Companheiros
o texto publicado por Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor da UERJ é um
pouco longo, mas vale a pena ler e meditar sobre essa história que vem de Gana,
um pequeno país da África Ocidental nos inícios deste século, quando se davam
os embates pela descolonização. Oxalá nos faça pensar sempre a respeito.
"Era
uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de
mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.
Colocou-o no
galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.
Depois de
quatro anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto
passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse
pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato,
disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia.
É uma galinha como as outras.
- Não,
retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um
dia voar às alturas.
- Não,
insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então
decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e,
desafiando-a, disse:
- Já que
você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra
suas asas e voe!
A águia
ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao
redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe
disse, ela virou uma simples galinha!
- Não,
tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma
águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia
seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
- Águia, já
que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando
a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto
delas.
O camponês
sorriu e voltou a carga:
- Eu havia
lhe dito, ela virou galinha!
- Não,
respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de
águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia
seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia,
levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os
picos das montanhas.
O
naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já
que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas
e voe!
A águia
olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então,
o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus
olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando
ela abriu suas potentes asas.
Ergueu-se,
soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez
mais para o alto. Voou. E nunca mais retornou."
Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. E ainda até
pensamos que somos efetivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as
asas e voar. Voar como as águias. E jamais se contentar com os grãos que jogam
aos pés para ciscar.”
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