Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte
Natal teve
um papel importante no desenvolvimento da aviação civil mundial entre os anos
1920 e 40, para logo em seguida servir de base aérea para os Aliados durante a
Segunda Guerra. Nada disso é novidade, mas, na prática, pouco se sabe sobre o
assunto. Além do interesse histórico há o potencial turístico, ‘detalhes’ pouco
ou nada valorizados ao longo de mais de oito décadas. A solução encontrada para
reverter esse quadro de descaso e salvaguardar o que resta de memória está às
margens do rio Potengi, em uma área de 23 mil metros quadrados, onde será
erguido o Centro Cultural da Rampa. A obra, orçada em R$ 7,6 milhões e tocada
com recursos do Ministério do Turismo, está em andamento no bairro das Rocas.
A meta da
Secretaria Estadual de Turismo (Setur) é que Museu da Rampa e Memorial do
Aviador, equipamentos previstos no projeto do centro cultural, possam receber
os primeiros visitantes antes da Copa de 2014, mas algumas arestas precisam ser
aparadas para que tudo saia nos conformes. A formatação museográfica, o modelo
de gestão e o próprio acervo que irá rechear museu e memorial serão cruciais
para o êxito do projeto. “Até o final do ano temos que estar com tudo isso
definido”, disse o secretário Estadual de Turismo Renato Fernandes em
entrevista ao VIVER. Fernandes adiantou que dentro em breve “as coisas deverão
correr paralelas” para tudo se encaixar até maio do ano que vem. “Não faz
sentido a estrutura ficar pronta sem acervo”, admitiu.
Ontem pela
manhã ele participou de uma reunião com representantes da Codern, da colônia de
pescadores das Rocas, das secretarias de Infraestrutura e de Agricultura, e da
construtora Ramalho Moreira, empresa responsável pelos serviços, para negociar
o remanejamento de pescadores do Canto do Mangue que utilizavam a área (há décadas)
para movimentação de barcos. “Como a obra está de vento em popa, trabalhamos
para que nada atrase o cronograma que já foi antecipado. Vamos encontrar um
local para todo mundo e dar celeridade a construção do Centro Cultural Rampa”,
tranquiliza Renato.
O secretário
ressaltou a necessidade de se valorizar a história de olho nas possibilidade
turísticas. “Grande parte dos turistas que visitam o RN vêm da Europa, e com a
Rampa podemos ressaltar esse contexto da 2ª Guerra Mundial Segunda e atrair
visitantes dos Estados Unidos”, aposta Renato Fernandes.
MODELO DE GESTÃO
Garantir
espaço aos pescadores das Rocas é apenas uma das questões que o titular da
pasta de Turismo terá de resolver, e rápido, para os planos não tropeçarem. O
modelo de gestão ainda não foi definido e uma recente declaração de Fernandes
durante entrevista na televisão, no início de agosto, trouxe certo desconforto
para pesquisadores da Fundação Rampa – há uma década a entidade reúne acervo e
estuda o tema, e desde 2011 é dada como certa na comissão que será formada para
administrar o espaço.
Ele disse,
na ocasião, que o Governo do RN pretende repassar a gestão do Centro Cultural
da Rampa à iniciativa privada como forma de garantir a viabilidade econômica do
espaço. “O Estado não tem interesse em assumir a gestão. Está em estudo o
modelo da terceirização, que pode ser feita através de licitação, comodato,
concessão. É necessário termos profissionais especializados que entendam de
turismo e museologia na administração. Inclusive a Fundação Rampa poderá entrar
na concorrência”, destacou.
Já para a
diretoria da Fundação Rampa, vista pela Setur como parceira, dependendo do
formato adotado, a participação da instituição poderá ser diminuída – vale
registrar que inicialmente o projeto previa gestão compartilhada entre Fundação
Rampa, UFRN e Fundação José Augusto.
CURADORIA COMPARTILHADA
Fred
Nicolau, pesquisador da Fundação Rampa, informou que o diálogo com a Setur está
parado. “Em abril estávamos de braços dados, mas desde o início das obras não
fizeram mais contato. Não fomos nem convidados para a solenidade de assinatura
da ordem de serviço para construção do centro cultural, no início do mês de
junho, com presença da presidenta Dilma (Rousseff) e do ministro do Turismo
(Gastão Vieira). Fui lá por conta”, reclamou Fred.
Para o
pesquisador, há uma diferença “grande” entre ter o acervo e saber o que fazer
com ele. “Falei que temos acervo e sabemos contar essa história”, adiantou
Nicolau. Para Fred, o ideal seria a empresa que ficar à frente da gestão
contratar a Fundação Rampa para uma consultoria ou mesmo assessorar a montagem
da exposição. “Mas se chegarem pedindo ‘me dá esse acervo que vamos fazer do
nosso jeito’ eu estou fora, eu e as coisas que juntei nesses dez anos. Acredito
que o Augusto (Maranhão, que também tem acervo do período) tem a mesma opinião,
já conversamos sobre isso”, garante.
Nicolau
informa que a maior parte do acervo sobre o período da 2ª Guerra Mundial em
Natal está nas mãos de particulares. “Não adianta ser a melhor empresa na
gestão de museus do mundo se não souberem o que fazer com o material. Não somos
nem queremos ser o dono da Rampa, também não queremos gerir o espaço. Não temos
dinheiro para investir ou mesmo escopo para assumir um equipamento de turismo”,
esclareceu. “Mas são dez anos de trabalho, não vou dar tudo de graça, não abro
mão de participar da curadoria do museu”, sentencia o pesquisador.
Fred Nicolau
acredita que o diálogo entre Setur e Fundação Rampa é crucial para planejar as
exposições permanentes e temporárias previstas para o Museu do centro cultural.
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