Quase 70% dos estudantes brasileiros concluem o 3º ano do ensino
fundamental sem dominar competências básicas de escrita e matemática. Mais da
metade não sabe ler no nível adequado a um aluno dessa etapa escolar. O alarme
foi dado nesta terça-feira pela organização não-governamental Todos Pela
Educação, que analisou os resultados da Prova ABC — avaliação aplicada no final
de 2012 a 54.000 alunos do 2º e 3º anos de 1.185 escolas públicas e privadas de
todos os estados brasileiros.
O estudo é mais uma confirmação de que o ensino vai mal no Brasil. Além
disso, comprova que o país está muito longe de atingir as metas estipuladas
pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Lançado em julho
2012 pelo governo federal, o Pnaic é um compromisso entre estados, municípios e
União que tem como objetivo garantir que toda criança esteja plenamente
alfabetizada até os 8 anos de idade.
A situação da escrita não é mais favorável do que as de matemática e
leitura. Em nenhum estado a parcela de estudantes que dominam a competência é
superior a 50%. Longe disso: no Pará, por exemplo, somente 11,6% dos estudantes
atendem aos quesitos da avaliação. "Uma criança alfabetizada não é aquela
que está aprendendo a ler, mas aquela que demonstra capacidade de ler para aprender.
Ou seja, possui as habilidades básicas para continuar avançando no conteúdo
escolar", afirma Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
Em matemática, tradicional bicho-papão dos estudantes brasileiros, só
33,3% dos alunos do 3º ano atingiram o nível de conhecimento esperado: 175 dos
250 pontos possíveis. Segundo avaliação da prova — e do governo, portanto —,
quem não atingiu a marca de proficiência (175 pontos) não consegue resolver
problemas envolvendo moedas ou unidades padronizadas, como litros ou quilos,
tampouco ler horas em um relógio digital, associando 20h com 8h da noite, por
exemplo.
O levantamento mostra que há regiões do país onde a situação do ensino é
ruim, e outras onde é péssima. As regiões Sul e Sudeste são as únicas em que
mais da metade das crianças, ao término do 3º ano, possui proficiência em
leitura. No Norte, o porcentual é de 27,3% (confira no mapa). Proficiência, na
definição da própria Prova ABC, significa capacidade de localizar informações
explícitas em um texto e de identificar temas e características de personagens
em fábulas e histórias em quadrinhos, entre outras habilidades.
Há grande discrepância também entre estados. Enquanto em São Paulo as
crianças com proficiência em leitura somam 60%, no Amapá e no Pará, elas
representam menos de um quarto do total de alunos. O mesmo cenário se repete
quando analisadas as demais habilidades: em Minas Gerais, 49,3% dos alunos do
3º ano aprenderam o esperado em matemática, contra 9,7% no Amazonas. Já no item
escrita, a discrepância maior de aprendizado é verificada entre Goiás (42,1%) e
Pará (11,6%). "Isso mostra que a desigualdade educacional no país começa
já no início da vida escolar do aluno. É algo gravíssimo", afirma Priscila
Cruz. "O Brasil não pode tratar como iguais regiões e estados tão
diferentes. É preciso intervir para garantir que essas crianças tenham direito
à aprender".
PROVA ABC – Parceria entre o
movimento Todos Pela Educação, a Fundação Cesgranrio, o Ibope e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Prova
ABC foi aplicada pela primeira vez em 2011 (confira aqui os resultados). Os
dados daquele ano, no entanto, não são comparáveis aos divulgados agora. Isso
porque, naquela ocasião, a prova foi realizada por alunos do primeiro semestre
do 4º ano — na presente edição, os estudantes cursavam o quarto semestre do 3º
ano.
A prova ABC é composta por cinquenta questões de matemática e cinquenta
de leitura, divididas em blocos de dez. Cada aluno respondeu a vinte itens de
uma das duas áreas e todos realizaram a redação.
Essa foi a última edição do exame. Em razão da criação do Pnaic, o
Ministério da Educação (MEC) anunciou que usará um instrumento próprio de
verificação do aprendizado dos alunos, a Avaliação Nacional de Alfabetização
(Ana). A expectativa é que a Ana seja aplicada neste ano a todos os concluintes
do 3º ano do ensino fundamental na rede pública de ensino.
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