Por: Isabela Vieira
Em: Agência Brasil
Incrustada
entre as movimentadas ladeiras de Olinda, em condições que não estão nos
cartões-postais do centro histórico, fica a comunidade de Guadalupe. Lá, a
educadora e percussionista Mãe Beth de Oxum resgata tradições populares e as
utiliza como plataforma de transformação de vidas. Tudo começou há cerca de dez
anos com as rodas de Sambada de Coco de Umbigada, no quintal da casa, com
instrumentos construídos ali mesmo e canções guardadas na memória.
Com o passar
do tempo, a roda de coco, que é realizada no primeiro sábado de cada mês, deu
origem a outros projetos de “libertação e reconhecimento da identidade negra”.
Entre eles, cursos de web designer e edição de vídeos, um cineclube, um
telecentro e uma rádio livre que transmite para toda Olinda. “Não adianta a
gente ter uma mídia que não promove a difusão da diversidade cultural e esconde
a cultura do nosso país, temos que criar nossas rádios e nossas TVs”, defendeu.
Tudo
funciona na casa de Beth ou em frente a sua casa: na rua. Sem apoio governamental,
o antigo ponto de cultura perdeu a sede alugada e se mudou para laje da casa
dela. Mais um andar, com uma deslumbrante vista para Recife, está sendo
construído para abrigar estúdios, computadores, filmes e livros. Boa parte,
sobre a cultura brasileira de origem africana. No sótão, funciona ainda um
terreiro de candomblé, aberto 24 horas, e onde as crianças se divertem com
instrumentos feitos na casa de Beth. É possível até cruzar com couro de bode
secando ao sol, usado para a confecção de instrumentos.
“Precisamos
entender a importância da cultura afro-brasileira na origem da identidade do
nosso povo e na cultura brasileira. Identificando isso, a importância que isso tem,
de onde isso vem, de territórios negros quilombolas, afro-brasileiros, afro-indígenas.
De posse disso, a pessoa percebe que tem um lugar, uma cor e um endereço, dos
morros às periferias”, destacou Beth.
Para ela,
que chega a atender a mais de 200 crianças no contraturno escolar, não há como
esperar que os menores “se reconheçam ou gostem daquilo que não conhecem”.
“Aqui a gente brinca muito de afoxé e de coco. Na comunidade, não existe outra
agenda de esporte e lazer”.
Os vizinhos
já passaram do estranhamento ao pertencimento. Jovens frequentam as aulas, ora
como alunos ora como monitores ou colaboradores dos projetos, como a rádio
livre e o cineclube. As crianças adoram as danças, os instrumentos e os
computadores. Alguns, mais velhos, mesmo de outras religiões, se encontram aos
sábados, na sambada de coco.
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