Uma revolução invisível aos holofotes
ganha corpo desde 2008 com o surgimento dos Pontos de Cultura, iniciativa de
conceito simples inserida no Programa Mais Cultura do MinC que financia por
três anos ações culturais já em curso. Independente dos problemas com prestação
de contas e atrasos no repasse de verbas, os Pontos deram fôlego novo e de
maneira capilarizada conseguiu movimentar toda uma cadeia produtiva que aos
poucos alinhava o conceito de economia criativa. No Rio Grande do Norte são 43
Pontos em plena atividade espalhados em 25 municípios, cada qual a sua maneira,
e todos os anos uma cidade é escolhida para receber um encontro nacional dos
‘ponteiros’, Teia, ponto alto do Programa.
A quinta edição do evento, que reunirá
durante cinco dias cerca de 5 mil pessoas de todo o Brasil no primeiro semestre
de 2014, será realizada em Natal. A confirmação foi anunciada nesta
segunda-feira (24), após reunião entre Dácio Galvão, presidente da Fundação
Capitania das Artes, e Pedro Vasconcellos, diretor de Cidadania e Diversidade
Cultural da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da
Cultura. Na ocasião, ficou acertado apoio da Prefeitura.
“A Teia tem dois momentos”, informou o
fotógrafo potiguar Teotônio Roque, do Ponto de Cultura Lumiar, “um político e
outro de celebração. O primeiro momento abrange um fórum onde são discutidas
diretrizes e apontamentos para formatação de políticas públicas; já no segundo
temos o congraçamento com shows e exposições”, adiantou Roque, que faz parte da
coordenação nacional e é o representante dos Pontos de Cultura para a região
Nordeste. Ele destaca que há pouco mais de um ano tramita projeto de lei no
Congresso Nacional tornando o Programa Mais Cultura uma política de Estado.
“Contamos com uma mobilização nacional muito forte e nossa expectativa é que
até dezembro essa lei esteja sancionada”.
O formato dos Pontos de Cultura virou,
inclusive, produto de exportação, e hoje vários países da América Latina
criaram programas semelhantes como Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina,
Venezuela, Uruguai e Chile.
Clênia Luna, responsável pelo convênio
entre o MinC e a Fundação José Augusto dos Pontos de Cultura, acredita que a
Teia deva acontecer no mês de abril do próximo ano. “Antes, porém, teremos a
Teia estadual em setembro aqui em Natal”, adiantou. Clênia destacou que o Plano
Estadual de Cultura prevê a ampliação da rede de Pontos para 100 cidades do RN,
ou 150% a mais do que existe hoje. Ela lembrou que em 2012 os repasses foram
normalizados e que a prestação de contas da segunda parcela inicia agora em
julho. “Tem gente se habilitando para receber a última parcela”, garante.
PONTOS DA TEIA NATALENSE
O Rio Grande do Norte possui 43 pontos
de cultura, sendo 25 em Natal. As realidades são diferentes: enquanto alguns
estão em estágio avançado, outros ainda não definiram o caminho
“Cinema para todos”, Instituto Técnico de
Estudos Cinematográficos – ITEC
O Ponto promove vivências cinematográficas
com estudantes de cidades do interior do RN. São 15 dias de atividades como
oficinas de roteiro, aulas sobre fotografia e operação de câmera que culminam
com a produção de um curta. Na primeira fase o “Cinema para todos” passou por
Assu, Lajes e São Gonçalo do Amarante, e para esta segunda etapa estão
acertadas oficinas em Macaíba, Extremoz, Touros e um quarto município ainda não
definido”. “Levamos cinema para lugares
que dificilmente chegaríamos sem apoio, pois antes as aulas eram pagas pelos
próprios alunos”, disse Carlos Tourinho, diretor de fotografia.
