Por: Ricardo Feltrin
O apetite de
Valdemiro Santiago por dinheiro parece ser insaciável. O autointitulado
"apóstolo" e líder da Igreja Mundial acaba de lançar mais um
"carnê-desafio" destinado a arrecadar uma fortuna. Ele quer que 50
mil fiéis de sua igreja se mobilizem e se voluntariem a doar R$ 300, cada um,
para a igreja. E essa doação tem de ser feita até o próximo dia 30. Segundo o
pastor, o dinheiro será usado para pagar horários de TV que ele compra na TV
aberta e os canais por assinatura que ele mantém.
"Também
tem aluguéis das igrejas", brada Santiago em pregação exibida pela TV
Ideal (ex-MTV). O religioso também subiu o tom de seu discurso, quase que
menosprezando fiéis que não teriam como colaborar. "Eu prego só para quem
acredita, quem não acredita que fique de fora, não me importo."
Depois,
tentou se desculpar pelo tom mais agressivo. "Desculpem estar azedo, mas
tenho muitas responsabilidades."
A Igreja
Mundial enfrenta grave crise financeira há quase dois anos, desde que uma longa
reportagem exibida no "Domingo Espetacular" denunciou Santiago por
apropriação de doações da igreja em benefício próprio, para compra de fazendas,
gado e outros imóveis e propriedades.
Investigado
pelo Ministério Público (e possivelmente pela Receita Federal), acabou tendo de
vender muitos bens, inclusive a suntuosa fazenda e o gado que apareceram na
reportagem da Record. A denúncia causou ainda um êxodo de fiéis assustados com
a denúncia, mas outro tanto acreditou no discurso do pastor: era tudo intriga e
perseguição da Igreja Universal (de Edir Macedo, dono da Record).
Macedo
literalmente acabou por tirar Santiago quase que completamente da TV aberta,
comprando quase todos os horários de outras emissoras que eram vendidos para a
Mundial.
Entre outras
TVs, a Universal conseguiu tirar o canal 21 da Mundial, que o havia alugado da
Band. O motivo da rescisão de contrato da Band foi justamente devido a atrasos
constantes no pagamento do aluguel. A Universal também passou a ocupar as
madrugadas da Band no lugar da Mundial.
Graças à
fiscalização tacanha e quase inexistente e a uma legislação arcaica, nebulosa e
jamais obedecida, a compra de horários de TVs por igrejas e demais programas de
televendas (os chamados caça-níqueis)
não é fiscalizada e nem sequer disciplinada pelo Ministério da
Comunicação ou Anatel -- órgãos que pouco ou nada fazem para coibir que muitos
vendilhões ocupem horários de TVs.
(***) RICARDO FELTRIN: Ricardo Feltrin, 50, é colunista
do UOL, onde apresenta o programa Ooops! As segundas e também colunista do F5,
site de entretenimento da Folha. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como repórter,
editor e secretário de Redação, entre outros.
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