “Todos tem a sua profissão, mas são apaixonados pelo mar
e tem a regata como hobbie. Somos experientes, esse foi um ponto positivo”,
disse.
Os
tripulantes da embarcação pernambucana,
haviam perdido o contato com a Comissão Organizadora da 26ª Edição da
Regata Recife/Fernando de Noronha desde às 22h30 de sábado, nas imediações da
cidade de Cabedelo, na Paraíba. Outro sobrevivente é o tripulante Jorge
Silvestrine, 54 anos, que mora em Santa Catarina. Ele seguiu para um hotel em
Natal, onde eles devem permanecer até hoje (30).
O
pernambucano René Hutzeler, 36 anos, estava à frente do leme há 3h quando
sentiu o estrondo. René não tem parte da audição, ele explicou que teve medo pois caiu
imediatamente na água. Assim como os
outros, o pernambucano não conseguiu resgatar nada “Apenas as nossas vidas”.
O tripulante
foi um dos que sofreu com hipotermia, mas que foi ajudado pelos amigos quando
começou a passar mal. “Agora terei que comprar outro aparelho auditivo, nem
isso eu consegui salvar”, brincou.
O naufrágio
A
embarcação: Modelo Nativo trimarã 33.
A
tripulação: 6 pessoas de Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo.
O que faziam
no mar: Participavam da 26ª Edição da Regata Recife/Fernando. Para os irmãos
Neves (donos do navio) essa seria a 10ª regata.
Saída: Às
14h de sábado de Recife em direção a Fernando de Noronha.
Tempo no
mar: Após o acidente, os seis tripulantes ficaram 32h à deriva.
O resgate:
Foram resgatados às 10h da manhã de ontem (segunda-feira) a 28 milhas náuticas
do litoral de Natal (algo em torno de 50 km de Natal). O resgate foi feito por navio de bandeira
liberiana ‘Krasnodar’.
Chegada às
18h em Natal.
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