sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ESQUINA ESTRATÉGICA DO MUNDO


Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte

Natal teve um papel importante no desenvolvimento da aviação civil mundial entre os anos 1920 e 40, para logo em seguida servir de base aérea para os Aliados durante a Segunda Guerra. Nada disso é novidade, mas, na prática, pouco se sabe sobre o assunto. Além do interesse histórico há o potencial turístico, ‘detalhes’ pouco ou nada valorizados ao longo de mais de oito décadas. A solução encontrada para reverter esse quadro de descaso e salvaguardar o que resta de memória está às margens do rio Potengi, em uma área de 23 mil metros quadrados, onde será erguido o Centro Cultural da Rampa. A obra, orçada em R$ 7,6 milhões e tocada com recursos do Ministério do Turismo, está em andamento no bairro das Rocas.

A meta da Secretaria Estadual de Turismo (Setur) é que Museu da Rampa e Memorial do Aviador, equipamentos previstos no projeto do centro cultural, possam receber os primeiros visitantes antes da Copa de 2014, mas algumas arestas precisam ser aparadas para que tudo saia nos conformes. A formatação museográfica, o modelo de gestão e o próprio acervo que irá rechear museu e memorial serão cruciais para o êxito do projeto. “Até o final do ano temos que estar com tudo isso definido”, disse o secretário Estadual de Turismo Renato Fernandes em entrevista ao VIVER. Fernandes adiantou que dentro em breve “as coisas deverão correr paralelas” para tudo se encaixar até maio do ano que vem. “Não faz sentido a estrutura ficar pronta sem acervo”, admitiu.

Ontem pela manhã ele participou de uma reunião com representantes da Codern, da colônia de pescadores das Rocas, das secretarias de Infraestrutura e de Agricultura, e da construtora Ramalho Moreira, empresa responsável pelos serviços, para negociar o remanejamento de pescadores do Canto do Mangue que utilizavam a área (há décadas) para movimentação de barcos. “Como a obra está de vento em popa, trabalhamos para que nada atrase o cronograma que já foi antecipado. Vamos encontrar um local para todo mundo e dar celeridade a construção do Centro Cultural Rampa”, tranquiliza Renato.

O secretário ressaltou a necessidade de se valorizar a história de olho nas possibilidade turísticas. “Grande parte dos turistas que visitam o RN vêm da Europa, e com a Rampa podemos ressaltar esse contexto da 2ª Guerra Mundial Segunda e atrair visitantes dos Estados Unidos”, aposta Renato Fernandes.

MODELO DE GESTÃO

Garantir espaço aos pescadores das Rocas é apenas uma das questões que o titular da pasta de Turismo terá de resolver, e rápido, para os planos não tropeçarem. O modelo de gestão ainda não foi definido e uma recente declaração de Fernandes durante entrevista na televisão, no início de agosto, trouxe certo desconforto para pesquisadores da Fundação Rampa – há uma década a entidade reúne acervo e estuda o tema, e desde 2011 é dada como certa na comissão que será formada para administrar o espaço.

Ele disse, na ocasião, que o Governo do RN pretende repassar a gestão do Centro Cultural da Rampa à iniciativa privada como forma de garantir a viabilidade econômica do espaço. “O Estado não tem interesse em assumir a gestão. Está em estudo o modelo da terceirização, que pode ser feita através de licitação, comodato, concessão. É necessário termos profissionais especializados que entendam de turismo e museologia na administração. Inclusive a Fundação Rampa poderá entrar na concorrência”, destacou.

Já para a diretoria da Fundação Rampa, vista pela Setur como parceira, dependendo do formato adotado, a participação da instituição poderá ser diminuída – vale registrar que inicialmente o projeto previa gestão compartilhada entre Fundação Rampa, UFRN e Fundação José Augusto.

CURADORIA COMPARTILHADA

Fred Nicolau, pesquisador da Fundação Rampa, informou que o diálogo com a Setur está parado. “Em abril estávamos de braços dados, mas desde o início das obras não fizeram mais contato. Não fomos nem convidados para a solenidade de assinatura da ordem de serviço para construção do centro cultural, no início do mês de junho, com presença da presidenta Dilma (Rousseff) e do ministro do Turismo (Gastão Vieira). Fui lá por conta”, reclamou Fred.

Para o pesquisador, há uma diferença “grande” entre ter o acervo e saber o que fazer com ele. “Falei que temos acervo e sabemos contar essa história”, adiantou Nicolau. Para Fred, o ideal seria a empresa que ficar à frente da gestão contratar a Fundação Rampa para uma consultoria ou mesmo assessorar a montagem da exposição. “Mas se chegarem pedindo ‘me dá esse acervo que vamos fazer do nosso jeito’ eu estou fora, eu e as coisas que juntei nesses dez anos. Acredito que o Augusto (Maranhão, que também tem acervo do período) tem a mesma opinião, já conversamos sobre isso”, garante.

Nicolau informa que a maior parte do acervo sobre o período da 2ª Guerra Mundial em Natal está nas mãos de particulares. “Não adianta ser a melhor empresa na gestão de museus do mundo se não souberem o que fazer com o material. Não somos nem queremos ser o dono da Rampa, também não queremos gerir o espaço. Não temos dinheiro para investir ou mesmo escopo para assumir um equipamento de turismo”, esclareceu. “Mas são dez anos de trabalho, não vou dar tudo de graça, não abro mão de participar da curadoria do museu”, sentencia o pesquisador.


Fred Nicolau acredita que o diálogo entre Setur e Fundação Rampa é crucial para planejar as exposições permanentes e temporárias previstas para o Museu do centro cultural.

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