Por: Bruno Bocchini
Em: Agência
Brasil
Em audiência
na Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo (Alesp), o professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Wagner
da Silva Teixeira, apontou hoje (30) os danos causados pelo golpe de 1964 na
educação brasileira. De acordo com ele, a tomada do poder pelos militares
interrompeu a alfabetização de adultos no país por dois anos, o que só voltaria
a ocorrer em 1966.
O Plano
Nacional de Alfabetização (PNA) do Governo João Goulart estava para ser
implementado, em fase de treinamento de aproximadamente mil monitores. Com o
golpe, o PNA foi cancelado e os mentores passaram a ser perseguidos. Segundo o
professor, o objetivo do governo eleito era alfabetizar, em 1964, 5 milhões de
brasileiros.
“Obviamente
isso assustou setores mais conservadores da sociedade. Qual seria o impacto das
eleições presidenciais de 1965, com mais cinco milhões de eleitores, o que
elevaria o número de eleitores de 12 milhões para 17 milhões?”, indagou
Teixeira à Comissão da Verdade.
Mas não só o
plano de alfabetização foi cancelado. Movimentos sociais que realizavam
programas de alfabetização foram reprimidos, sob a justificativa do regime
então vigente, de que eram subversivos e doutrinavam a população com ideais de
esquerda. Entre os movimentos perseguidos – nos quais o PNA de Jango se apoiou
– estavam o Movimento de Cultura Popular (MCP), encabeçado pelo então
governador de Pernambuco, Miguel Arraes; e a campanha "De pé no chão se
aprende a ler", fruto da ação do prefeito de Natal, Djalma Maranhão.
De acordo
com o pesquisador, no dia do golpe, dois tanques foram colocados no Sítio
Trindade, sede do MCP. O local foi invadido, depredado, o material pedagógico
apreendido como prova de subversão e instaurado um inquérito policial militar.
“Um grande
dano foi esse: a destruição de toda essa experiência riquíssima. Uma segunda
consequência foi a prisão, o exílio de diversos educadores e de lideranças
ligadas aos movimentos. Pessoas que eram comprometidas com a alfabetização de
adultos. A prisão do Paulo Freire é um exemplo, mas há outros que foram
expulsos ou não atuaram mais na alfabetização de adultos”, destacou.
Logo depois
do golpe, o ministro da Educação de Jango, Júlio Furquim Sambaquy, teve os
direitos políticos cassados, e todas as portarias do ministério foram
revogadas, “dizendo que a política de educação do Governo Goulart era
subversiva e não servia ao novo governo”, ressaltou o pesquisador.
Teixeira
destacou que após o golpe, os militares só voltariam a apoiar programas de
alfabetização de adultos em 1966, devido à pressão internacional da Organização
das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco).
“Houve
paralisação completa, por dois anos, de qualquer ação do governo federal no
âmbito da alfabetização de adultos. De 1964 a 1966 o governo federal não fez
nada, tamanha a preocupação de setores conservadores nessa área. Precisou a ONU
e a Unesco chamarem a atenção do governo para que em 1966 passasse a apoiar a
Cruzada ABC de Alfabetização e, em 1967, criasse o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral).
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