Ponto “Rebuliço”, Grupo Facetas, Mutretas e
Outras Histórias
Oferece oficinas gratuitas de dança
contemporânea, teatro e música; realiza mostras coletivas para apresentar o
resultado das oficinas e sessões do cineclube Boi de Prata. Atuação no Conjunto
Pirangi. “Na primeira fase adquirimos computadores, equipamentos de áudio e
vídeo, e neste momento estamos promovendo as oficinas previstas na segunda
etapa do projeto. Vejo a Teia como o maior evento do Brasil em termos de
diversidade cultural. É um encontro também político, que em 2014 terá um
configuração diferente, mais abrangente, ao incluir outros movimentos
socioculturais ”, disse Rodrigo Bico, ator.
“Boi Vivo”, São Gonçalo do Amarante
O Ponto “Boi Vivo” figura entre os que
ainda não receberam a segunda parcela de R$ 60 mil por falta de documentação. A
proposta é valorizar mestres e grupos populares, fortalecer suas atuações a
partir de intercâmbio e incentivos. Atuação em São Gonçalo do Amarante com o
Boi Calemba Pintadinho; em Parnamirim com o Boi Chuvisco Pintadinho; e em São
José de Mipibu com o mestre rabequeiro Damião (gravação de um CD). “Tivemos um
problema de ordem burocrática, mas as ações continuam em curso. Firmamos
parceria com outro Ponto de Parnamirim, o ‘Ileaô’, e com a prefeitura de lá
para retomarmos as atividades do Boi. Espero que até a Teia o RN possa se
planejar para mostrar a diversidade cultural que há por aqui”, conta Lenilton
Lima, fotógrafo.
“Fotografia e Identidade”, Galeria Zoon de
Fotografia
Realizou oficinas de fotografia em
nove municípios, entre eles Macaíba, Natal, São José de Mipibu, Angicos e
Mossoró. Os trabalhos viraram exposição e cartão postal. “Fomos selecionados
entre os 100 Pontos da primeira remessa, vinculados exclusivamente ao MinC, e
acompanhamos todo esse processo de construção do programa Cultura Viva. Já
cumprimos todas ações enquanto Ponto de Cultura, e agora trabalhamos em outra
proposta contemplada pelo Prêmio ASA (R$ 80 mil): a Galeria Zoon Móvel. Com
essa verba compramos um contêiner e equipamentos para montar uma galeria
fotográfica com previsão de lançamento para agosto. Buscamos parcerias para
viabilizar a itinerância do projeto”, detalha Henrique José, fotógrafo
“Tecido Cultural”, Cenarte-Centro de Estudo,
Pesquisas e Ação Cultural
O objetivo do Ponto de Cultura “Tecido
Cultural” é difuso: busca introduzir conceitos de direito e cidadania dentro de
questões artísticas e culturais. A forma para promover esse intercâmbio não
está consolidada e o projeto promove oficinas multimídia e publica
informativos. “Percebemos que havia espaço para discutir direitos culturais
enquanto cidadania, a partir de uma perspectiva mais ampla. Esses dois anos de
atraso nos repasses deram uma esfriada nas atividades e considero este momento
como de retomada. Os Pontos de Cultura são laboratórios”, disse Roberto Monte, coordenador.
“Giratório”, Grupo Gira Dança
O Gira Dança fracionou as ações em
três módulos, e com isso não houve problemas de continuidade devido os atrasos
de repasses das verbas. Na primeira fase o grupo desenvolveu trabalhos de dança
com deficientes em instituições; no momento movimenta a sede na Ribeira com
oficinas (pagas e gratuitas) de dança contemporânea e o próximo passo será
circular com espetáculos por outras cidades do RN e em outros Pontos de
Cultura.
“Acredito que a vinda da Teia dará
maior visibilidade nacional à produção artística aqui do RN. Vamos mostrar
nossa cara para outros Pontos e buscar o fortalecimento da rede estadual – os
Pontos precisam interagir mais”, disse Anderson Leão, diretor artístico.
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