quarta-feira, 10 de setembro de 2014

SALES, O COLECIONADOR DE SAUDADES

Sales: “Era chamado de poeta antes de ter meus versos”

Por: Yuno Silva

Há certa melancolia nas palavras, mas não infelicidade. “Sou um colecionador de saudades, algo compreensível para um homem com mais de 50 anos”, disse Francisco de Sales Felipe ao comentar o teor da coleção de poemas impressos em “Versos de Primeira Lua”, seu livro de estreia, que ele autografa nesta quarta-feira (10), às 18h30, na livraria Saraiva do Midway Mall. Com o lançamento, que leva o selo “Bons Costumes” da editora Jovens Escribas, o autor liquida um compromisso formado há tempos em sala de aula, quando declamava para os alunos nas aulas de Literatura.

“Era chamado de poeta antes de ter meus próprios versos”, disse Sales. Apaixonado pela poesia e decidido a materializar sua escrita, resolveu, em abril de 2013, que era chegada a hora: “De lá para cá (início deste ano) fiz uns 180 poemas, muitos inspirados em experiências reais como 'Luz dos Olhos'. Vejo esse conjunto com quase 100 poesias de natureza lírica como um misto de saudade e ternura”, analisa. A orelha do livro é assinada pelo professor Honório de Medeiros e o prefácio é de Ivan Maciel.

Sales dedica “Versos de Primeira Lua” às pessoas que conheceu e aos lugares por onde andou. “Sou órfão de mãe desde os 12 anos, e nasci na antiga São Rafael (submersa pela Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no começo dos 1980), então tenho essas duas grandes saudades na vida”.

A escolha do título é justificada em prosa pelo autor na página 11 do livro: "Ainda tímida. Nua no céu, ao entardecer. A lua – talvez a primeira – trazia a lembrança de teus olhos derramando versos. E assim te amei bem antes da lua cheia. Era luza branca. E entre o verde das folhas da oiticica de meu sertão, a divina luz de teus olhos da mesma cor me aparecia. (…) Assim, quanto te esperava, amada, foram nascendo os meus versos”.

Aos 58 anos, contemporâneo de François Silvestre na Casa do Estudante, Francisco de Sales Felipe era o bibliotecário do lugar na época, encarregado de esconder os livros proibidos pela ditadura Militar. “E o pouco de dinheiro que ganhava vinha gastar aqui pela Ribeira, onde frequentava o antigo Clube Arpege. Isso antes de entrar para o Convento Marista”, recorda o poeta, que passou sete anos estudando para ser Irmão Marista (religioso voltado para o campo da Educação) até ser “convida a se retirar” por reincidir no descumprimento de regras básicas do celibato.

Graduado em Letras e Direito, se aposentou como advogado do Banco do Brasil em 2010. Depois, entre 2011 e 2012, Sales assumiu o cargo de corregedor das Polícias Civil e Militar do RN. Este é seu primeiro livro publicado, e adianta que já tem material para começar a editar um próximo.  

Serviço:
Lançamento de “Versos de Primeira Lua” (Jovens Escribas, R$ 30), de Francisco Sales Felipe, nesta quarta-feira (10), às 18h30, na Livraria Saraiva do Midway.

POEMA

“Luz dos Olhos”

Em cascatas de luz, as ilusões irradiavam o amanhã.
Evocação divina e cromática da beleza dos candelabros
espargindo, no átrio da alma, a cintilação das esmeraldas.

Era a fé do devoto ajoelhado. E o olhar em êxtase: Ave!
Tão cheia de graça! E ali enternecido rendia sua prece,
Silenciosa, ao altar mudo. A mesma mudez do que sentia.

“Minha senhora, faze-me renovado”. Assim, ele rezava.
E, às vezes, a liturgia, perante a santa, louvava a musa.
Talvez seja essa a prece dos amantes na pressa da paixão


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