Por: José de Almeida Castro
O telefone
toca. Uma doce e amiga voz me pergunta: quem nasceu primeiro, o rádio ou você?
Estranho a
indagação. Paro, penso um átimo e concluo relatando os fatos. Ali no largo de São Miguel, no início da Rua
da Poeira, bem no comecinho da Baixa dos Sapateiros, em casa soteropolitana,
como de época, a parteira “aliviou” dona
Elzira, em 30 de junho de 1922.
O
apressadinho pimpolho, José, sorria e gritava, mais alto do que o “confuso
barulho” vindo de umas caixinhas de sapato, que o pai Fernando chamava de som.
O Zé não
esperara e já ocupara o seu espaço. Somente menos de três meses depois, no Rio
de Janeiro, na ponta do Calabouço, celebrando o primeiro centenário da
Independência, com a presença do Rei da Bélgica, seu convidado de honra, o
presidente Epitácio Pessoa transmitia, a uma pequena, mas significativa
distância, surpreendente por não usar fios, uma mensagem concluída com os
solenes termos: “Declaro inaugurada a rádio telefonia brasileira”.
Oficialmente
passava a existir o Rádio no Brasil. Roquete Pinto, um médico e pesquisador de
radioeletricidade para fins fisiológicos, convencera a Academia Brasileira de
Ciências a apoiar a ideia de fundar a primeira emissora brasileira, aquela
mesma Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que viria a ser a PRA-2, até hoje
operando.
Mas tinha
que dar tempo ao tempo. O Zé, devidamente batizado na Igreja de Nosso Senhor do
Bonfim, já balbuciara as primeiras palavras, quando a emissora do Rio de
Janeiro, com um transmissor novinho mandou para quase toda a Capital Federal
sua música e suas informações.
Os fados, na
indecifrável magia do etéreo, agiram nos arquétipos de Platão. E o menino
seguiu o que estava escrito: foi viver com o rádio. E assim, de certa forma, está até hoje.
“Se lá no assento etéreo, onde
subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor
ardente,
que já nos olhos meus tão puro
viste”.
(Camões)
(***) José de Almeida Castro
é
jornalista e escritor. Foi presidente da Abert entre 1972-1974 e presidente da Associação Internacional de
Radiodifusão (AIR) por quatro mandatos.
Nasceu em 30 de junho de 1922, mesmo ano da primeira transmissão de rádio no
Brasil.
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