Pornografia online vicia, altera seu
jeito de fazer sexo e pode causar impotência.
Por: Taísa Szabatura
Foto: gettyimages.com
Um cara
jovem, bonito, conquistador, que namora a Scarlett Johansson, mas prefere ver
pornografia online. Parece filme, e é: Como Não Perder Essa Mulher estreia em
dezembro. Mas, Scarlett à parte, o enredo não está tão longe da realidade. Com
a banda larga e bundas variadas a alguns cliques de distância, todo mundo já
deu uma espiadinha. O problema é que muitos não querem fazer outra coisa. Cada
vez mais gente abre mão de uma pessoa real para passar horas se masturbando na
frente de uma tela.
O sexo
solitário sempre teve sua graça - um estudo recente da Universidade de
Cambridge concluiu que pornografia é tão viciante quanto drogas. Mas por que só
agora aparecem os viciados? A resposta está na melhor ferramenta já criada na
história da humanidade para estoque, distribuição e consumo de pornografia: a
internet.
Até o
advento da rede mundial de computadores, você precisava ir a uma banca de
jornal para comprar uma revista de mulher pelada. Se havia certo
constrangimento em tirar um filme pornô na locadora, imagine alugar vários.
Hoje, você assiste no celular tudo que tinha na locadora - e muito, mas muito
mais. Tara por animais, anões, amputações, fezes, palhaços. Na rede, os seus
desejos mais íntimos encontram uma via de expressão. E ninguém precisa ficar
sabendo.
DARWINISMO E ONANISMO
A
biologia evolutiva explica por que alguns não conseguem trocar sites pornô por
nada neste mundo. A masturbação surgiu para que o estoque de sêmen fosse renovado,
e assim uma semente mais jovem e competitiva pudesse brigar com a de outros
machos. A pornografia simula e acelera esse processo: seu cérebro acredita que,
a cada novo vídeo, uma fêmea diferente está sendo fecundada. Essa é a razão
pela qual os homens são maioria nesse mundo. É difícil ter uma estatística
exata, mas estima-se que 70% do público dos sites adultos é masculino. As
mulheres ficariam com os 30% restantes - um número que vem crescendo.
O
curioso é que a masturbação não vem de um instinto animal, mas da imaginação
humana. Sabemos disso graças a abnegadas como a antropóloga E.D. Starin, que
passou cinco anos na Gâmbia observando macacos e registrou apenas cinco casos
de masturbação com ejaculação. Detalhe: os machos estavam em contato visual com
outras fêmeas, algumas delas copulando com outros machos - uma versão selvagem
do Xvideos.
Ou seja,
por mais que chimpanzés cocem a virilha no zoológico e constranjam visitas
escolares, o homem ainda é o único animal que se masturba de forma consciente,
para atingir o orgasmo. Jesse Bering, doutor em psicologia e autor do
recém-lançado Devassos por Natureza: Provocações Sobre Sexo e a Condição
Humana, contexto é fundamental. "Da próxima vez que você se sentir no
clima, deite na cama, apague a luz, não pense em nada e não veja nada. Em
seguida tente só com o toque atingir o clímax." Acredite, não é tão fácil.
É a cognição humana que faz com que um adulto se masturbe a cada 72 horas - em
média, com ampla e folclórica variação. O problema é quando a cognição vira
compulsão.
CINCO SENTIDOS CONTRA UM
O estudo
de Cambridge, citado no começo do texto, mostrou que o pornô vicia da mesma
maneira que algumas substâncias, desregulando o cérebro. Quando um vídeo
proporciona prazer, esse prazer leva você a buscar outro vídeo. Cada novo
clique é um estímulo para o centro de recompensa, que se torna dependente dessa
anestesia constante. "A pornografia, como o álcool e as drogas, enfraquece
nossa capacidade de enfrentar certos tipos de sofrimento (...) ela reduz a nossa
capacidade de tolerar nossos dois humores ambíguos e oscilantes: a preocupação
e o tédio", escreve o filósofo Alain de Botton em Como Pensar Mais Sobre
Sexo. Longas maratonas no PornTube podem ser uma fuga de problemas.
Outra
coisa: chega uma hora em que os vídeos corriqueiros não são mais suficientes.
