Por: Itaércio Porpino
Em: Tribuna
do Norte
Regente e
diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte desde junho de
2012, o maestro Linus Lerner já viajou o mundo – dos Estados Unidos a China, do
México a República Tcheca – e com mais de 20 anos de batuta e toda sua bagagem
internacional nunca se viu diante de uma situação tão embaraçosa como a vivida às vésperas da montagem do
espetáculo “Carmina Burana”, que será apresentado no Teatro Riachuelo nesta
sexta-feira (30), reunindo os músicos da OSRN, 11 bailarinos da Companhia de
Dança do Teatro Alberto Maranhão e grupos de canto coral do Estado, além de
cantores do Recife, México e, possivelmente, uma soprano dos Estados Unidos.
Um dia antes
do primeiro ensaio geral do espetáculo, realizado na tarde da última
quarta-feira (28), Lerner foi obrigado por um promotor de Justiça a retirar o
coro infantil da apresentação. O mais surpreendente é que a Promotoria foi
acionada por um músico da própria OSRN. “Ele é evangélico e se recusou a tocar,
dizendo que o espetáculo ‘era coisa do diabo’. Tudo por que tem seminudez em
uma parte da apresentação do balé, como se isso não fosse arte. E ainda
procurou um advogado e conseguiu tirar o coral infantil. O promotor disse que
se tivesse criança aqui, fechava o show”, contou o maestro, com ar de
perplexidade e indignação.
A TRIBUNA DO
NORTE acompanhou o primeiro ensaio geral de “Carmina Burana”, ainda sem
figurinos. Durou pouco mais de duas horas e já não contou com o coro infantil,
que viria de Goianinha, interior do Estado. Por conta de outros compromissos,
alguns bailarinos também não puderam participar, mas o grupo completo (assim
como todos os outros envolvidos) tem ensaiado separadamente e vai estar na
apresentação.
Dos
participantes de fora, somente a soprano Christi Amonson (EUA), com problema de
vista, não pôde estar presente. Caso a americana não tenha como vir, a cantora
lírica e professora de canto Hilkélia Medeiros, que a substituiu no ensaio de
quarta, será a solista. Um coral feminino fará as vozes do coro infantil.
“É uma pena
pelas crianças, que vinham ensaiando e estavam muito empolgadas com a
apresentação”, disse Linus Lerner. Ele conversou com o VIVER assim que terminou
o ensaio e fez questão de escancarar o problema criado pelo músico da OSRN.
O maestro
argumentou que não dá para misturar religião com arte.. “Carmina Burana é uma
obra escrita por monges. Sim, é profana, fala de sexo, mas isso não é natural?
Que eu saiba ninguém aqui nasceu in vitro. É uma hipocrisia muito grande!”,
disse ele. Ainda vale ressaltar que a música é toda cantada em latim e seu
“conteúdo erótico” só é mostrado, implicitamente, através de uma representação artística dos
bailarinos.
Ópera para o Papa
Quando
lembramos ao maestro que em 1991 a OSRN apresentou um trecho de “Carmina
Burana” para o papa João Paulo II em sua visita a Natal, ele comentou: “E é
claro que o papa sabia do que se tratava. Não tem nada demais. Agora, é uma
pena que um músico de uma orquestra sinfônica, que trabalha com arte e é pago
para tocar, misture as coisas desse jeito e faça essa confusão, atrapalhando um
espetáculo tão grande e bonito, que vai ter a participação de três cantores do
México e cinco de Recife mais 1 trompetista, além da solista americana – se ela
puder vir. E todos eles vêm bancando suas passagens”, disse Lerner.
SERVIÇO
Espetáculo
“Carmina Burana”, com a Orquestra Sinfônica do RN, Cia de Dança do TAM, Coral
Canto do Povo, Coral Harmus e Grupo de Ópera Canto Dell'Arte
Direção
artística e regência: Maestro Linus Lerner
Solistas:
Soprano Christi Amonson (EUA) ou Hilkélia (BRA), Tenor Adriano Pinheiro (BRA),
Barítono Wladimyr Carvalho (BRA)
Dia:
sexta-feira (30/05)
Horário: 21h
Local:
Teatro Riachuelo
Classificação:
18 anos
Ingressos:
R$100 (Balcão Nobre), R$120 (Frisa e Plateias) e R$160 (Camarotes)
Informações:
4008 3700
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