Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte
O criador do Fora do Eixo, Pablo Capilé, deu
depoimento por telefone
durante o encontro local da Rede
Um debate
acalorado eclodiu no início de agosto e colocou na berlinda a rede Fora do
Eixo, um agrupamento de coletivos culturais espalhados pelo Brasil que atuam de
forma articulada desde 2005. O estopim para a enxurrada de críticas e denúncias
contrárias ao modo de operação do FDE foi a entrevista do jornalista Bruno
Torturra e do produtor cultural Pablo Capilé sobre o Mídia Ninja, concedida dia
5 ao programa Roda Viva (TV Cultura) – os ninjas são uma espécie de braço
midiático do Fora do Eixo, que ficou conhecido por transmitir em tempo real os
principais protestos que sacudiram o país este ano.
Para evitar
generalização, a ‘filial’ natalense do Fora do Eixo promoveu um encontro na
noite dessa terça-feira, na Casa da Ribeira, onde seus membros trataram de se
posicionar publicamente frente ao bombardeio de desabafos e acusações
levantadas por artistas, produtores e jornalistas culturais, ativistas de
esquerda e ex-integrantes da rede.
O Fora do
Eixo Natal surgiu em 2011, apesar dos conceitos defendidos pela rede de
coletivos circularem no RN há mais tempo. Durante a reunião transmitida ao vivo
pela internet, os potiguares admitiram utilizar a plataforma de contatos e
rotinas criadas pelo FDE, embasada no trabalho colaborativo, na economia
solidária e na cultura digital, mas afirmou agir com independência.
“Participamos de uma rede heterogênea. Os coletivos atuam de maneira diferente
em cada lugar dentro da realidade local”, disse a produtora cultural Nathalia
Santana, 24, integrante do FDE Natal.
Encontro na Casa da Ribeira marcou posição
pública do FDE Natal
Rodolfo
Holanda, 18, também membro do coletivo em Natal, acrescenta que “muitos processos
disseminados são lindos e perfeitos na teoria, mas que na prática nem sempre
funcionam. Temos que trazer a rede para nossa realidade”, reforçou.
O bate-papo
na Casa da Ribeira durou cerca de três horas e reuniu o cineasta Buca Dantas; o
poeta elétrico Carito Cavalcanti; Vera Santana, gestora do Conexão Felipe
Camarão; e Xavier, simpatizante venezuelano do coletivo. Além de Nathalia e
Rodolfo, a jornalista Renata Marques, 28, e a designer Vanessa Christalina, 19,
representaram o FDE Natal – esta última não participou do encontro.
Vera Santana
disse que a experiência do Conexão Felipe Camarão teve uma boa experiência com
o FDE, e Buca reafirmou interesse em trabalhar com a rede. “Encontrei respostas
que ainda não tinha”, disse o cineasta.
De concreto,
o posicionamento local é de manter independência em relação a ‘matriz’ e não
compactuar com grande parte do modus operandi do Fora do Eixo nacional, como a
rotina de “curtir” e “compartilhar” tudo o que é publicado pela cúpula da rede.
ANÁLISE
Casa Fora do Eixo em São Paulo funciona como sede nacional
O professor
e pesquisador André Azevedo da Fonseca, do Centro de Educação, Comunicação e
Artes (CECA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), publicou artigo –
“Fora do eixo: raízes do ressentimento” – onde verifica alguns motivos que
podem explicar a avalanche de críticas e denúncias. Ele escreve que o Fora do
Eixo nunca soube lidar com críticas, e que qualquer crítica razoável é logo
confundida com um ataque agressivo. “Os críticos individuais, dentro e fora da
rede, são sempre sistematicamente combatidos, desqualificados e ridicularizados
nas redes sociais ou nos inúmeros debates que participam”, destacou. “O que
acarretou a intimidação e o consequente silenciamento de quem não estavam
dispostos à execração pública”.
PRINCIPAIS CRÍTICAS
Modelos
adotados pelo Fora do Eixo exploram artistas em favor do fortalecimento da
marca da rede;
Inflacionar
a própria importância a partir da usurpação de trabalhos de terceiros;
Exploração
capitalista disfarçada de discurso ativista;
Práticas de
assédio moral sofridas descritas por ex-integrantes.
Pendências
financeiras com fornecedores e artistas.
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