Você não se excita mais vendo o papai-e-mamãe de sempre, nem o mamãe-e-mamãe ou
papai-e-papai. Como nas drogas, você vai desenvolvendo uma tolerância e precisa
de mais para se satisfazer. Logo, logo, o sujeito está indo atrás de coisas
pesadas e ilegais, como cenas reais de estupro e pedofilia. E é aí que muitos
decidem procurar ajuda.
Há algum
tempo, já existem grupos de apoio para usuários compulsivos de pornografia, mas
agora surgem na internet grandes fóruns para discutir o tema e buscar soluções
- nem que seja encontrar disposição para ir ao supermercado ou ao banco. O
maior portal sobre o tema se chama yourbrainonporn.com e lá você encontra de
estudos científicos a depoimentos informais. Gary Wilson, o psiquiatra por trás
da ideia, chegou a dar uma palestra no TED sobre os efeitos da pornografia no
cérebro - cujo vídeo alcançou uma audiência digna de hit pornô, 2 milhões de
acessos. "As pessoas estão começando a questionar se é isso que elas querem
para as suas vidas. Muitas chegam à conclusão de que pornografia demais é um
atraso", diz Wilson. O psiquiatra também atribui à pornografia mudanças de
etiqueta ("nossas avós não faziam sexo oral e anal como se faz hoje")
e estética: "Depilações radicais, cirurgias íntimas e clareamento dos
genitais, antes restritos a atrizes pornô, passaram a fazer parte do
cotidiano".
Mas o
vício em pornografia pode estar trazendo problemas mais graves: disfunção
erétil e dificuldade para ejacular têm complicado a vida de homens cada vez
mais jovens. E há casos de quem não consegue, ou nem faz mais questão, de
conhecer uma pessoa real ou sair de casa. Para a filósofa Márcia Tiburi, isso
acontece porque é mais fácil se relacionar com um avatar: "Uma pessoa
concreta me obriga a tomar posição, a reagir, a interagir. Uma imagem é só um
objeto que se submete à manipulação".
JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS
Quer
dizer que fizemos a Revolução Sexual para ir para casa fazer sexo com nós
mesmos? O futuro é um quarto escuro iluminado pela tela de um tablet
trepidante? Calma. Não há nada de errado com a masturbação, nem com
pornografia, desde que elas não afetem a sua vida (ver teste ao lado).
Aliás,
tirando quem realmente tem um problema sério, o que mais se observa é uma
tentativa do "uso consciente" dos sites adultos. Sabe a tendência que
já se espalhou de dar um tempo nas redes sociais? Pois é, muitos jovens têm
chegado à conclusão que, assim como o uso exagerado do Facebook e Twitter, a
pornografia está tirando um tempo precioso de suas vidas. Passar a noite de
vídeo em vídeo pode ser prazeroso no curto prazo, mas vale a exaustão do dia
seguinte? "Do modo como é hoje, a pornografia pede que deixemos para trás
nossa ética, nosso senso estético e nossa inteligência", constata Alain de
Botton. Vem daí aquela sensação de repugnância e derrota quando a euforia chega
ao fim. Mas não precisa jogar o computador fora, abandonar tudo e ir morar numa
montanha. Assim como com outras tentações, você precisa estar consciente do
risco que corre e simplesmente apreciar com moderação. "Acho que essa
reflexão acerca do nosso comportamento é mais enriquecedora que o resultado de
qualquer estudo", diz Wilson.
O certo
é que a pornografia nunca vai acabar. Ela é fundamental na vida sexual de quem
menos se imagina. No livro Bunny Tales - Behind Closed Doors at the Playboy
Mansion ("Contos da Coelhinha - Atrás de Portas Fechadas na Mansão da
Playboy", sem edição brasileira), a modelo Izabella St. James conta como
foi ser parte do harém do fundador da Playboy. Aos 78 anos, Hugh Hefner ainda
realizava orgias todas as quartas e sextas. E, na hora de finalizar, dispensava
as namoradas: gozava assistindo vídeos.
CURIOSIDADES
A
internet é pornô
30% de
tudo que circula na rede é pornografia
12 min é
o tempo médio que uma pessoa passa num site de pornografia
Entre os
usuários de sites pornô 70% são homens / 30% mulheres
O portal
pornô Xvideos tem o triplo de acessos que o site da CNN.
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