Por
Walter Medeiros
Jornalista
- [waltermedeiros@supercabo.com.br]
Ao anoitecer nessa quarta-feira, 03 de
julho de 2013, Natal recebeu com tristeza a notícia da morte do radialista
Ailson Bonifácio, 78 anos, conforme disse uma notícia “um dos mais antigos e conhecidos técnicos em
radiodifusão no Rio Grande do Norte”. Convivi com Ailson Durante o período em
que trabalhei na Rádio Cabugi, mas já o conhecia de muitas outras histórias e
continuei acompanhando sua fascinante trajetória durante todo esse tempo.
Sobre o trabalho de Ailson, posso
dizer muitas coisas, para tentar estabelecer a sua real importância. Quando
Aluízio Alves cruzou o Rio Grande do Norte para ser governador em 1960, lá
estava ele, com seu trabalho de retaguarda garantindo as transmissões da Rádio
Cabugi para os pronunciamentos, as passeatas e os comícios. Assim fez durante
todo esse tempo, colocando no ar a Rádio até sob a escolta dos militares quando
o obrigaram certa vez, de madrugada a colocar a rádio no ar para divulgação de
um comunicado.
Era Ailson quem comandava a parte
técnica quando a Cabugi resolveu modernizar sua programação e colocou no ar a
chamada “Vitrola Mágica”, com a famosa “unidade móvel de frequência modulada”.
Era uma transmissão dentro de um carro, que levava junto um locutor, para
proporcionar a interação com os ouvintes.
Nos carnavais, lá estavam equipes da
rádio nos clubes e nas ruas com microfone na mão e sinal garantido por ele. O
mesmo sinal que fez a Cabugi transmitir, com Celso Martinelli, ABC x Fenebarche
da Turquia e outros jogos. E o povo potiguar o conhecia muito bem, pois seu
nome era festejado e sempre citado durante toda a programação.
O trabalho de Ailson não era fácil nem
menos complicado como hoje, quando os equipamentos são consertados através da
substituição de circuitos inteiros e pronto. Ailson navegava pelos meandros da
eletrônica sabendo o que significava a corrente que seguia pelo filamento das
válvulas, da resistência de tracinhos coloridos, da energia acumulada nos capacitores,
na intensidade dos hertz proporcionada pelo movimento dos condensadores
variáveis. Era algo fascinante vê-lo com um ferro de soldar na mão diante de um
chassi de qualquer equipamento, garantindo a circulação dos ohms, picofaradys,
watts, amperes e volts.
Depois de tudo isto, era uma explosão
de belos, potentes e agradáveis sons, com vozes, músicas e até ruídos, quando
necessários ou incontroláveis. Ailson viveu desde o tempo da galena – aquele
radinho feito no fundo do quintal com uma bobina improvisada e uma quenga de
coco, até a emocionante página da AM 640, que diz na Internet – “Assista ao
vivo”.
Cada potiguar tem alguma boa lembrança
de Ailson Bonifácio. Eu, felizmente, tenho muitas. Além de todas essas citadas,
lembranças das festas do Clubinho TN RC na Churrascaria Dom Pedrito, nos
transmissores e nas viagens inesquecíveis à Lagoa do Bomfim e Tibau.
Daquela sua voz, do seu sorriso e do
seu jeito tão pacífico, que compreendia o ser humano como ninguém. Os problemas
não tiravam sua paciência e para muitos ele era mesmo uma espécie de
conselheiro, amigo, irmão.
Siga em paz, amigo.
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