Sales: “Era
chamado de poeta antes de ter meus versos”
Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte
Há certa
melancolia nas palavras, mas não infelicidade. “Sou um colecionador de
saudades, algo compreensível para um homem com mais de 50 anos”, disse
Francisco de Sales Felipe ao comentar o teor da coleção de poemas impressos em
“Versos de Primeira Lua”, seu livro de estreia, que ele autografa nesta
quarta-feira (10), às 18h30, na livraria Saraiva do Midway Mall. Com o
lançamento, que leva o selo “Bons Costumes” da editora Jovens Escribas, o autor liquida um
compromisso formado há tempos em sala de aula, quando declamava para os alunos
nas aulas de Literatura.
“Era chamado
de poeta antes de ter meus próprios versos”, disse Sales. Apaixonado pela
poesia e decidido a materializar sua escrita, resolveu, em abril de 2013, que
era chegada a hora: “De lá para cá (início deste ano) fiz uns 180 poemas,
muitos inspirados em experiências reais como 'Luz dos Olhos'. Vejo esse
conjunto com quase 100 poesias de natureza lírica como um misto de saudade e
ternura”, analisa. A orelha do livro é assinada pelo professor Honório de
Medeiros e o prefácio é de Ivan Maciel.
Sales dedica
“Versos de Primeira Lua” às pessoas que conheceu e aos lugares por onde andou.
“Sou órfão de mãe desde os 12 anos, e nasci na antiga São Rafael (submersa pela
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no começo dos 1980), então tenho essas duas
grandes saudades na vida”.
A escolha do
título é justificada em prosa pelo autor na página 11 do livro: "Ainda
tímida. Nua no céu, ao entardecer. A lua – talvez a primeira – trazia a
lembrança de teus olhos derramando versos. E assim te amei bem antes da lua
cheia. Era luza branca. E entre o verde das folhas da oiticica de meu sertão, a
divina luz de teus olhos da mesma cor me aparecia. (…) Assim, quanto te
esperava, amada, foram nascendo os meus versos”.
Aos 58 anos,
contemporâneo de François Silvestre na Casa do Estudante, Francisco de Sales
Felipe era o bibliotecário do lugar na época, encarregado de esconder os livros
proibidos pela ditadura Militar. “E o pouco de dinheiro que ganhava vinha
gastar aqui pela Ribeira, onde frequentava o antigo Clube Arpege. Isso antes de
entrar para o Convento Marista”, recorda o poeta, que passou sete anos
estudando para ser Irmão Marista (religioso voltado para o campo da Educação)
até ser “convida a se retirar” por reincidir no descumprimento de regras
básicas do celibato.
Graduado em
Letras e Direito, se aposentou como advogado do Banco do Brasil em 2010.
Depois, entre 2011 e 2012, Sales assumiu o cargo de corregedor das Polícias
Civil e Militar do RN. Este é seu primeiro livro publicado, e adianta que já
tem material para começar a editar um próximo.
Serviço:
Lançamento
de “Versos de Primeira Lua” (Jovens Escribas, R$ 30), de Francisco Sales
Felipe, nesta quarta-feira (10), às 18h30, na Livraria Saraiva do Midway.
POEMA
“Luz
dos Olhos”
Em cascatas
de luz, as ilusões irradiavam o amanhã.
Evocação
divina e cromática da beleza dos candelabros
espargindo,
no átrio da alma, a cintilação das esmeraldas.
Era a fé do
devoto ajoelhado. E o olhar em êxtase: Ave!
Tão cheia de
graça! E ali enternecido rendia sua prece,
Silenciosa,
ao altar mudo. A mesma mudez do que sentia.
“Minha
senhora, faze-me renovado”. Assim, ele rezava.
E, às vezes,
a liturgia, perante a santa, louvava a musa.
Talvez seja
essa a prece dos amantes na pressa da paixão
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