Uma das
histórias mais tristes e patéticas da história da imprensa brasileira está
sendo protagonizada neste momento pela revista semanal "Veja",
carro-chefe da Editora Abril, que já foi
uma das maiores publicações semanais do mundo.
Criada e
comandada nos primeiros dos seus 47 anos de vida, pelo grande jornalista Mino
Carta, hoje ela agoniza nas mãos de dois herdeiros de Victor Civita, que não
são do ramo, e de um banqueiro incompetente, que vão acabar quebrando a
"Veja" e a Editora Abril inteira do alto de sua onipotência, que é do
tamanho de sua incompetência.
Para se ter
uma ideia da política editorial que levou a esta derrocada, vou contar uma
história que ouvi de Eduardo Campos, em 2012, quando ele foi convidado por
Roberto Civita, então dono da Abril, para conhecer a editora.
Os dois
nunca tinham se visto. Ao entrar no monumental gabinete de Civita no prédio
idem da Marginal Pinheiros, Eduardo ficou perplexo com o que ouviu dele.
"Você está vendo estas capas aqui? Esta é a única oposição de verdade que
ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta
gente e vamos até o fim".
É bem
provável que a Abril acabe antes de se realizar a profecia de Roberto Civita. O
certo é que a editora, que já foi a maior e mais importante do país, conseguiu
produzir uma "Veja" muito pior e mais irresponsável depois da morte
dele, o que parecia impossível.
A edição
2.393 da revista, que foi às bancas neste sábado, é uma prova do que estou
dizendo. Sem coragem de dedicar a capa inteira à "bala de prata" que
vinham preparando para acabar com a candidatura de Dilma Rousseff, a uma semana
das eleições presidenciais, os herdeiros Civita, que não têm nome nem história
próprios, e o banqueiro Barbosa, deram no alto apenas uma chamada: "
EXCLUSIVO - O NÚCLEO ATÔMICO DA DELAÇÃO _ Paulo Roberto Costa diz à Polícia
Federal que em 2010 a campanha de Dilma Rousseff pediu dinheiro ao esquema de
corrupção da Petrobras". Parece coisa de boletim de grêmio estudantil.
O pedido
teria sido feito pelo ex-ministro Antonio Palocci, um dos coordenadores da
campanha da então candidata Dilma Rousseff, ao ex-diretor da Petrobras, para
negociar uma ajuda de R$ 2 milhões junto a um doleiro que intermediaria
negócios de empreiteiras fornecedoras da empresa.
A reportagem
não informa se há provas deste pedido e se a verba foi ou não entregue à
campanha de Dilma, mas isso não tem a menor importância para a revista, como se
o ex-todo poderoso ministro de Lula e de Dilma precisasse de intermediários
para pedir contribuições de grandes empresas. Faz tempo que o negócio da
"Veja" não é informar, mas apenas jogar suspeitas contra os líderes e
os governos do PT, os grandes inimigos da família.
E se os
leitores quiserem saber a causa desta bronca, posso contar, porque fui testemunha:
no início do primeiro governo Lula, o presidente resolveu redistribuir verbas
de publicidade, antes apenas reservadas a meia dúzia de famílias da grande
mídia, e a compra de livros didáticos comprados pelo governo federal para
destinar a escolas públicas.
Ambas as
medidas abalaram os cofres da Editora Abril, de tal forma que Roberto Civita
saiu dos seus cuidados de grande homem da imprensa para pedir uma audiência ao
presidente Lula. Por razões que desconheço, o presidente se recusava a
recebê-lo.
Depois do
dono da Abril percorrer os mais altos escalões do poder, em busca de ajuda,
certa vez, quando era Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da
República, encontrei Roberto Civita e outros donos da mídia na ante-sala do
gabinete de Lula, no terceiro andar do Palácio do Planalto."
"Agora
vem até você me encher o saco por causa deste cara?", reagiu o presidente,
quando lhe transmiti o pedido de Civita para um encontro, que acabou
acontecendo, num jantar privado dos dois no Palácio da Alvorada, mesmo contra a
vontade de Lula.
No dia
seguinte, na reunião das nove, o presidente queria me matar, junto com os
outros ministros que tinham lhe feito o mesmo pedido para conversar com Civita.
"Pô, o cara ficou o tempo todo me falando que o Brasil estava melhorando.
Quando perguntei pra ele porque a "Veja" sempre dizia exatamente o
contrário, esculhambando com tudo, ele me falou: `Não sei, presidente, vou ver
com os meninos da redação o que está acontecendo´. É muita cara de pau. Nunca
mais me peçam pra falar com este cara".
A partir
deste momento, como Roberto Civita contou a Eduardo Campos, a Abril passou a
liderar a oposição midiática reunida no Instituto Millenium, que ele ajudou a
criar junto com outros donos da imprensa familiar que controla os meios de
comunicação do país.
Resolvi
escrever este texto, no meio da minha folga de final de semana, sem consultar
ninguém, nem a minha mulher, depois de ler um texto absolutamente asqueroso
publicado na página 38 da revista que recebi neste final de semana, sob o
título "Em busca do templo perdido".
Insatisfeitos
com o trabalho dos seus pistoleiros de aluguel, os herdeiros e o banqueiro da
"Veja" resolveram entregar a encomenda a um pseudônimo nominado
"Agamenon Mendes Pedreira".
Como os
caros leitores sabem, trabalho faz mais de três anos aqui no portal R7 e no
canal de notícias Record News, empresas do grupo Record. Nunca me pediram para
escrever nem me proibiram de escrever nada. Tenho aqui plena autonomia
editorial, garantida em contrato, e respeitada pelos acionistas da empresa.
Escrevi hoje
apenas porque acho que os leitores, internautas e telespectadores, que formam o
eleitorado brasileiro, têm o direito de saber neste momento com quem estão
lidando quando acessam nossos meios de comunicação.
(***) FONTE: Balaio do Koscho / R7
(**) No
blog Balaio do Kotscho, cabe qualquer assunto. Quem manda é o freguês.
Paulista, paulistano e são-paulino, Ricardo Kotscho, 65, é repórter desde 1964.
Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa
brasileira, nas funções de repórter, repórter especial, editor, chefe de
reportagem, colunista, blogueiro e diretor de jornalismo. É atualmente
comentarista do Jornal da Record News e repórter especial da revista
Brasileiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário